Capítulo vinte e oito - Harris

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     Volto para casa, mas aparentemente todos já devem estar dormindo, então vou para o meu quarto que está completamente escuro, quando eu entro. Acendo as luzes e o que eu vejo? Dois rostos furiosos olhando para mim, sentados na minha cama.
    Só faltava Renner, mas ele deve estar com Rubí nesse momento e pediu para não ser incomodado em circunstâncias nenhumas. Eu não sei o que está acontecendo, mas pelo olhar deles, posso adivinhar que fiz algo errado.
    Que merda fiz eu dessa vez?
    — Ora, ora, ora! — Nicholas diz. — É sua cara de culpado?
    — O quê?
    Peter olha para baixo. — Eu nunca pensei que você fosse capaz de fazer algo assim.
    E então, eu me lembro. Eles devem ter descoberto que estou casado. Puta merda! Eles sabem de tudo agora querem satisfação. Estou encurralado. O que eu vou dizer? Nunca pensei que fossem descobrir desse jeito.
    — Aconteceu! — Tiro o meu paletó.
    — Sério? Essa é a sua resposta? — Peter levanta. — Foi bom ver ela chorando?
    — Do que você está falando?
    — Do que aconteceu hoje, porra! — Nicholas permanece no seu lugar. — Com a Safira. Ou tem outra coisa que a gente devia saber?
    — O que aconteceu hoje com a Safira? — Não quero que ele foque na outra coisa que deveriam saber.
    Peter olha para mim. — Tem a certeza que não sabe? Eu fui buscar ela no Golden hoje.
    Merda! Merda! Merda!
    — O quê?
    — Isso mesmo. Ela está chorando demais e sabe o que ela disse? Bem, ela disse que você mandou uma mensagem para se encontrar com ela lá, simplesmente para que visse você com outra.
    — Não!
    — Eu entendo. Realmente entendo que queira seguir em frente, mas não desse jeito, Harris. — Nicholas me repreende agora.
    — Eu não sabia que ela... — Pego no meu celular e procuro as mensagens. — Merda! Merda!
    — O que foi? Mandou sem querer? — Peter pergunta.
    — Infelizmente. Eu não percebi que tinha mandado para ela, porque eu estava conversando com ela e com Danika ao mesmo tempo. De verdade, eu não fazia ideia.
    — Ela acha que fez de propósito. E Harris, ela está realmente machucada. Ela chorou nos braços da minha esposa o caminho todo. Ela disse que te ama.
    Sento na poltrona para digerir tudo o que ele está dizendo. Como assim? Eu não estou entendendo nada porque eu achava que ela só queria ficar com ele. Porquê agora ela... será que me ama mesmo? Ela me ama mesmo?
    — E pelo jeito que ela estava... — Peter continua. — ... ela te ama mesmo. Não choraria daquele jeito se não amasse, ela não ficaria daquele jeito depois de ver você com outra se não amasse.
    Agora estou me sentindo muito mal. Porquê eu não verifiquei as mensagens? Assim, teria cancelado tudo com a Danika e conversaria com ela, qualquer coisa que a impedisse de me ver com ela. O que será que ela viu? Céus, não quero imaginar.
    Eu sei que não fizemos nada de mais, mas a gente se beijou muito, ela sentou no meu colo várias vezes, beijou o meu pescoço, eu beijei o seu ombro, foram muitos beijos e todos eles foram muito... merda! Espero que ela não tenha visto aquilo.
    — Obrigado por me contarem. Eu não fazia ideia que tinha feito isso. Estou me sentindo péssimo.
    — Eu fico feliz por saber que não fez de propósito. — Nicholas levanta. — O que vai fazer agora?
    — Conversar com ela. Acho que é isso que eu devo fazer.
    — É isso que deve fazer. — Peter responde.
    Assisto. Eles saem do meu quarto e aproveito o momento sozinho para pensar em tudo o que Peter disse. Safira estava chorando e disse que me ama. Era isso que eu queria, mas não queria que fosse assim. Tenho que resolver isso de uma vez.

    Estaciono o carro na entrada da casa de Sofia e desço para tocar a campainha. São sete horas, mas eu preciso conversar com Safira antes que ela vá trabalhar.
    Jade abre a porta para mim, mas não me recebe com um sorriso. Deve ser porque Safira contou sobre a mensagem. Agora todos devem estar pensando que eu sou um idiota. Talvez eu seja mesmo. Depois de tudo estou aqui.
    — O que você está fazendo aqui? — Pergunta furiosa.
    — Eu quero conversar com a Jade, por favor!
