Capítulo 55

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  Alguns dias depois

   No trânsito para casa na chuva forte olho o telemóvel impaciente, hoje fez um mês desde que meus tios estão na minha casa e de que tudo foi planejado e justamente hoje recebi a notícia que tudo está pronto para o grande golpe e como sempre tudo tem dinheiro investido, ninguém faz nada de graça não é mesmo? Anna irá fazer um mês de gravidez e me sinto muito ansioso para saber o sexo do bebê, a mesma me disse que seria um menino mesmo quando eu disse que queria uma menina, sua barriga é pouco aparente, faz nem um mês que soube que tinha uma criança dentro dela e faz tantos meses desde tudo, hoje já é setembro. Anna e Cristal ficaram de cuidar dos preparativos do casamento que acontecerá no próximo ano, algumas coisas já estão se encaminhando, não faremos nada de tão grande, será uma festa pequena para poucos convidados e só quero que minha mãe esteja aqui, ainda não assinei o papel mesmo sabendo que o dia do golpe se aproxima, mas vou assinar em breve e me livrar de tudo que um dia já fiz na máfia, mas as almas e famílias que destruí por causa de grana e poder, isso nunca vou esquecer, está gravado em mim, na minha memória e na minha alma. Quando finalmente tudo começa a se movimentar falta algumas quadras para estar em casa, tenho um presente no banco de trás para às duas mulheres que provavelmente estarão assistindo ou tomando chá a falarem do bebê, ou do casamento, estou realmente me sentindo um velho de vinte e sete anos. Ao chegar em casa, percebo o silêncio que não é normal numa casa tão grande cheia de falatórios, o relógio marca dez horas da noite, mas mesmo assim não deixo de olhar tudo no andar de baixo, subo devagar às escadas e vejo que aqui também não tem nenhum barulho, desconfiado seguro a arma que está dentro da minha maleta e observo tudo, quando uma porta ao meu lado se abre aponto para a garota que assustada da um passo para trás olhando a arma.
   — Harry! Abaixe isso! — Cristal segura na arma me olhando furiosa, suspiro e olho em seus olhos novamente.
   — Me desculpe, desconfiei de todos estarem deitados tão cedo — lhe entrego as flores e a mesma a segura.
   — Nossos tios saíram, estão a preparar tudo para ir a França, quis ficar com Anna — sorri caloroso para mim e a entrego o presente — obrigada, agora vá cuidar dela. — Dá um aceno breve para o fim do corredor.
   — O que ela tem? — a mesma guarda as flores sobre a escrivaninha e me encara.
   — Febre e não quis comer, tentei fazê-la tomar um chá, mas tudo foi para o sanitário — concordo com a mulher e ando para o outro lado do corredor. Devagar abro à porta vendo que Anna está perto da janela enroscada com o lençol a olhar para o céu. Bato a porta para que não se assuste com minha presença, a mesma me olha por cima do ombro e volta para encarar à janela, deixo o jarro de flores em cima da mesa de trabalho e a maleta também. Caminho até a pequena tirando a gravata e o blazer. Me sentando ao chão olho seu semblante doente.
   — O que foi? — afasto seus cabelos de seu rosto — está triste — recebo seu olhar caído, nesse momento tenho milhões de motivos na minha mente para sua tristeza, pensa o quanto um filho que pus dentro dela acabaria com a sua vida ou como seria ser mãe, simplesmente estaria sem liberdade, me deixa inseguro tudo vindo da nova Anna que para mim ainda é a mesma menina em outra pele.
   — Minha mãe não está aqui comigo, não verá nossa bebê — sua mão está em sua barriga, esse simples comentário muda totalmente o meu pensamento, pode estar feliz, mas triste pela ausência da única pessoa que tinha — mas agradeço por estar aqui comigo e ter me dado uma nova família. Penso que se estivesse com Otto já estaria morta — desvia seu olhar de mim para a janela, fica calada por alguns minutos e espero por algo que quer me dizer, uma lágrima desce de seus olhos e abre sua boca, mas nada é pronunciado, então novamente tenta — ou eu teria o matado — sinto que meu cenho franze — acho que se tivesse tido forças como tenho agora — seus olhos marejados e brilhantes me olham — teria puxado o gatilho para ele quando tive a chance.
   — Quando teve a chance? — Anna confirma com sua cabeça. O silêncio novamente volta a predominar o quarto, o ar quente me sufoca, o cheiro do seu perfume está a começar a enjoar, enquanto me sinto ansioso e curioso por mais palavras vindo dela, aliás, as únicas coisas que eu soube de sua boca sobre estar naquela casa, foram as únicas que quis me contar, o que foram poucas.
   — Um dia, depois de bater e mim e na minha mãe — só de lembrar desse fato minha raiva aparece como um inimigo, inesperada, mas minhas mãos fecham em punhos a fim de consegui controlar os nervos Anna não tinha culpa da minha ira, mas Otto tinha. Otto seria um dos homens que se eu pudesse, trazia dos mortos e mataria quantas vezes eu quisesse, mas com minhas próprias mãos. — Segurei a arma dele e tentei o matar, mas a culpa de matar o meu 'pai' me subiu à cabeça e ver minha mãe ao seu lado e ter medo do que pensaria de mim, me fez fraquejar. Julgo que se ela me visse hoje sentiria desgosto, pois, não fui como ela pensou e fiz tudo que ela zelou tanto para não fazer — seus olhos faz contato com o meu— mas eu não sinto culpa, não sinto remorso por puxar o gatilho, faria de novo e de novo — agora vi o que fiz, eu tentando sair dessa vida evitando que meu filho cresça nisso, mas transformei a mãe dele em uma de mim. No meu maior pesadelo.

De volta a vida -  Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora