"Um filhote de cachorro?"

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Capítulo 8

  A parte da manhã se passa tranquilamente, na medida do possível para o cotidiano de uma mansão repleta de vampiros de aparência adolescente: os trigêmeos atrás de Yui a colocando em situações dolorosas –por quererem beber seu sangue– e até mesmo embaraçosas, mas que ao mesmo tempo a loira, bem lá no fundo, nem se importa muito. Reiji a contragosto se tranca na cozinha para preparar o almoço após ser informado de última hora que o cozinheiro precisará se ausentar e as jovens, mais especificamente Selene, não terão como se alimentar correta e saudavelmente. Subaru continua no jardim, com vergonha demais para entrar na casa e se deparar sem querer com a morena novamente. Já Shu, bem... Este está em um dos vários salões vazios da mansão mórbida, escorado em um dos cantos escuros tentando dormir em vão.

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  Alguém entra na sala a passos silenciosos e cautelosos, procurando de onde vem o estranho cheiro de alegria que se fez presente de repente, o indivíduo que procura a causa do cheiro: Selene.

  – Então era de você? – Pronuncia-se pela primeira vez desde que entrou no cômodo, atraindo a atenção do loiro para si, que abre apenas seu olho direito e a encara com a mesma feição de "tanto faz" costumeira.

  – Se ao menos eu soubesse do que fala, baka... – Volta a fechar seu olho, colocando os braços atrás da cabeça, usando-os como travesseiro improvisado.

  – Etto... Desculpe por isso. Deve ter sido bem estranho ouvir apenas isso que falei, sem explicar corretamente. – Ri fraco em um leve constrangimento – Eu estava passando por aqui aleatoriamente, quando de repente surgiu um cheiro de alegria contagiante. Isso me surpreendeu já que... Né... Você sabe... – Gesticula rapidamente com as mãos na tentativa falha de indicar o local em que se encontram – Segui ele até essa sala e descobri que vinha de você, mas infelizmente está começando a se dissipar.

  – Continuo sem saber do que está falando, Okami-Sele. – Uma veia salta na testa da mais baixa, mas percebe que ele está apenas tentando disfarçar seus sentimentos e que sabe do que ela falou a pouco, fazendo-a voltar a expressão calma de antes.

  Afinal a poucos minutos atrás ele havia se lembrado de quando ganhou um filhote do amigo que havia feito, Edgar. O quão alegre ficou com o presente e o novo amigo. Nem tinha conseguido brincar direito com ele... Pois sua mãe ordenou que sumissem com o pequeno filhote.

  A jovem loba inspira o ar, sentindo um cheiro de triste e raiva se instaurar no ambiente, deixando-o pesado. Ela respira fundo e dá alguns passos na direção do vampiro mais velho entre os seis, sentando ao seu lado, ato esse que o faz abrir o olho direito novamente e encará-la com confusão sem nunca modificar a cara de desinteresse, claro.

  – Agora o ar se tornou melancólico e dá para sentir o cheiro de raiva junto, então não minta para mim Baka-Shu. – Ri nasalado com o apelido que acaba de dar a ele – É verdade que nós animais, principalmente cachorros e lobos podemos sentir o cheiro das emoções que os seres vivos emanam, mas não é só isso... Digamos que eu tenha uma certa habilidade em perceber quando alguém esconde algo importante de mim.

  – Por que quer tanto saber? Se você pudesse ter a oportunidade de sair daqui sairia sem nem olhar para trás ou pensar duas vezes. Não é algo que seria importante para você então apenas desista! – Vira o rosto para a direção oposta que ela se encontra, visivelmente frustrado.

  – Se eu quisesse mesmo sair daqui já teria feito isso, idiota. – Ri ainda mais, ganhando um olhar incrédulo do mais alto – Nem eu sei explicar exatamente o porquê, mas me importo sim. Entretanto... Não irei lhe obrigar a me contar se é tão contra a ideia de o fazer dessa forma. Caso um dia se sinta confortável, quando tiver algo lhe incomodando, me diga sim? – Sorri genuinamente gentil, olhando-o em seus olhos de forma profunda, mas suave.

  Um silêncio enorme instaura-se no salão vazio, mas ainda assim não é algo que incomode os dois. Shu passa um bom tempo focado na garota ao seu lado, tendo a mesma atenção dela.

