Capítulo 51

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  Haviam se passado alguns dias e Harry já está conseguindo se levantar, ainda não está à frente dos negócios, mas resolve alguns dos últimos preparativos para o grande golpe nos Jones. Agora vomito horrores no sanitário a ansiedade está me matando, nunca passei por isso, organizar um assassinato em massa, o carro de assumir a empresa temporariamente e ainda ter que cuidar do golpe foi muito para minha mente. Limpo minha boca e lavo meus dentes, Harry está na cama como tem estado nesses últimos dias. Me sento com o homem que me puxa para ele, a quentura do seu corpo me deixa sonolenta e, ao mesmo tempo, me dá vontade de tomar um chocolate quente.
   — O que pensa? — sua voz rouca me atraí aos seus olhos.
   — Você me deu vontade de um chocolate quente — Harry sorri brincalhão me encarando.
   — Eu? — concordo com ele e me aconchego sobre seu corpo.

   Deixo-o no banho e desço as escadas para a sala de estar, nada dos tios de Harry, nada de Cristal. Onde estão as pessoas dessa casa? Nem mesmo Mary está na cozinha. Indo para o quintal perguntar aos seguranças se viram alguém, antes mesmo de me encaminhar para a cabine vejo Shawn. Está sentado sobre um banco de madeira, olha para algum ponto específico, talvez admirando o céu.
   — Shawn? — seus olhos castanhos meio verdes vieram para mim, sorriu e me sento ao seu lado. — Onde está o pessoal? — me sinto cansada, só andei pouca coisa. Encaro também um ponto específico, mas se trata da casa em cor marrom com a decoração da natureza. Não sabia que Harry tinha esses gostos, mas é meio óbvio, ele trabalha com design, deve ter muitos gostos diferentes nao só para joias.
   — Todos saíram para um café em família, os outros estão na França ainda e talvez não voltem, nós encontrarão para o golpe — golpe, é assim que chamam o assassinato — como você e Harry dormiam, não queríamos incomodar.
   — Mas e você? — meus olhos saíram da casa para o rapaz ao meu lado, abaixou sua cabeça mexendo em seus dedos e uma careta indecifrável me mostrou que estava desanimado.
   — Sem vontade ou sem apetite — seus olhos vieram para mim e logo desviou para o céu cinzento. — Me sinto mal esses dias.
   — Aparentemente, todos estamos ansiosos, esse é o plano da sua família desde sempre, não é? — ele concorda com um aceno.
   — Da nossa família — sorrio.
   — Mas, algo te atormenta — o silêncio intimidador que se formou nesse pequeno lugar me faz me sentir ansiosa, quero uma resposta, agora sei como Harry se sente ultimamente. Quer uma resposta, ansiedade nos consome quando se trata de algo que pode ameaçar, algo que pode nos fazer perder o controle de tudo.
   — Nada me atormenta — por fim sua voz saiu, sinto suas mãos no meu pulso e vejo que sorri pequeno. — Você guardou — encaro a pulseira que o mesmo me deu na noite da festa da empresa de Harry, antes de tudo.
   — São pedaços de mim agora — sorri para ele — vocês são minha família — o mesmo assumiu uma postura me olhando melhor — são especiais demais. — Shawn abriu um sorriso mais largo, me abraçou e ficamos um tempo apenas admirando a natureza, não sei se o conto o que ando pensando, sinto frio na barriga toda vez que cogito isso na minha mente, calafrios no corpo só de imaginar e o pior, qual será a reação de Harry?
   — O que te atormenta? — agora é a vez de Shawn, sei que com ele posso contar, pretendia contar a Cris, mas ver a reação de Shawn pode ser talvez, a reação de Harry. Estou tão ansiosa e com medo.
   — Shawn — brinco com meus dedos por insegurança, sei que espera ansioso por uma resposta logo, assim como eu, olho em seus olhos e respiro fundo. — Acho que estou grávida — seus olhos estão esbugalhados, assim parecem maiores do que já são e não disse nada, não dizer nada é o que me atormenta, vamos diga Shawn! Está sério e isso me dá medo. De repente abriu um sorriso e uma gargalhada saiu da sua boca, o mesmo bateu palmas e logo se calou, colocou as mãos na boca e me olhou abismado.
   — Não está brincando? — balanço a cabeça negativamente. — Caralho! — se levanta e passa a mão nos longos cabelos para trás. Isso me preocupa, Shawn com certeza sabia algo de Harry que não sei e se a sua reação for a pior? — Harry sabe?
   — O que não sei? — sinto meu coração acelerar ao ouvir a voz mais grave e logo ver o homem a andar com uma bengala, de terno e cabelos molhados. Shawn caminha até ele e sorri.
   — É algo com mais valor que suas joias — Harry nunca deixou de me encarar, talvez porque ainda esteja abalada o suficiente para sua desconfiança — mais valioso que Anna — Shawn dá uma tapinha no ombro do homem sério e sorri para ele passando por ele — sua hora vai chegar — Harry não deixou de me olhar, parece muito pensativo com o que o primo disse. Por um momento me sinto perdida, querendo chorar e não sei o que fazer. Me sinto apenas uma criança, é o que eu sou! E sobre esse olhar de Harry, me lembro bem do primeiro dia que estive na sua casa, quando estava perdida nos corredores enormes. Ele nunca deixou de me olhar assim, apenas eu que fui perdendo o medo de ver o quanto intimidante ele era. Caminhou lento, como um tigre que quer atacar, se sentou ao meu lado e pude ouvir o seu suspiro pela dor. Não me olhou de imediato, está esperando que tome uma atitude para falar e sei que a sua paciência não é muita, aprendi isso com o tempo. Não tenho nada para falar a Harry, aliás não era uma certeza, mas estou nervosa como se estou carregando alguém.
   — O que Shawn estava falando? — sua voz me fez tremer, foi aí que vi, que realmente tinha perdido todas as sensações de como era se sentir uma submissa, de como era ouvir sua voz e se arrepiar, de ter que ser obrigada a olhar seus olhos intimidantes, de me sentir ansiosa, desajeitada e excitada ao seu lado. A única coisa que ficou, foi a sensação de segurança, mas na verdade Harry nunca deixou de ser quem ele era, misterioso, sombrio e sexy a um estímulo alto. Harry pode ter deixado de ser orgulhoso, egoísta e ganancioso. Mas nunca deixou o seu antigo Harry para trás.
   — Annástacia! — não me lembro a última vez que disse meu nome.
   — Não é nada demais, Shawn que é muito dramático — tento manter a figura que venho mantendo desde que acordei, a de uma dama da máfia. Não dá Annastacia. — Vamos comer? Estou com fome — percebo a minha voz numa súplica, não de fome, apenas de poder sair do seu olhar. 

De volta a vida -  Livro 2Where stories live. Discover now