Capítulo 37

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   Seguro na garrafa de vinho que guardo e subo as escadas, agora sim, tudo em silêncio. No quarto só há a luz da lua refletindo a sombra da janela no chão, o ponto claro do quarto é o lençol branco, antes estaria alinhado ao colchão perfeitamente liso num ato perfeccionista. Agora amarrotado e cobrindo um pequeno corpo. Sento-me à poltrona perto da janela a olhar para as estrelas.

"Se olhar fixamente para uma, vera milhares ao redor".

   Sentindo o líquido quente descer garganta abaixo, olho o corpo da miúda deitado sobre à cama, retiro a minha blusa deitando devagar para não a acordar, senti falta da companhia dela, tudo aquilo que aconteceu em meses sem ela aqui comigo, espero ter uma boa noite se sono.

~*~

  No dia seguinte, quando acordo pela manhã Anna já não está na cama, como acordou tão cedo? Não me lembro de acordar primeiro que eu. Olho o relógio ao meu lado e vejo que são nove horas da manhã, sinto cheiro de comida e a pequena faísca do sol passa pela brecha da cortina, me espreguiço e acabo por tomar um pequeno susto com a voz da menina.
  — Harry — a olho na porta vendo que veste um vestido florido, é verão e não demora para chegar o outono. — Bom dia.
  — Já tomou o pequeno almoço? —a mesma balança a cabeça negativamente.
  — Estou a esperar você — a sua voz, soa tão doce que quase não me lembrava mais desse jeito meigo. Sorrio para ela me levantando da cama, vou ao banheiro fazer a minha higiene matinal e quando volto a pego pensativa a olhar o pequeno calendário.
  — Seu aniversário já se foi! — parece triste — e o meu também. — Me olha e sinto o olhar queimar no meu corpo, não posso deixar de notar como está vermelha por notar que notei que me olha por completo. Caminho até a cômoda e ouço sua voz. — O que fez no seu aniversário?
  — Tomei café e li livros. Sozinho — ouço seu suspiro em derrota e a olho por cima do ombro, vendo que relaxou os ombros esquecendo a postura.
  — Se estivesse aqui seria diferente — sua voz nunca deixando o tom triste. — Te tiraria de casa para algum lugar.
  — Não se culpe — ponho a blusa indo até a menina na beira da cama, me abaixando em sua frente olhando em seus olhos tristes. — Lembre que foi minha culpa — a mesma solta o ar dos seus pulmões quase de imediato e me olha. Penetrante e quase intimidante.
  — Eu quis isso e isso, teve um grande propósito — suas palavras me golpeiam, é quase como se soubesse.
   — Sim tiveram, me transformou em outro homem em meses, aprendi a ser menos orgulhoso, ganancioso e egoísta, aprendi que nem sempre, posso estar por cima — e num momento único, sinto meu corpo colidir com o seu, me abraçou.
  — Quero conhecer esse novo homem — sorri mesmo que não veja meu sorriso. Me afasto do seu abraço e a observo por uns minutos, deixo um pequeno carinho na sua bochecha e me levanto indo em direção a porta.

  Desço as escadas e vejo todos reunidos, Anna passa por mim e se junta a eles, Úrsula e Cris estão na cozinha, nada de Mike, nada de Débora. Anna me olha e sorri, retribuo indo à cozinha.
   — Bom dia Harry — Úrsula começa e Cris termina.
   — Sente para comer — concordo.
   — Bom dia meninas — digo me servindo de café.
  —Não me lembro de gostar tantos de flores como gosto daquelas — Anna aparece e Cris abre um largo sorriso e sei que foi sua armação.
   — Talvez seja porque eu e Harry, levávamos muitas a você. — Anna parece surpresa se sentando e logo confusa olha Úrsula.
  — Olá Annastacia, sou Úrsula — a morena logo inicia a conversa e demora para Anna levantar sua mão e abrir um mínimo sorriso.
  — Pode me chamar de Anna — um mínimo e caloroso.

  O café foi ótimo na companhia das garotas, hoje irei ver a casa e Dantas já está a caminho para irmos, Anna se arruma e vejo os novos modelos de joias que Suzana me mandou. No carro penso sobre a empresa, a casa e os homens de preto, ter Annástacia ao meu lado é ótimo, mas não posso esquecer que fora do nosso mundo tenho um caos para tentar resolver, não sei quem são, mas tenho quase certeza ser obra de Débora, só espero que não tirem o que mais amo de mim novamente.

  Falo com o proprietário da casa, que me mostra cada cômodo, é bem menor que a outra, mas muito aconchegante, acontece que no final eu e o homem e todos os seguranças procuramos Anna que havia sumido, meu coração já estava a palpitar quando vejo que está sentada na biblioteca, com um livro a mão, tinha se passado uma hora e ela já estava aqui. Sorri com a visão acolhedora.
   — Eu compro — aperto a mão do homem que anda para fora e entro para o lugar cheio de estantes revestidas de livros até o teto.
  — Você gostou daqui? — vejo os seus olhos rolarem do livro até os meus e um grande sorriso surgiu.
   — É o paraíso! — olhou ao redor — senti falta disso, desses mundos imaginários.
   — É tudo seu — seus olhos dilataram tão rápido quando me abraçou.
   — Muito obrigada! — ficamos em silêncio, curtindo o calor um do outro, ouvindo a respiração e sentindo o coração bater, eu nunca mais sairia dali se possível, mesmo que meu corpo doesse. — Me doeu tanto ouvir sua voz e não poder responder cada lágrima solta naquela poltrona.

De volta a vida -  Livro 2Where stories live. Discover now