Capítulo 8 - Despedida e Partida

3.1K 274 95
                                    

- Daryl -

Nos dias que se seguiram tudo piorou consideravelmente, o governo passou a anunciar as campanhas de vacinação com mais frequência, mas ao que parecia essa nova gripe se espalhava ainda mais rápido. Eu, Missy e a Jane Richards nos vacinamos logo na primeira campanha. Estávamos em contato direto com Missy, e de forma nenhuma eu deixaria minha menina ficar doente.

Ao que parece as vacinas não estavam conseguindo conter a epidemia. Os sintomas eram confusos, uns tinham febre, alucinações e atacavam os que estavam próximos. Em Blairsville a vida continua a mesma, poucas pessoas se vacinaram, e estava tudo bem. O pior da gripe se concentrava em grandes cidades, como Atlanta e Seattle e New York. Estamos seguros por enquanto...

Há dois dias consegui falar com Merle, ele estava em uma cidade próximo de Atlanta e disse que as pessoas estão nervosas e cada dia mais o número de doentes aumenta. Fiquei preocupado e perguntei se ele iria voltar para casa, ele me disse que ainda não iria. Não perguntou de Missy, mas eu já estava acostumado. Sei que quando as coisas piorarem ainda mais ele vai ligar pedindo ajuda, é sempre assim.

As semanas vão passando, a situação vai se espalhando. Embora eu não saiba como é o contágio com essa doença, na verdade ninguém sabe muito sobre isso. Me preparo para o pior, mantenho o carro com o tanque cheio sempre, e coloco mais gasolina em seis galões médios. Passo a deixar a despensa sempre cheia, faço um estoque de água potável e preparo suas mochilas uma com algumas roupas e produtos de higiene pessoal para Missy e a outra para mim.

Pode até ser exagerado, mas foi o próprio governo que mandou que fizéssemos isso. Falo com a senhora Richards e ela me diz que vai pegar um avião para ir ficar com sua irmã, eu concordo mesmo achando triste me despedir dela. Ter ela é como ter uma mãe. Missy vai sentir muita falta dela e deixa isso claro com sua carinha emburrada

- Querida, é por pouco tempo. Tenho que ficar com minha irmã para ajudá-la com os meninos. Desculpem, eu realmente queria poder ficar - ela diz com a voz embargada e abraça Missy

- Nós entendemos, Jane, não se sinta culpada. Você está certa. Vamos ficar bem, isso é por pouco tempo. - eu falo, orando internamente para que realmente isso aconteça...

- Bom, é hora de ir, vou sentir falta dos dois. Cuidem um do outro e não aprontem muito - ela fala emocionada

Abraça Missy mais uma vez, e minha menina chora tanto que fica vermelha. Vai ser difícil, Jane é a única figura feminina que Missy temm... Quando se largam, ela me abraça e eu retribuo.

- Vai ficar tudo bem, filho, cuide-se. Você é como um filho para mim Daryl e mesmo com esse seu jeitão fechado eu amo você. - ela fala baixo em meu ouvido

Não consigo falar, minha garganta está fechada e eu balanço a cabeça, a abraçando mais forte... Detesto sentir que isso é uma despedida. Odeio essa sensação!

- Se cuida você também. Nos vemos - é só o que eu consigo dizer e ela sai

Me volto para minha princesa e a vejo cabisbaixa, suspiro e a pego no colo

- Eii, furacãozinho, não chore... Estou aqui e vamos ficar juntos. Certo, parceira? - eu falo tentando animá-la e levanto a mão para que ela bata

Ela abre um sorriso e diz

- Certo! Vamos ficar juntos, né, papai? - ela pergunta e me abraça... sinto seu medo

- Claro que vamos, somos uma boa dupla - eu digo e a abraço mais forte.

~Dois meses depois ~

A doença se espalhou para quase todos os Estados Unidos, as notícias são constantes e há um campo de refugiados perto em uma cidade perto de Atlanta. Pretendo ir pra lá com Missy, só tenho que pegar meu irmão. Ele me ligou ontem e pediu que eu fosse buscá-lo com o carro e eu concordei, precisamos nos manter juntos.

