Capítulo 04

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     O trânsito está realmente um inferno esses dias. Mais cedo havia caído o mundo em chuva e o dia foi exaustivo. Depois da jornada de trabalho, com reuniões e mais reuniões sobre acordos e parcerias, inúmeros e-mails e viajem, encontros e convites, telefonemas para responder e relatórios a fazer, tudo o que eu mais quero no momento, é chegar em casa e me afogar em mágoas, já que perdi todas as minhas visitas com Anna essa semana, quero apenas dormir e esquecer o dia de hoje, por muitas vezes, esquecer do amanhã, chegar em casa comer e me afundar no sofá para ver programações que não me interessam. Porém, os minutos se tornaram horas e ainda não sai desse engarrafamento. Tenho pelo menos conseguido dormir esses dois dias bem, Helena falou comigo e nenhum sinal de Anna, os remédios estão prestes a acabar e sei que não posso ter tanta droga no meu corpo, ainda mais de um nível tão alto como tarja preta. Nunca pensei que teria medo de pesadelos, mas cá estou eu com medo de dormir.
  — Alô Cristal? — não ouço a voz da minha irmã mais velha — Cris? — logo após ouço um  pigarro.
  — Estou — ouço sua voz e suspiro.
  — Não chegarei a tempo para o jantar e nem sei que horas irei sair desse engarrafamento — tento olhar além do carro à minha frente, mas percebo que é impossível.
  — Estevão já está aqui, o que digo a ele? — olho o relógio para ver que já é muito tarde e que havia se esquecido da minha consulta.
  — Diga que se quiser, pode dormir aí, temos quartos já é tarde para ir pra casa — passo a mão no meu rosto.
  — Ele disse que irá te esperar, nem que você chegue às duas — ouço sua risada e abro o porta luva para ver se ali se encontra as pílulas que vinha me mantendo em pé antes dos comprimidos para dormir.
  — Tudo bem, estou desligando
  — Se cuida maninho — o barulho do celular desligando é ouvido e jogo o smartphone para o banco do passageiro, o barulho da chuva forte no teto me ajuda a relaxar, por mais que não queira, não consigo parar de pensar nas reuniões que terei e o chá de convites que estou recebendo de outras empresas, convites na qual não posso descartar como faço com os outros. Aliás, são convites importantes para a empresa, preciso não me render à vontade de está na cama a assistir coisas desinteressantes para mim.

~*~

  Subo as escadas sentindo meus músculos reclamarem em dor e quando chego ao meu quarto deixo a mala de documentos em cima do móvel e me sento à poltrona, sinto meu corpo relaxar e de imediato à porta é batida e em confusão vejo meu relógio de pulso, para confirmar que são uma e quarenta da manhã.
  — Entra — digo e vejo o rapaz de cabelos curtos e castanhos, seu sorriso meigo me fez sorrir também e a porta se fecha.
  — Trouxe chá, devo imaginar como foi seu dia — me entregou a xícara.
  — Camomila? — encaro o líquido antes de tomá-lo, sabendo que isso deixaria meus sentidos prontos para dormir.
  — Precisa relaxar — se senta a poltrona.
  — E você deveria estar dormindo — sorri para ele levantando minha xícara até mim.
  — Disse que esperaria para nossa conversa — Estevão sempre foi meu amigo e mesmo que só o vejo para pequenas consultas de uma hora e uma vez por mês. Significa muito para mim, me disse quando estávamos naquela classe com outros vinte alunos, que um dia cuidaria da minha mente perversa, mal o sabia que um dia realmente aconteceria isso.
  — Realmente, desde o acontecimento com Anna, estou assim. — O olho nos olhos — reconheço que é uma forma de ver Harry Van Vitsky que ninguém nunca pensou em ver. Nunca me entreguei a sentimentos nenhum com alguém. Porque pessoas que mexem com algo como eu, "não tem espaço e tempo para amar", assim diz Débora. Mas eu aprendi... — os pensamentos de Débora me dizendo que sempre estaria sozinho veio à minha mente, cada pedaço de palavra. "Você não seria capaz de amar alguém, além de você mesmo!" —... aprendi a dividir todos os devidos momentos, os da máfia, da empresa e o tempo para Anna e confesso que depois de um dia cansativo preferia o tempo com Anna. — Suspiro pesado deixando a xícara ao lado vendo que o rapaz não disse nada até agora. — Me diz algo — necessito de uma resposta, porque de todas nossas conversas que disse quase tudo a mesma coisa, essa foi diferente, então necessito de uma resposta diferente.
  — Lembra que eu disse que Anna estaria aqui por um motivo? Ou ela era a cura, ou a perdição? O que você acha que ela é para você?
  — Ela é tudo e mais um pouco — passo minha mão nos cabelos afastando os fios dos meus olhos — por um começo foi minha cura, no fim minha perdição e sem ela não sinto atração sexual por ninguém, ela está sendo os dois, não sei Estevão acho que estou ficando louco.
  — Você só está possesso, já que aprendeu a usar os três tempos, saiba dividir sua dor, seja positivo, já vi casos de pessoas que passaram anos em coma e voltaram, só faz quatro meses.
  — Cinco — corrijo e ele balança a cabeça negativamente.
  — Se você misturar sua dor, ela irá tomar conta da sua esperança, te dar mais motivos para senti-la. Divida isso, coloque tudo em ringue e veja quem ganha. Mas tenha em mente, a dor só ira vencer, se você deixar.

De volta a vida -  Livro 2Where stories live. Discover now