Capítulo onze - Safira

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    Vejo Henry ligando para mim e não consigo explicar o que estou sentindo. Lembro de tudo o que eu disse para ele quando soube que me traiu, lembro de tudo o que eu pensei, mas eu estou fazendo o mesmo. Ele iria pensar que é uma vingança, mas não é. Eu não faria isso por vingança. Eu sou a pior pessoa que existe nesse mundo.
    Não tenho forças para atender, apenas deixo tocando. Harris vem até mim e toca o meu ombro. Eu não posso ficar com raiva e gritar com ele porque eu tenho que admitir que eu também queria. Eu também tenho culpa. Mas Henry ainda me ama, e talvez Harris só queira fazer sexo comigo. Eu nem devia pensar muito sobre isso.
    Me afasto e visto o meu short primeiro, depois a minha camisa, quando o celular já está seguro no meu bolso. Abotoo sem olhar para Harris, mas ele também está vestindo.
    — Safira!
    — Harris, por favor, não diga nada. Eu já me sinto ruim o suficiente. — Termino de vestir e olho para ele.
    — Não precisa ficar assim.
    — É melhor a gente voltar para casa, Harris.
    Espero ele terminar e montamos o cavalo. Voltamos para casa em silêncio, sem tentar nada, como se fossemos completos desconhecidos. Mas não é isso que realmente somos? Não sabemos nada um sobre o outro. Podíamos levar meses ou anos para a gente se conhecer.
    Finalmente chegamos, mas Harris não desce. — Sei o que você está pensando sobre mim. E sei que quer que peça desculpa. Eu não vou fazer isso porque eu sinto que pela primeira vez estou fazendo algo certo.
    — Como pode ser certo a gente transar, se nós vamos casar com outras pessoas?
    — Um dia, espero que possa entender. — Ele desce e me ajuda a descer sem tentar nada. Nem espero que faça, saio correndo.
    Vou para a cozinha lavar as mãos e olho para Jade fazendo biscoitos com a ajuda da mamãe. Não queria que nossa mãe estivesse aqui, ela vai desconfiar.
    — Algum problema? — Ela pergunta, como se tivesse lido a minha mente.
    Desvio o olhar para poder pensar em alguma mentira. — É por causa do Henry.
    Ela se aproxima de mim e me abraça. — Oiça, você não precisa se torturar com esse assunto. Tem a certeza que já perdoou ele?
    Olho para Jade. — Eu perdoei sim. O que incomoda é que eu sinto que as coisas nunca vão voltar a ser como antes.
    — Com tempo tudo isso vai passar. É melhor não pensar no casamento por enquanto.
    — Obrigada, mãe.
    — Agora vamos fazer o jantar. Não esqueçam que temos um jantar especial de noivado da vossa irmã.
    — Claro que não. — Jade responde. — Vou só terminar os biscoitos.
    Mamãe sai da cozinha, e eu aproveito para conversar com Jade.
    — Biscoitos para o Harris? — Pergunto.
    — Espero que você não esteja com ciúmes. Eu só agi daquele jeito porque o idiota do Nicholas estava lá.
    — Eu não sei, parece que Nicholas ficou bravo com o Harris.
    Jade pára de fazer a massa e olha para mim sem acreditar, depois sacode a cabeça em descrença. Eu achei que Nicholas parecia com ciúmes. Será que estou errada?
    Ela ri. — Eu duvido. Um homem apaixonado não diz ou faz as coisas que ele faz. Impossível.
    — Então, eu já disse para não seguir esse caminho. Eu não quero que você se machuque.
     Ela revira os olhos. — Não se preocupe! Depois disso tudo, cada um vai seguir a sua vida e eu vou esquecer esse idiota. Mas... — Ela suspira. — Ele tem o cabelo perfeito, o sotaque perfeito naquele voz grave, o corpo perfeito...
    Eu me aproximo dela. — Você também é perfeita.
