Capítulo 07

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  Chegamos ao cinema e o filme que estava em cartaz, no qual Cristal queria ver, não era nada menos nada mais que um desenho animado.
  — Está a brincar comigo? Não está? — a garota sorriu — sério!
  — Há vamos Harry! Toy Story não é tão ruim! — olho Cris que está totalmente com um ar brincalhão.
  — Tenho cara de assistir desenhos? — estou incrédulo.
  — Seus filmes preferidos são comédias românticas quando deveria ser terror ou ação. Quebra essa vai? — rolo meus olhos e passo meu braço por cima de seus ombros.
  — Besteiras ou pipoca com manteiga? — digo a loira.

  Depois do filme com Cristal, comíamos lanches enquanto ela não para de falar da animação, confesso que seu jeito desajeitado de falar e a felicidade que transmite no sorriso e no olhar, me deixa feliz não quero estragar isso com pensamentos pessimistas.
  — Agora o que gostaria de fazer? Eu adoraria ir a um show — fico confuso e a mesma tira dois ingressos do bolso. — Hoje terá uma pequena apresentação de um grupo novo de jazz. Sei que não é lá aquele show do Kiss ou John Mayer. Mas sabemos nós dois que você curte no fundo no fundo, instrumentos — come uma batata.
  — Você se aproveita disso — pego os ingressos vendo que daqui a pouco, cerca de uma hora começaria — se não quer perder sua vaga no banco, é melhor correr — seguro sua bolsa e a mesma desajeitada segura a caixa de batatas vindo atrás de mim. — Meu Deus parece que está morta de fome.
  — Estou — sorri.
  — Realmente você parece uma criança comendo — Cris para e coloca a mão na cintura.
  — Como assim realmente? Quem mais disse que eu pareço uma criança comendo?
  — Estevão, Dayse, tio Mike — com os dedos, nomeio os nomes e a encaro — e eu — entro no carro e a vejo suspirar.
  — Vocês definitivamente não sabem ser despojados — rola os olhos.
  — A última vez que tentei ser despojado a seu modo, quis passar lápis de olho nos meus olhos — a mesma caiu à risada.
  — Aquela época era uma das melhores — era incrível como Cristal conseguia tocar no assunto da época mais horrível e boa das nossas vidas, com um sorriso no rosto.

  Dentro do teatro já esperamos a orquestra começar a tocar seus instrumentos, confesso que Cristal consegue organizar um dia ótimo para passear com passeios relevantes. Pensando nisso vejo quanto tempo perdi longe da minha irmã, alimentando meu ego, meu orgulho e ganância. Vejo o quão longe fiquei da minha família sendo alguém rebelde, reparo também que mesmo não gostando de estar sozinho, solidão era a melhor coisa que fazia antes de tudo. Aliás, minhas melhores escolhas foram tomadas sozinho. Mas quando falo em vazio, não é medo de está sozinho numa casa com o vazio e solidão. O vazio que tenho medo é o vazio do peito, porque isso é estar sozinho, é estar vazio, apenas eu e meus sentimentos. Não havia nada a mais que fazia estar em perigo a não ser eu e minha mente. Era ótimo estar com Cristal, pelo menos não estaria a fumar um maço completo a beber e me drogar, sair e deixar tudo para trás como se fosse um cara normal, era perfeito. Quando menos percebo já estão tocando, as notas do piano em um efeito rápido enquanto os violinos iam em sintonia. Lembro-me que Anna me trouxe para um passeio assim, não me recordo bem se era algo especial, mas estávamos perto do Natal ou era Natal. Como ela me ensinou a comemorar algo que eu odiava? Era tudo uma falsa coisa. Mas ela me mostrou ao contrário, me mostrou o contrário de muitas coisas. Olho o relógio de pulso para ver que falta muito para irmos embora, devo deixar os pensamentos de lado e curtir. Sinto o braço de Cristal passar o meu e deitar no meu ombro, sorri com sua atitude, porque como disse meu pai muitas vezes, sempre deveria estar aposto para o apoio masculino que minha irmã iria procurar. O amor que sinto por Cristal, é algo sem tamanho e sei que mesmo não gostando das atitudes de nossa família, ela sempre me apoiaria. Deito minha cabeça na sua enquanto os instrumentos juntos vão ao seu auge.

  — Foi linda a apresentação — digo a Cristal enquanto ela apenas sorri para mim, andamos em direção ao estacionamento enquanto o vento frio bate em nossos rostos — o que foi? Não disse nada até agora
  — Não é nada — abre ainda mais seu sorriso para mim enquanto me olha nos olhos — só lembrei-me de nosso pai e que queria falar com você, mas não queria estragar nosso dia — seu sorriso some e abro a porta do carro para a mesma.
  — Como assim? — digo indo em direção ao meu acento.
  — Não é nada com nosso pai — parece cabisbaixa — Débora está namorando e não gosto daquele homem Harry, para mim ele é estranho, não consigo explicar — me sinto nervoso, ansioso e querendo explodir, mas mantenho a calma.
  — Ele tentou alguma coisa com você? Por que se ten... — sinto meu ar frio, não gosto nada disso, desde Frederick ainda sinto o mesmo ódio que senti naquele dia.
  — Não, então resolvi sair de lá, não aguento mais ficar com Débora, sério Harry, minha cota bateu, já se foi todo o pingo de esperanças que tinha na mamãe, mesmo depois de matar nosso próprio pai sem nem pensar em nós — os nós dos meus dedos estão brancos, estou com raiva, sinto ódio por tudo o que Débora fez conosco nem mesmo se lembrando de que somos seus filhos, nos causou dor quando tudo que ela tinha que fazer era zelar para isso nunca acontecer, pelo seu papel de mãe, mas ela prefere seu papel de dama da máfia — Harry eu posso ficar com você?
  — Mais é claro que sim! Ainda pergunta? Trouxe suas malas completas? — me olha e assente que não — iremos buscar amanhã — Cristal esbugalha os olhos.
  — Você vai? Eles estarão lá — está na hora de dá as caras.
  — Não vou me esconder para sempre da minha mãe. Não a perdoei e não sei quando irei. Mas não tiro da minha cabeça que Anna pode estar naquela maca por culpa dela — Cristal me olha confusa.
  — Como assim?

De volta a vida -  Livro 2Where stories live. Discover now