Capítulo 1 - Grávida

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- Daryl -

Dá pra escutar os gritos de ambos daqui, e pelo tom já sei que a situação tá feia, fico pensando se devo intervir ou não, sei que meu irmão não bateria nela. Merle pode até ser um bêbado drogado idiota, mas agressor de mulher ele nunca foi, se bem que descobrir que vai ser pai pode tirar um homem dos trilhos, principalmente se ele nunca quis um filho. Como é nosso caso. Digamos que tendo um cretino violento como pai e uma mãe negligente, não tivemos bons exemplos pra aprender a ser um.

Não posso falar sobre as escolhas do meu irmão, mas sempre me certifiquei de me proteger quando ia transar, coisa que não era muito frequente. A ideia de um filho me apavorava, nem posso imaginar como Merle se sente. Ele deve estar em pânico, eu estaria...

Os gritos aumentam e eu decido levantar e intervir antes que o pior aconteça. Desço as escadas bem rápido e vejo a mulher com quem Merle saia, pois depois disso tenho certeza que ele nunca mais vai querer saber dela, e meu irmão. Ela está tremendo e vermelha, meu irmão está andando de um lado para o outro como um animal enjaulado... Raramente o vi assim. Ele está a um passo de surtar, tenho que fazer alguma coisa antes que ele faça algo realmente ruim

Me aproximo devagar dela, meus anos na floresta me ensinaram a me aproximar de animais assustados. E ela está parecendo muito com um deles.

- Oi, acho melhor você se acalmar. Vou pegar uma água pra você - eu digo firme, não dando brecha para que recuse. Foi uma ordem e ela sabe disso.

Acho que alguém teria que manter o controle e a sanidade por aqui. É estranho e irônico que esse alguém seja eu. Pensando isso vou até a cozinha e pego um copo com água, misturo açúcar e levo pra ela.

- Tome - eu falo e ela pega o copo com as mãos trêmulas

- Obrigada - ela diz num fio de voz. Pelo menos não está mais gritando

- De nada - eu respondo e olho para Merle

Ela toma a água e fica olhando de mim para meu irmão, completamente perdida, buscando alguma resposta. Infelizmente, eu não consigo ter. Meu irmão só estava comendo ela, era só mais um passatempo pra ele enquanto eu me estabelecia aqui. No fundo sabia que ele ia se mandar em breve, agora com essa situação estou com dúvidas do que ele vai fazer.

Não é como se meu irmão fosse se ajoelhar agora e pedir essa mulher em casamento. Se estivéssemos em um comercial de biscoitos ele faria isso, mas a vida real era bem diferente. Se eu fosse ela já me daria por satisfeita se ele parasse de andar de um lado para o outro.

Ele vai surtar, depois vai pensar no que fazer. É melhor que faça isso sem ela por perto porque quando Merle surta o resultado nunca é bonito

- Agora que se acalmou eu acho melhor você ir pra sua casa. Depois vocês se falam - digo mais uma vez, usando o tom de voz que demonstre que eu estou no comando. Ela assente e levanta

- Okay. Vou indo então. Obrigada pela água - ela me diz, então se vira para Merle e fala - Não adianta ignorar isso, temos que pensar no que fazer. - com isso ela vai embora

Depois de alguns minutos esperando meu irmão enfim para de andar e se senta no sofá. Vou esperar ele falar, ele sempre fala

- Preciso de metanfetamina - ele diz olhando para o nada

- Agora não. Não é hora pra isso - eu digo o olhando seriamente

- Ahhh fala sério, maninho, não existe hora pra usar - ele debocha

- Tenho certeza que não é a hora pra você usar. Essa garota que saia com você tá grávida, se drogar não vai fazer ela desaparecer - eu digo

- Que merda você quer que eu faça?? - ele me pergunta com raiva. Tá tentando me distrair para não pensar no assunto, quer começar um briga comigo pra poder descontar a frustração dele. Pena que hoje isso não vai funcionar

- Quero que pelo menos pense no que vão fazer. Uma criança tá no meio disso - eu falo me sentando no sofá ao lado dele

- Merda! Para de falar isso! Eu sei, porra! - ele grita - Mas não sei o que fazer, não vou casar e brincar de casinha com essa garota - ele diz seriamente

- Tá bom, não case, você não é obrigado a isso. Mas e o bebê? - eu pergunto

- Nunca pensei em filhos, nunca quis e continuo não querendo. Não fui talhado pra ser pai e vou continuar assim - ele fala com raiva

- Você sabe que ignorar a existência dele não vai fazê-lo sumir. Ela pode procurar a justiça - eu digo preocupado

- Eu e a justiça vivemos nos engalfinhando. Já tô acostumado. - ele responde seco

- Talvez você possa trabalhar em alguma coisa, não é obrigado a casar, mas tem a obrigação de ajudar a sustentar o bebê - tento trazê-lo a razão

- Era só o que me faltava! - ele diz indignado - É o que vamos ver! - ele ameaça

- Não é o fim do mundo. Poderia ser pior. É uma criança, não é o apocalipse. - eu digo cansado

- Pra mim é quase a mesma coisa - ele fala se levantando e indo até a porta

- Onde você vai? - eu pergunto

- Virou minha mãe agora, maninho? Vou aonde eu quiser - ele diz e sai

Suspiro, fecho a porta e me sento de novo no sofá. Algo me diz que minha vida nunca mais vai ser a mesma...

A era dos Mortos | Daryl Dixon  Donde viven las historias. Descúbrelo ahora