Capítulo 36

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   Depois que todos saem e nos deixam a sós, ainda não estou crendo no que vejo. Sentado a sua frente segurando suas mãos e olhando em seus olhos, é realmente Anna, e tudo isso é real.
  — Harry — a voz fina quase num fio e um olhar agora cheio de sentimentos, caio em seu colo a chorar feito uma criança, sentindo suas mãos enterrar em meus cabelos.
  — Me desculpa! — em meio aos soluços e o choro minha voz quase não apareceu, estou feliz, grato e me sentindo a pior e melhor pessoa. Anna não disse nada, talvez esteja tão confusa quanto eu. Mas não quero saber de nada a mais a não ser segurar seus dedos junto aos meus e sentir.

  Passamos tanto tempo ali naquela mesma posição que já estou ficando dormente. À porta se abre revelando o médico e levanto do seu colo.
  — Como está nossa sobrevivente? — a mesma fez uma cara duvidosa.
  — Bem? — o médico sorriu mais largo e segurou sua prancheta.
  — Bom, ela se sentirá confusa é normal, para ela não se passou oito meses — ele torceu os lábios — mesmo estando nessa cama por esses longos dias, precisa de mais uma observação, então comer bem e cuidar para ela fazer as mesmas coisas que ela fazia antes é essencial. Não tem nenhuma sequela, o que consideramos um milagre, de cem pessoas que teve coma por traumatismo craniano, apenas duas saem sem uma sequela — concordo — então se ao longo dos dias ela parecer estranha para você, traga ela para nós. É bom citar algumas coisas, não sabemos se ela pode perder a memória — olhou para Anna que parece pensativa a olhar outro lugar — as primeiras semanas são bem confusas e a maioria será assim — agradeço os conselhos e logo vejo todos entrarem para o quarto.

  Quando voltamos ao apartamento, Anna está quieta e sinto meu corpo todo festejar, meu estômago está gelado de tantos calafrios. Não sei dizer nem expressar o sentimento que sinto dentro de mim, talvez gritando bem alto para libera-los do meu corpo. As trocas de olhares, os pequenos sorrisos, causa um bocado de sentimentos misturados.

   Quando chegamos, observou tudo enquanto segura sua pequena bolsa, está parada no meio da sala e quando viu Mike recuou algum passo, Mike parou o caminho, olhou-a e esperou, o médico disse que ela havia acordado pela manhã quando Cris estava lá, mas estava em observação até quando cheguei.
  — Menina — sorridente Mike a olhou e ela o analisa, talvez tentando lembrar onde o viu.
  — Tio Mike! — dava para sentir a emoção em sua voz, fico aliviado por saber que se lembrou. Não quero voltar aquele hospital nem tão cedo.
  — Vamos subir — me olha assim que encosto em seu ombro, Cris aconselha a miúda a ir comigo e a mesma dá o primeiro passo para as escadas. — Cristal, mostre o único quarto que tem, para Úrsula — olho para a morena que sorri pequeno para mim.
  — Tudo bem.

  Assim chegamos à porta do quarto e entramos, pude ouvir um grande suspiro da sua parte, os ombros relaxaram.
  — Me sinto cansada — me olha. Sua mão vem ao meu rosto e fico imóvel, seus olhos percorrem cada canto, cada mínimo detalhe — o que fez nesses últimos meses? Se passaram oito? — suas sobrancelhas levantam em surpresa e logo viraram confusão, olho para a sua mão na bolsa, sentindo a outra na minha bochecha, também relaxo.
  — Aprendi muito em oito meses Annastacia — sorri pequeno. A menina sorri para mim e logo se senta à cama, caminho ao banheiro sem deixar de a olhar antes de entrar. Um banho quente e demorado, cheio de pensamentos e sorrisos bobos, me sinto um adolescente quando recebe atenção da menina que gosta. Em frente ao espelho enquanto faço a barba reparo que me observa, olho-a nos olhos tentando notar o que pode ter mudado na mesma. Perdeu peso e parece mais inocente que antes, tenho que lembrar que ela está confusa e tenho que acostumar com a mesma novamente. Mais algumas trocas de olhares e limpo a espuma do meu rosto, caminho até ela e surpreende que não estar vermelha por me ver sem blusa alguma, isso pode ter mudado. A sua frente deixo minha mão a sua bochecha e a mesma deita sobre a superfície que cobre quase todo o seu rosto.
  — O que foi? — minha voz saí rouca fazendo os olhos castanhos me olharem, não tem expressão alguma, o que me faz pensar o que pensa.
  — Eu sinto que já estive aqui e que já vi você fazendo isso milhares de vezes — e viu — preciso dormir — suspira e me levanto, a olhando antes de virar de costas e procurar uma roupa qualquer na cômoda, quando volto a olhar para ela, está virada e encolhida na cama, fecho as cortinas e ando até o outro lado do quarto.

  Nos corredores ouço o silêncio apenas, não há nenhum respingo de um ruído se quer. Desço as escadas e logo vejo minha irmã.
  — Ela chamou seu nome — sorriu para mim assim que me sento a sua frente, me sirvo do chá e a olho nos olhos, vendo o brilho que percorre por eles. — Havia ido ver ela pela manhã e conversei, disse sobre você e quando ia embora chamou seu nome. À tarde quando voltei do passeio com Débora, ela estava com os olhos abertos, o médico disse que fazia uma hora que ela tinha acordado e estava assim. Helena me disse que à noite ela parecia mais esperta, ficou em observação até a hora que chegou lá.
  — Está a dormir — era tão bom saber que está aqui comigo, na nossa cama.
  — Úrsula também capotou — riu baixo. — Quem é ela?
  — A conheci a alguns meses em uma festa na França, conversamos bastante e é uma menina interessante, trouxe ela a trabalho.
  — Pretende ficar com ela aqui? — ainda não tinha pensado nesse caso.
  — Decido isso depois. — Cris se levanta vindo até mim. Sinto seus lábios na minha bochecha e suas mãos bagunçar minhas madeixas.
  — Boa noite maninho.

De volta a vida -  Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora