Capítulo três - Safira

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    Fecho a porta, mas eu ainda sinto que Harris está aqui. E não posso voltar a abrir a porta, porque talvez eu esteja errada. Só que eu sinto que ele está agindo de um jeito estranho. Pode ser apenas impressão.
   Tiro a roupa e visto o meu pijama, lavo os dentes, faço duas tranças no meu cabelo e deito na cama mais fofa que eu já dormi. Sinceramente, parece que estou nas nuvens ou dormindo num paraíso. Do que são feitos esses colchões?
    Meu celular toca na mesa de cabeceira, e me lembro que esqueci de ligar para o Henry. É impressão minha ou eu praticamente esqueci que ele existe desde que eu cheguei aqui? Isso é mau?
   Atendo. — Alô!
   — Oi! Eu estou ligando porque você esqueceu de ligar para mim. — Sua voz parece triste.
    — Ah! Sim, eu peço desculpa, Henry.
    — Não faz mal. Como você está?
    Como eu estou? Estou aliviada por esse tempo. Sinto que estava precisando disso já algum tempo. Tenho que esfriar a cabeça um pouco e aproveitar enquanto tenho paz. Eu acho que estou bem.
    — Um pouco cansada. E como você está?
    — Morrendo de saudades de você. Queria estar com você nesse momento. — Ele suspira.
    — Eu também queria que estivesse aqui. — Não. Eu não queria. Não devia ter dito nada.
    — Bom saber disso. Eu estive pensando em algumas coisas. Quando você regressar, a gente poderia começar a escolher a nossa casa. Tenho algumas revistas de como decorar e essas coisas. O que você acha? — Agora ele está agindo como se nada tivesse acontecido. Não quero que a nossa superação pareça forçada.
    — Eu acho ótimo. — Mas eu não me sinto entusiasmada como antes. Já não consigo dizer o que eu realmente penso. — Depois você me mostra tudo quando eu voltar.
    — Farei isso. — Ele suspira. — Quero tanto te beijar nesse momento.
    Fecho os olhos. O medo surge dentro de mim. E se ele procurar outra enquanto eu estiver fora? Será que ele faria isso de novo? Ele me machucaria de novo?
    — Onde você está? O que está fazendo?
    — Estou no meu apartamento. Eu estou conversando com você e mais nada. — Ele diz. Percebeu porquê eu perguntei isso. — Eu sei que pensa que eu faria de novo, mas eu não faria, Safira. Já conversamos sobre isso. Já superamos. Está tudo bem. Eu te amo.
    — Desculpa. Você sabe que eu sofri demais...
    — Eu sei e realmente sinto muito. A gente não devia tocar nesse assunto. Não assim. Quando você voltar vamos conversar, mas eu quero que tudo esteja bem, por favor! Não posso te perder, loirinha.
    — Você tem toda a razão. Sinto muito se tenho sido inconveniente.
    — Não faz mal. Vou deixar você dormir, docinho. Te amo!
     — Boa noite, Henry! — Desligo.
     Fecho os olhos e suspiro. Com certeza que Henry quer que isso dê certo e está se esforçando, mas eu não consigo me esforçar. Tem uma barreira invisível que me impede de continuar. Estou parada num lugar sem saber o que fazer. Só sei que tenho que perdoar tudo. Mas perdoar não significa esquecer.
    Desligo o celular e durmo porque estou cansada.

    Depois de fazer a higiene, vou para o quarto de Esmeralda, mas encontro ela deitada parecendo doente. Aconteceu isso antes da viagem, e hoje de novo? Posso estar errada, mas ela deve estar doente ou grávida. Espero que seja a segunda.
    Me aproximo dela e sento ao seu lado. Ela ainda esta usando o pijama e não parece capaz de levantar da cama.
    — O que você tem, Esme?
    — Eu não sei. Acho que foi o jantar de ontem. — Ela olha para mim. — Não conta para o Peter que estou mal, por favor!
    — Porquê não? Ele é seu noivo. E se estiver doente, não vai poder esconder isso.
    — Eu sei, mas eu vou ficar bem. Só preciso de um chá.
    Rio. — Você não gosta de chá!
    — Mas nessas circunstâncias, eu preciso mesmo de um chá. Chá de camomila, por favor!
    — Está bem. Quer comer alguma coisa também?
     Ela faz careta. — Céus! Não!
    — Eu vou fazer o seu chá e impedir que Peter entre.
     — Está bem. Diga que ainda estou dormindo.
     — Está bem. Mas se você piorar, eu conto tudo.
     Saio do quarto e fecho a porta. Oiço outra porta se fechando e olho para o lado, onde Harris está parado olhando para mim. Ele está usando pulôver branco, calça preta e está com o cabelo um pouco despenteado. Ah! E também está sorrindo para mim com todos os dentes brancos.
    Eu caminho para alcançar as escadas e aceno para ele, mas chega até mim. Seu perfume invade o meu nariz e não consigo resistir em sorrir. Ele cheira muito bem.