    — Eu não sei. Pensei que você fosse diferente, Harris. Sei que minha irmã errou, mas não precisava uma vingança daquelas.
    — É sobre isso que eu preciso falar com ela. Foi tudo um mal entendido. Por favor, me deixa falar com ela. Eu imploro.
    Ela fecha os olhos por alguns segundos. — Está bem. Você pode entrar.
    Eu entro e sento no sofá, enquanto Jade entra por um corredor. Espero olhando para a foto de Sofia e suas quatro filhas. Safira é a mais linda de todas elas.
    Não parei de imaginar ela chorando por minha causa. Agora não consigo tirar essa imagem da minha cabeça. Será que ela viu? Não queria que tivesse visto eu beijando outra.
    Safira sai do corredor olhando para mim. Eu levanto imediatamente assim que me deparo com cabelos loiros em um coque, maquiagem, apesar dela raramente usar, uma pantalona branca, blusa vermelha e um blazer branco, tudo acompanhando com saltos altos pretos. Ela está linda.
    — Oi! — Digo.
    — Oi! — Desvia o olhar.
    — Como você está? — Arrisco.
    Ela olha para mim novamente. — Não sei. Como você esperava que eu me sentisse, Harris?
    Me aproximo dela. — O que você viu?
    — Se está me perguntando isso é porque deve ter feito algo horrível, não é?
    — Não é o que está pensando. A gente só...
    — Transaram? Dormiram juntos? — Sua voz falha.
    — Não. Eu não faria isso. A gente só se beijou. Nada mais. Foi o que você viu?
    Ela limpa as lágrimas. — Não. Eu apenas vi você sussurrando na orelha dela, mas obrigada pela informação adicional. Você veio aqui só para saber o que eu vi, Harris?
    — Não. Eu vim aqui para dizer que não era minha intenção mandar aquela mensagem. Não queria que me visse daquele jeito.
    Ela se afasta. — Está me dizendo que não queria mandar aquela mensagem?
    — Eu não queria. Foi um acidente.
    — Por favor! Eu tenho cara de idiota, Harris? Porque acho que seria muito conveniente para você se vingar daquele jeito.
    Passo a mão no cabelo. — Ah, Safira! Você me conhece!
    — Não. Eu não te conheço. Eu não sei quem você é.
    — Depois de tudo acha mesmo que eu faria uma coisa dessas com você?
    — Eu não sei. Como eu já tinha dito, eu não te conheço!
    — Você não quer acreditar em mim. Porque você nunca acredita. Não acreditou em mim desde o início quando eu disse que estava apaixonado por você.
     — Se estivesse realmente apaixonado por mim, tenho a certeza que não teria beijado outra mulher.
     Rio sem humor. — Isso não é justo, Safira. Você nunca beijou o Henry, por acaso?
    — Pelo menos, ele nunca se vingou de mim.
    — Mas que porra, Safira! EU NÃO ME VINGUEI DE VOCÊ! — Grito.
    — NÃO GRITA COMIGO! NÃO SE ATRAVA A GRITAR COMIGO, PORRA! — Ela também está ficando furiosa.
    — Você não está me entendendo. Eu não tenho como provar mais foi um acidente. Eu não mandei a mensagem de propósito. Eu não queria te machucar.
    Ela se aproxima de mim. — Porquê eu não consigo acreditar?
    — Não acredita em mim, mas acredita no filho da puta que te traiu?
    — Não fala assim com ele!
    — Está mesmo defendendo ele? Está, Safira?
    Pergunto. Estamos tendo nossa primeira briga de casal. Talvez seja a última, mas pensar nisso faz o meu peito doer. A forma como ela olha para mim agora também, como se estivesse procurando palavras para me machucar, também.
    — Estou porque eu vou me casar com ele. Diferente de você, Henry me ama. — E aí está. Ela conseguiu.
   Desvio o olhar. — É isso que você acha, Safira? — Não dá para descrever o quanto eu me sinto machucado nesse momento. — É isso que você acha? — Repito.
    Ela não responde.
    Eu poderia perguntar para ela se Henry estava preocupado com o fato dela arrumar um emprego. Será que ele sabia das suas entrevistas de emprego? Ele sequer sabia onde ela estava trabalhando naquele momento? Ele felicitou ela no seu primeiro dia de trabalho? Ele ia correndo quando ela pedia?
    Mas eu não pergunto. Depois que Peter me disse que Safira confessou que me amava, eu tive um pouquinho de esperança. Eu tive esperança que ela iria acreditar em mim, que poderíamos tentar, que poderíamos esquecer tudo o que aconteceu nesses últimos dias. Mas parece que eu sempre me engano com ela. Porquê eu pensei que poderíamos resolver as coisas e esquecer o divórcio? Independentemente do que Safira sente ou não por mim, ela sempre vai ficar do lado dele, sempre vai preferir ele.
