Capítulo 11- Preso no telhado

2.8K 222 92
                                    


- Merle -


Olhar nos olhos da menina pela primeira vez foi como levar um soco no estômago. Quando a vi dormindo no banco traseiro do carro do meu irmão notei o quanto parecia com Lauren. Lauren foi uma mulher incrível que deu o azar de cruzar caminho comigo, não éramos um casal, estávamos mais pra parceiros sexuais. Era ela linda, cabelos loiros e um corpo sensacional. Mas era azarada, só o fato de ter se envolvido comigo comprova isso. Sua morte me marcou muito, eu não a amava, nem conseguia ter uma conexão com a menina, mas sua partida me deixou com um sentimento constante de culpa. A culpa e a vergonha viraram meus companheiros diários, quando meu irmão trouxe Melissa para casa eu não conseguia sequer olhar para ela, era como se a morte de Lauren fosse culpa minha. Tinha a sensação de ter tirada a mãe da pobre menina e sem saber como lidar com isso resolvi me mandar. Eu sabia que Daryl iria cuidar dela, ele sempre tentava me livrar das minhas merdas.

Então quando ela tinha seis meses eu parti, deixei informações de um advogado, assim ele poderia ter a guarda dela. Na madrugada antes de ir embora fui ao quarto do meu irmão, parei em frente ao berço que ficava do lado da cama e olhei para minha filha pela primeira vez. Ela era bem pequena, uma coisinha branca e com poucos fios dourados e chupava uma chupeta, estava dormindo tranquila. Sei que tinha mamado a pouco tempo, pois vi meu irmão fazer a mamadeira. Passei alguns minutos observando-a e tentando arrumar coragem para me despedir. Era difícil partir ao mesmo tempo que era impossível ficar.

- Acho que isso é um adeus, não posso ser seu pai, eu...- suspiro frustrado pelo nó que se formou em minha garganta - Eu não posso ser o que precisa, não posso ser seu pai, mas te arrumei um que vai ser muito bom. Nem vai sentir minha falta, ele vai cuidar de você. E... - respiro fundo e continuo - Não vamos ser pai e filha, mas posso ser tio. Não vamos nos ver muito, tenho que ir agora, não sei quando volto, mas eu volto. Então é isso, Melissa. Não consigo fazer isso, não tô pronto pra você. Até um dia, nos vemos.

Olhei para o meu irmão que dormia completamente alheio ao meu tormento pessoal, não posso culpá-lo, ele está exausto. Tomou para si a responsabilidade de cuidar da minha filha, acorda com todos os choros dele e depois de seis meses eu acho até que ele consegue interpretar cada choro que ela dá. É como se soubesse exatamente o que ela precisa. Dá banho, comida, amor, cuida quando ela tem cólicas, enfim, ele se tornou o pai dela. Lauren estaria feliz com o pai que nossa filha tem. Eu estou.

- Até mais, irmãozinho, eu apareço de vez em quando pra ver vocês. Se cuida. - eu digo, viro as costas e saio sem olhar para trás

Subo na moto e dirijo. Não sei qual vai ser meu próximo destino. É primeira vez que parto e penso em quem fica. Não sei como Daryl vai se sentir quando perceber que eu fui embora, provavelmente vai se sentir abandonado. Ele sempre se sente, mas não fala nada, está acostumado comigo o deixando sozinho, foi assim desde que ele era criança. Ele sabe como é meu modos operandi. Mas também sabe que eu nunca vou para sempre, então do mesmo jeito que ele sempre espera que eu vá embora, também espera meu retorno. Deixo uma filha e quando eu voltar ela será minha sobrinha... É melhor assim, eles vão cuidar um do outro.

Dois anos e meio depois tudo vira uma grande confusão. As pessoas não morrem mais, elas voltam e parecem entrar em transe, não enxergam nada, nem ninguém, só sua fome. Meu irmão veio me buscar com Melissa, nosso reencontro não teve muitas palavras, mas nos entendemos assim. Ele está diferente, sua prioridade é a filha, virou um pai completamente apaixonado pela cria. Com ela ele é carinhoso, não tem medo de mostrar seu amor por ela. É uma surpresa vê-lo assim.

Ele me pediu para cuidar dela enquanto vai caçar, a contragosto eu topo. Nunca cuidei de criança, mas posso cuidar da minha sobrinha por algumas horas. Não deve ser tão difícil. Não estou tão apavorado quanto pensei que ficaria. Não consegui cuidar da minha filha, mas da minha sobrinha eu posso.

A era dos Mortos | Daryl Dixon  Where stories live. Discover now