    — Bom dia! — Ele segura a minha mão e desçemos juntos, como se eu fosse incapaz de descer as escadas sozinha. Não digo nada, apenas olho para ele. Quer dizer, como alguém pode ser tão... cavalheiro?
    Depois de descer os degraus, nossas mãos se separam. — Obrigada!
    — De nada. Qualquer coisa, eu estarei na sala. — Ele entra na sala sorrindo.
    Percebo que estou parada olhando para ele, quando Rubí sai da cozinha e olha para mim de um jeito estranho. Eu endireito a minha roupa, como se isso fosse importante. Mas será que não é? O que eu estou pensando?
    — Você está bem? — Rubí pergunta.
    — Ótima. Bom dia. — Beijo a sua testa e entro na cozinha. — Bom dia, Jade!
    Jade está fazendo o café e sorri para mim. Eu coloco a chaleira no fogo e procuro pelas saquetas de chá. Ainda não cruzei com Peter e devia ter dito para Harris avisar para ele que Esmeralda está dormindo.
    — O que você está pensando? — Jade pergunta.
    — Esme! Ela não está muito bem. Quer ajuda?
    — Não. Eu consigo sozinha. Rubí também se ofereceu e eu recusei. — Ela sorri. — Quero ver Nicholas comer com muito gosto.
    Sorrio para ela também. — Porquê se importa tanto com ele?
    — Vingança!
    — Fazendo algo delicioso?
    — Não questione as minhas vinganças.
    — Está bem. — Quando a água ferve, despejo numa chávena e coloco a saqueta.
    Peter entra na cozinha radiante e olha para nós com um sorriso de orelha a orelha. Jade e eu trocamos olhares e sorrimos para ele também.
    — Bom dia, futuras cunhadas!
    — Bom dia! — Jade responde. — Você está bem disposto hoje.
    — É verdade. Onde está a Sofia?
    — Eu pedi para ela ficar mais um pouco na cama. — Ela responde olhando para a frigideira.
    — E Esmeralda também está dormindo. Ela disse que ia ficar até tarde na cama e não quer ser interrompida. Nem por você, Peter!
    — Sono de beleza! — Jade acrescenta.
    Peter franze a testa. — Está bem. Mulheres! — Sussurra antes de sair da cozinha.
    Eu também saio e levo o chá para Esmeralda. Ela bebe e deita na cama. Ainda não parece bem, mas melhorou um pouco nesses minutos.
    — Espero que fique bem.
    — Eu também. Não quero adiar o casamento. Vamos casar na sexta.
    Sorrio e coloco seu cabelo atrás da orelha. — Talvez seja gravidez, já pensou nisso?
    — Não acho que seja gravidez. A gente se protege.
    — Erros acontecem, Esme! Devia fazer um teste.
    — Vou pensar nisso.
    — Eu estou morrendo de fome. Se precisar de mim, liga. — Levanto e beijo a sua testa.
    — Claro!
    Saio do quarto e desço as escadas rapidamente. Tão rápido que nem consigo parar meus pés, me fazendo ir contra Harris. Mas ele é mais rápido e me segura na cintura e no corrimão com a outra mão. Seus olhos azuis oceano estão brilhando e quando eu toco o seu braço e seu peito para não cair, sua mão aperta a minha cintura.
    — Tenha cuidado. — Mais uma vez, o sotaque ataca o meu sistema. E ele diz de um jeito... sexy. O que eu estou pensando?
    — Desculpa!
    Ele me solta com cuidado e me leva para baixo, me ajudando a descer os degraus mais uma vez. Meu rosto deve estar todo vermelho porque estou completamente envergonhada. O que está acontecendo comigo?
    — Eu ia chamar você!
    — Porquê? — Pergunto.
    Ele passa a mão no cabelo. — O café ainda não está na mesa e lembrei que há um lugar que você não conhece.
    — Sério?
    — Sim. Quer vir?
    — Está bem.
    Sigo ele para fora de casa e vamos para o campo. Quanto mais nos aproximamos, vejo que há estábulos. Harris olha por cima do ombro e sorri. Desvio o olhar e continuo atrás dele até chegarmos nos estábulos.
   Um homem está com um cavalo branco muito bonito, escovando o seu pêlo. Sorrio quando me aproximo, mas o cavalo é assustadoramente alto.
    Harris segura a minha mão e me faz tocar nos pelos dele. — Não tenha medo. Eles são inofensivos. Só são perigosos quando estão assustados.
    — É lindo.
    — Linda! — Ele corrige. — Devia ver o namorado dela.
    Rio. — Ela tem um namorado? Só um?
    Ele olha para mim. — Sim. Eu escolhi o namorado dela. Eles estão afastados dos outros cavalos solteiros.
    — Você não está falando sério. — Digo.
    Harris afasta sua mão da minha e tira uma maçã. Ele dá para o cavalo e acaricia e sorri para ele. Quer dizer, ela. A égua.
    — Eu posso montar? — Pergunto.