  Mesmo procurando qualquer milimétrico sinal de uma mentira ou falsidade vinda dela, o loiro não é capaz de perceber nada, sendo atingido pela sinceridade dela em um baque forte. Droga, por que me coração começou a ficar acelerado de repente? Ela é um ser da noite assim como eu e pode perceber isso.

  – Nani? Por que seus batimentos cardíacos estão tão rápidos de repente, Shu-kun? – Dessa vez o coração do vampiro parece falhar uma batida ao escutar o apelido anormal sair dos lábios da garota.

  – Só não esperava que falasse essas coisas. Não tenha a impressão errada, lobinha. – Fala a última palavra de forma mais arrastada, carrega em sarcasmo, sorrindo provocativo para a morena.

  – O que há para entender errado, vampirinho? – Arqueia a sobrancelha, devolvendo a provocação. O loiro solta um resmungo que a faz sorrir de orelha a orelha.

  Percebendo que não terá como se esquivar da menor, Shu conta o motivo da alegria repentina e passageira que ela sentiu anteriormente, também explicando o momento que o ar ficou pesado. Os dois encaram a parede do outro lado do salão, ficando em silêncio por pouco tempo.

  – Tive uma ideia! – Exclama sorridente.

  – Devo me preocupar com isso? – Sorri de canto, provocando-a novamente.

  – Para com isso, Baka-Shu.

  – Não fiz nada. – Dá de ombros ainda mantendo o sorriso de canto mínimo em seu rosto – Fala logo. – Apesar de sua fala sair grosseira, por dentro o vampiro esconde a curiosidade que apareceu em si.

  – Vamos adotar um filhote de cachorro.

  – HÂ?! – A menina é capaz de vê-lo se alterar pela primeira vez desde que chegou a mansão, surpreendendo-a por alguns instantes.

  – Isso aí! Apesar de eu ter achado sua mãe irritante por ter feito algo tão sem sentido assim, não quero ser desrespeitosa com ela, mas ela não está mais viva, certo? – Shu apenas acena positivamente com a cabeça, confuso demais para falar algo – Ela não poderá fazer essa crueldade de novo. Você poderá finalmente ter um amigo canino como sempre quis quando era criança!

  Ela levanta animada, ficando na frente do mais alto, estendendo a mão em sua direção para ajudá-lo a se levantar. Seu olhar cai sobre a mão da morena e em seguida volta ao rosto da mesma.

  – Não vou fazer isso.

  – Para de ser chato, loiro oxigenado. – Bufa irritando-se – Você pode até reclamar agora, mas depois que fizer o que eu digo verá que ficará feliz. É uma promessa! – O outro ri ao escutar o que é dito.

  Pensando por alguns segundos, ele finalmente se move, inicialmente segurando a mão delicada da jovem, mas em seguida a puxa em sua direção fazendo-a cair sentada em suas pernas e de frente para si. O rosto da morena ganha um tom forte de vermelho.

  – O que v-você...?

  – Odeio admitir isso, mas você parece interessante Okami-Sele.

  – Para com esse apelido merda, Baka-Shu! – Ralha, dando um tapa relativamente forte no braço direito dele.

  – Ouch! Essa doeu. – Apesar de reclamar, um sorriso um pouco maior e dessa vez mais sincero que o último surge e fica estampado em seu rosto.

  – Hmpf! Era para doer mesmo! – Cruza os braços na frente do corpo e vira o rosto para a esquerda, mas volta a encará-lo, o acompanhando no sorriso.

  O mais alto segura repentinamente um dos braços da jovem, levando o pulso da mesma até perto da boca, abrindo-a e consequentemente revelando suas presas. Ah, droga. Isso porque eu estava tentando ser legal com esse loiro oxigenado. O loiro finalmente fecha a boca em volta do pulso da menor, perfurando-o com seus caninos avantajados, sorvendo aos poucos o líquido carmesim. Selene morde seu lábio inferior, segurando um gemido de protesto. Os olhos azuis arregalam-se levemente ao sentir o gosto tão viciante, sendo mais saboroso do que o de Yui. Mesmo para uma criatura sobrenatural como ela, uma loba, não é normal que tenha o sangue tão bom assim. O que há de errado com essa loba?

Continua...

The Wolf - Diabolik LoversWhere stories live. Discover now