    Eu me viro para que não possa ver as minhas lágrimas. Porque está doendo saber que acabou assim. Dói pensar que há alguns minutos eu achava que ia ficar tudo bem. Agora ela vem dizer essas coisas para mim.
    Ela acha que eu preciso dizer aquelas palavras para expressar o meu amor. Ela prefere acreditar num homem que diz isso para ela sem parar. Nem sempre as coisas funcionam assim, mas parece que ela não quer saber. Eu também devia parar de me importar, mas eu não consigo porque eu realmente amo ela. A minha esposa.
    Não era suposto ser assim tão difícil. Mas ela diz que não me conhece. Ela afirma que não me conhece. Mas eu sei que ela é uma mulher diferente de todas que eu já conheci. Safira gosta de azul, talvez por causa do seu nome, talvez por causa dos seus olhos. Safira gosta de comer panquecas pela manhã e gosta de cozinhar. Ela não gosta de demonstrar fraqueza, só quando não parece se importar com mais nada.
    Eu lembro da roupa que ela usou quando a conheci, da roupa que usava quando chegou na nossa casa em Vegas, da roupa que usou quando nos beijamos pela primeira vez, da roupa que usou quando fizemos amor e até da roupa que usou quando foi embora naquele dia.
    Mas ela dizia que eu não a amava. Talvez fosse melhor ela acreditar nisso, porque eu acho que mesmo que diga e insista, ela não vai acreditar em mim. E eu acho que já estou cansado disso. Estou completamente cansado e não quero que o meu coração leve outro golpe. Estou cansado de ir atrás dela e ser sempre colocado contra a parede. Talvez se eu desistir, se eu parar de me importar, parar de insistir, parar de dizer o que eu sinto, parar de ver ela seja o certo.
    E talvez um dia, eu não sei quando, ela saiba que eu disse a verdade sobre a mensagem, e ela perceba que eu a amava. Mas eu sei que será tarde demais. A partir do momento que ela disse aquilo, se tornou tarde demais.
    Minhas lágrimas escorregam no meu rosto e eu alcanço a maçaneta antes que ela diga alguma coisa. Também não quero ela veja o quanto isso dói. Eu estou cansado de tudo isso.
    Saio e fecho a porta. Limpo as lágrimas com o meu lenço e vou para o meu carro como se nada tivesse acontecido. Na verdade, acho melhor assim. Acreditar que nada aconteceu realmente. Melhor esquecer tudo o que aconteceu em Vegas e tudo o que aconteceu há semanas.
    Um dia, ela vai perceber que eu realmente a amava. Mas isso não vai mais me importar. Nunca mais.

    Ao chegar na Tales Tec, eu me fecho no escritório, tentando trabalhar, mas eu não estou conseguindo. Devia ir para casa e fingir que não estou bem. Bom, fingir não, porque eu realmente não estou bem.
   Renner entra no meu escritório, me fazendo limpar as lágrimas rapidamente, mas já é tarde porque ele viu tudo. Eu não consigo esconder as coisas por muito tempo para os meus irmãos. Como ainda não contei que sou casado?
    — Merda! O que aconteceu, Harris? Você conversou com ela?
    Afirmo. — Eu nunca mais quero ver Safira na minha vida, por favor! Não quero me apaixonar por outra mulher. Não quero mais isso para mim. Porque dói amar alguém. Dói você se esforçar tanto e não ter nada em troca. Eu tentei mesmo. De verdade, eu tentei Renner, mas olha. Eu sempre termino machucado.
    — Não fala assim, Harris. Ouve, tenho a certeza que Safira deve estar tão machucada quanto você.
    — Eu já não quero saber. Meu coração se cansou tão rápido. Eu me machuquei tão rápido. — Suspiro. — Ela nunca acredita em mim e insiste em dizer que não me conhece. Ela disse que aquele... olha, Renner, eu só estou cansado de sofrer por ela. Mesmo que estivesse machucada, não era motivo para dizer aquelas coisas.
    — Não, não era, mas...
    — Mas nada! — Enxugo as lágrimas. — Acabou. Acabou, Renner! Eu não quero saber mais sobre ela ou qualquer coisa que tenha a ver com ela. Nunca mais. Nunca mais diga o nome dela na minha frente, por favor!
    — Está bem. Eu sinto muito, irmão.
    — Eu sinto mais.

Safira - Pedras Preciosas Where stories live. Discover now