Pelos vídeos divulgados a doença te transforma numa espécie de maluco que come carne humana. Quando vi um desses vídeos pela primeira vez achei que era uma pegadinha ou montagem, depois mais foram sendo divulgados e passei a me preocupar. Muitos em Blairsville passaram a acreditar e logo as escolas cancelaram as aulas, as empresas dispensaram os funcionários. Enfim, tudo mudou num curto espaço de tempo. É quase impossível de acreditar que isso se espalhe por uma mordida... Uma maldita mordida ou arranhão de um dos doentes pode te transformar em um zumbi. Parece coisa de filme... Que porra tá acontecendo?

Pego toda a comida da despensa, as duas mochilas com roupas e produtos de higiene, minha besta e a aljava cheia de flechas, além de duas barracas, cobertores grossos e sacos de dormir. Coloco tudo na parte traseira do carro e vou no quarto de Missy chamar minha menina para irmos.

Paro na porta do quarto e a vejo com o seu ursinho preferido nas mãos. Ele foi comprado por Lauren assim que ela descobriu que ia ter uma menina.

- Papai, posso levar a Griselda? Ela vai ficar muito tiste sozinha! - ela me diz com aquele olharzinho que torna impossível que eu negue algo a ela.

- Tudo bem, mas só ela. Deixa os outros aqui... Eles vão ficar protegendo seu quarto - eu digo numa tentativa de fazê-la não levar todos os brinquedos

Ela sorri e assente

Eu a pego no colo e vou para a sala

- A gente vai voltá pa casa, papai? - ela pergunta se enrolando um pouco com as palavras

- Não sei, filha, pode ser que a gente more em outro lugar agora - eu digo, quero dizer que sim, mas não vou mentir pra minha menina

- Eu e você? E a vovó Jane? - ela questiona

Detesto dizer que não sei, mas realmente não sei... Jane não atendeu minhas últimas ligações. Só quero que ela esteja bem

- Não sei, Missy, quem sabe ela já não está lá? - eu digo tentando distrair a ela e a mim dos pensamentos sombrios

Vamos para o carro,  o dia acabou de amanhecer e quero aproveitar cada segundo da luz do dia. As ruas estão desertas... Vejo uma dessas coisas andando enquanto dirijo, não tenho muito tempo de vê-lo detalhadamente, mas tem um andar trôpego como um bêbado. É difícil acreditar que uma coisa dessas cause tanto estrago... Parece tão débil, definitivamente tem uma aparência enganosa.

Missy também o vê e pergunta

- Ele tá dodói, papai? - ela questiona e eu imediatamente me arrependo de ter assistido aos noticiários na frente dela

- Está, filha - é só o que eu digo

Ela pensa e faz a pergunta que me deixa sem chão

- Eu também vou ficá? - ela me olha curiosa.

Eu engulo seco e digo com toda certeza que tenho

- Não! Eu não vou deixar que fique. Nunca! - eu falo e é uma promessa

- E você? - ela continua

- Eu também não. Vou proteger você, furacãozinho - eu digo tentando passar certeza.

Tenho medo de não conseguir cumprir, se algo acontecer comigo Missy vai ficar sozinha, sem ninguém para cuidar dela... Mas não vai acontecer, vamos ficar juntos aconteça o que acontecer...

Enquanto as ruas vão passando vejo algumas famílias deixando Blairsville assim como eu... Olho para minha menina e espero que fiquemos bem

Outra coisa que me preocupa é o encontro de Merle e Missy, ela não sabe que ele é o pai biológico dela e ele se recusou a qualquer contato com a menina. A verdade é que eu tenho medo dele tentar tirá-la de mim, sempre fomos eu e ele, mas estamos tão distantes... Desde que ela apareceu em nossas vidas nós mudamos. Eu para recebê-la e ele para afastá-la... E se ele a quiser de volta? Ela é minha filha, não sei continuar sem ela... Mas também não quero ficar longe de Merle, ele é meu irmão

Essa situação ainda vai me enlouquecer muito! Que Merda!



A era dos Mortos | Daryl Dixon  Where stories live. Discover now