    — O quê? — Sorri e finge que está sem jeito. — Mas e você? Como correu o passeio de cavalo.
    Fecho os olhos. — Por favor, não me lembre disso. A gente quase transou.
    — Safira!
    Olho para ela. — Eu sou um monstro. Eu não quero machucar o Henry. E Harris só deve querer me levar para cama.
    — Eu não acho que ele seja assim. Nicholas parece, mas o Harris não. E você está gostando dele.
    — Não repita isso, por favor! Vamos mudar de assunto.
    — Claro. Vamos falar da sua entrevista de emprego.
    Mas ficamos caladas quando Nicholas entra na cozinha. Jade coloca os bolinhos num tabuleiro grande com o papel vegetal, fingindo que não está vendo ninguém.
    — Você acha que Harris vai gostar desse jeito? É que eu acho que é melhor com pedaços de chocolate. — Pergunta ela.
    Reviro os olhos. — Como você quer que eu saiba?
    — É estranho ver você cozinhar. Pensei que a única coisa que sabia fazer é voar numa vassoura durante a noite.
    Jade respira fundo e vira para ele. — Desculpa?
    — Quer que eu repita? — Ele diz. — E meu irmão tem noiva, caso não saiba. E não teria interesse nenhum em você.
    Jade sorri olhando para mim. — Você não pode saber isso.
   Reviro os olhos e saio da cozinha porque nem quero ver como isso vai acabar. Mas para o meu azar, esbarro contra Harris. O pior inimigo do meu cérebro.
    — Desculpa! — Ele diz.
    Coloco o cabelo atrás da orelha. — Não faz mal. Eu é que estava distraída. Vou para o meu quarto.
    — Está bem.
    Passo por ele e respiro o ar que não sabia que estava segurando. Vou voltar para a cozinha quando tiver 100% de certeza de que estou bem, mas antes preciso ligar para o meu namorado.
    Fecho a porta do quarto e ligo para Henry, que atende no primeiro toque.
    — Amor! Eu liguei para você...
    — Sim. Eu vi. Desculpa não ter atendido, é que deixei o celular no quarto. Hoje a noite tem um jantar especial aqui e estamos tratando de tudo.
    — Tudo bem. Eu só precisava ouvir a sua voz.
    — Está tudo bem por aí? — Sento na cama.
    — Sim. Eu só estou com saudades de você. Ainda bem que depois de amanhã você volta.
    — Sim.
    — Queria que estivesse aqui. Como está Esmeralda? — Pergunta.
    — Muito feliz e um pouco nervosa. Ela vai casar amanhã.
    — Imagino como deve estar se sentindo. Eu sei que vamos abrandar o nosso casamento, mas eu quero muito te levar ao altar, Safira. Eu te amo. E eu percebi isso, percebi que o que sinto por você é muito mais intenso do que eu pensava depois de quase ter te perdido. — Ele diz. E eu sinto dor ao ouvir isso.
    — É bom saber disso. Eu sei o quanto você está se esforçando por mim. — Seguro as lágrimas.
    — Estou mesmo.
    — Obrigada.
    — Não agradeça. Eu faço isso porque te amo.
    — Preciso desligar. Depois a gente se fala.
    — Claro!
    Desligo e fecho os olhos. Eu não consigo dizer que o amo. Não consigo mais. Quando ele disse as três palavras, de todas as vezes, eu pensei no Harris. Como isso é possível? Porquê isso está acontecendo comigo? Eu não posso estar gostando dele.
    Lembro do seu beijo e da gente quase ter transado hoje. Mas pelo menos, eu tenho a certeza que Henry me ama. Eu quero ficar com um homem que me ama e não com alguém que possivelmente só quer uma noite de prazer comigo ou só está procurando uma solução para os seus problemas. Eu não tenho que pensar mais. Vou me casar com o Henry.

Safira - Pedras Preciosas Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt