Capítulo Trinta

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O tempo parou. 

Diante dos olhos idosos, Paris saiu do século XXI e voltou para 1956. As mãos enrugadas se tornaram jovens novamente. Os suspensórios, as calças sociais, os cabelos penteados em gel. 

Ali se via Genevieve cantando no palco, com Boris atrás, em seu trompete. Poderia ver Fermín gargalhando com Benito, enquanto jogava cartas e poderia ver Rita bebendo um drink enquanto fumava uma boquilha.

Uma fumaça de lembranças entornou eles. Se lembrou do primeiro olhar, da primeira fala. Do cigarro meio apagado da mesa, da noite que limparam o bar sozinhos, da tempestade que os fez dar o primeiro beijo. Se sentia o cheiro do passado, o sentimento do amor.

Mas as más lembranças acompanharam. As terríveis lembranças que os fizeram se separar.

Mas ali estavam. 

Keith e Frederick.

Por um momento, eram jovens.

E naquele momento, se abraçaram.

Um silêncio reinou naquele local, apenas se escutando o jazz que tocava na jukebox que havia ali. Louis secou uma lágrima tímida que escorria de seu rosto, e Harry sorria pomposo.

Keith e Frederick se separaram. A nuvem de lembranças esmaeceu e por fim, eles se viram como realmente eram.

Keith não tinha mais barba farta e nem cabelos em gel. Estava grisalho, velho e tolo. Mas seus olhos azuis ainda brilhavam, sob os óculos.

Frederick estava grisalho, como ele. Havia apenas um brilho apagado em sua beleza, mas sempre esteve ali, a paixão que sentiu toda a vida.

Depois de muito silêncio, Keith sorriu.

— Sabe, você está tão enrugado quanto um velhinho na sauna.

— Posso falar o mesmo de você? — Frederick segura o rosto dele entre as mãos — Está tão acabado quanto um pão amanhecido.

— Esse é o jeito de falar que me ama? — Keith levantou a sobrancelha — Em 1956, você era mais romântico. Deus, você continua sendo o mesmo canalha cafajeste daquela noite que te conheci.

— Não cobre muita coisa de um velho ranzinza — Frederick riu — Mas se quer saber, eu ainda amo você.

— Exatamente como antes?

— Precisamente como antes. Sempre amei e sempre amarei.

Keith não se conteve e deu um pequeno encosto de lábios nos de Frederick, o fazendo rir.

— Sempre tão espertinho — Keith disse — Mas como...

Eles olharam para os netos. Louis e Harry lado a lado, sorriram.

— Digamos que... — Harry gesticulou — Paris est la terre de l'amour..

— Ou a gente acabou se encontrando — Louis respondeu — O destino age de maneiras engraçadas, às vezes.

Frederick segurou a mão de Keith e eles olharam envolta. O bar restaurado, limpo como deveria ser.

— Genevieve adoraria ver esse bar assim — Keith suspirou — Quem dera se eu escutasse a voz de vagabunda antiga dela de novo.

— Vagabunda é a mulher que você se casou! — Uma voz de idosa correu o salão — Vê como fala de mim, Keith!

E eles se viraram, e tiveram uma surpresa.

Genevieve e Claire. Ali estavam elas, paradas na porta do Le Trous.

— Jesus — Frederick suspirou — É ela?

Alabama Song ➳ Larry versionOnde histórias criam vida. Descubra agora