    Ele olha para mim de lado. — Está bem, mas com cuidado.
   Olho para o meu macacão azul. — Posso ir assim vestida?
    — Não há problema. Depois pode usar as roupas apropriadas. — Ele vem até mim.
    — Mas ela é tão alta! Como eu vou conseguir montar?
    — Eu ajudo.
    Harris coloca as duas mãos na minha cintura, me trazendo uma sensação estranha. Ele tem mãos grandes e fortes. Isso está me distraindo completamente.
    — Eu não sei se vou conseguir.
    — Confia em mim.
    Harris me ajuda a subir, mas o cavalo começa a se mexer e ele segura as rédeas ao mesmo tempo que segura a minha mão.
    — Ei! — Harris acalma a égua, e olha para mim. — Coloque o pé esquerdo no estribo. — Ele sorri e me ajuda a fazer o que quer que seja que ele está falando, me levantando. — Aqui.
    — Está bem.
    Eu monto no cabelo, me inclinando e sentando devagar na sela, fazendo tudo como Harris orienta e me entrega as rédeas, me pedindo para segurar com firmeza.
    — Com cuidado. — Ele não solta o cavalo.
    — Aqui está muito alto. E se eu cair?
    — Não vou deixar você cair. Confia em mim.
    Seguro as rédeas com força e o cavalo começa a se mexer. Harris olha para mim preocupado. Deve ser por causa da cara que estou fazendo.
    — Eu tenho medo. — Digo.
    Então, Harris monta o cavalo também, num movimento rápido e fica atrás de mim. Suas mãos seguram as rédeas e ele respira na minha orelha. Porquê eu fiz um rabo de cavalo?
    — Ainda está com medo? — Pergunta.
    — Já não. Mas onde eu seguro?
    Seus braços apertam ao redor da minha barriga enquanto segura as rédeas. Coloco as minhas mãos por cima das dele e suspiro. É errado outro homem me segurar assim, sendo que estamos apenas montando um cavalo?
    — Vamos, Princesa! — Ele diz e o cavalo começa a andar devagar.
    — Isso é incrível e assustador ao mesmo tempo. — Digo. — Me segura muito bem, por favor!
    — Com prazer! — Ele diz e o cavalo aumenta as cavalgadas. Oiço o riso de Harris no meu ouvido quando aperto sua coxa. Eu tenho um pouco de medo, apenas isso.
    — Ah! — Tento me controlar. — Harris!
    — Não é incrível?
    — Vou dizer depois de descer.
    O cavalo abranda, mas continuamos para frente. O campo deles é muito bonito e passamos pelos outros estábulos, depois vamos para mais longe, nos afastando. Começo a adorar agora que já me sinto segura e com vontade de continuar nesse cavalo.
    — Já está se divertindo? — Pergunta.
    — Com certeza!
    Rodamos com o cavalo, depois decidimos regressar. O cavalo acelera um pouquinho, quando Harris puxa as rédeas. Estou começando a gostar da sensação. O medo está passando, mas eu sei que se eu estivesse montando sozinha, seria incapaz de fazer tudo isso.
    — Isso é maravilhoso! — Digo e olho para o céu, apoiando a cabeça no ombro de Harris.
    O cavalo cavalga de volta para os estábulos e pára quando Harris, mais uma vez, puxa as rédeas. Ele fica parado, mas não pára de se mexer.
    — Ei! Querida, não! Pára, meu amor! — Harris diz para ela. Mas dizendo no meu ouvido, eu fico completamente arrepiada. O seu sotaque não ajuda em nada.
    — O quê? — Pergunto.
    — Pára, princesa. — Ele acalma o cavalo e desce graciosamente. — Eu chamo ela com alguns nomes carinhosos. Ela gosta.
    — Entendi. Como eu desço?
    Ele me ajuda a descer, mas acaba comigo colocado os braços ao redor do seu pescoço e minhas pernas na sua cintura.
    Harris me põe no chão olhando para mim em cada processo. Seus olhos são interessantes, mas eu desvio o olhar e assusto quando o cavalo se mexe e vira para mim. Harris acaricia ele novamente. Quer dizer, ela.
    — Calma, querida!
    Sorrio. — Você deve gostar muito de cavalos.
    Ele olha para mim. — Culpado. Dificilmente monto a Princesa. Eu gosto mais de montar o Rei.
    — Onde está o Rei?
    — Noutro estábulo. Ele é gigante, você ficaria assustada.
    — Um dia desses, eu posso montar?
    — Só se for comigo. — Ele sorri.
    — Claro. — Desvio o olhar para as minhas mãos.
    — Então, vamos voltar para dentro. Eu estou morrendo de fome.
    — Eu também.
    Deixamos a princesa para trás e vamos para casa. Eu continuo atrás de Harris, e ele continua olhando por cima do ombro, sempre se certificando que eu estou atrás dele. O que estamos fazendo?

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Espero que tenham gostado do capítulo.
beijos!

Safira - Pedras Preciosas Where stories live. Discover now