Capítulo dezessete - Safira

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    Estou nos braços de Harris.
    Imagens de tudo o que aconteceu ontem a noite passam pela minha cabeça, e eu me sinto horrível. Eu vim até aqui com ele, não posso mentir que eu não queria, eu quis muito, eu não consegui resistir e também acho errado fazer isso. Sinto como se estivesse enganando os dois.
   Ele me abraça, me prendendo no seu corpo e mesmo que esteja dormindo, ele não parece interessado em me soltar. Então, a minha única solução é acordar ele, mesmo que me pese bastante porque ele está lindo desse jeito.
    Toco a sua boca com cuidado, não com a intenção de acordar ele, mas porque eu quero. Passo a mão no seu cabelo também, no seu peito, depois tento soltar o meu outro braço, o que resulta no Harris abrir os olhos.
   Seus lábios formam um sorriso, e ele volta a fechar os olhos. — Bom dia, minha esposa!
    — Harris, eu preciso ir embora.
    — A gente precisa. — Me beija. — Estava pensando em fugir. Não tivemos a nossa lua de mel.
    — Eu quis dizer, ir embora para casa agora.
    Ele me solta. — Aconteceu alguma coisa?
    Mantenho o lençol em torno de mim. — Sim. — Minto. — Preciso ir o quanto antes.
    — O que aconteceu? — Ele senta na cama, preocupado.
    — Depois eu explico para você. — Levanto e procuro as minhas roupas. — Não tenho tempo.
    — Deixa que eu te levo. Vou vestir bem rápido!
    Visto o meu vestido, calço meus sapatos e faço um rabo de cavalo, mas o meu cabelo ainda parece despenteado. Eu só quero sair daqui o quanto antes. Ultimamente eu tenho cometido loucuras e me arrependo cada vez mais. O pior é que eu não conheço o Harris. A gente não se conhece.
    Suas mãos tocam o meu ombro. — Você não parece bem. Quer comer alguma coisa antes?
   — Não. Eu só preciso ir. — Pego no celular e vejo ligações perdidas de Jade, Rubí e Henry.
    — Espera eu terminar de me vestir. — Viro para olhar para ele. Está usando apenas sua calça e está tão sexy. Eu aprecio muito o seu gesto, mas nesse momento eu só quero ficar sozinha.
    — Eu não tenho tempo. Pode me dar dinheiro para um táxi? Eu devolvo depois.
    — Tudo o que é meu é seu. Não precisa devolver. — Ele tira algumas notas na sua carteira. — Tem a certeza que não quer que eu te leve?
    — Sim. — Recebo o dinheiro e saio correndo antes que ele diga mais alguma coisa.
    Uma verdade sobre mim é que eu não gosto de lidar com os problemas quando eles se agravam. Me sinto culpada por estar fazendo isso com os dois, não quero que nenhum deles me pressione, por isso, tudo que eu posso fazer é esperar até que surja uma solução. Quer dizer, casar com Henry não é uma solução nesse momento em que tenho o sobrenome do Harris. E está me matando não poder contar isso para as minhas irmãs.
    Eu sei que elas poderiam me ajudar e me dar conselhos, principalmente a Rubí que já passou por uma situação parecida, mas o caso dela era muito mais fácil. Ela tinha a certeza dos sentimentos pelo Renner e estava namorando com o Marcus, não estava casada. Eu estou casada com um homem e noiva de outro homem. Pior que isso?
    Bom, eu transei com o meu marido porque o meu noivo passou a noite na casa da mãe do seu filho com o celular desligado. Minha vida não podia estar mais complicada.
    Já no táxi, eu ligo para Rubí. Tenho a certeza que elas devem estar preocupadas comigo porque não contei sobre Harris nem sobre Henry. Mas acho melhor todo mundo pensar que passei a noite no apartamento do Henry.
    — Safira, onde você está?
    — Desculpa, eu dormi no apartamento do Henry. Aconteceu alguma coisa?
    — Além do seu sumiço, não. Eu vou para a faculdade daqui a pouco. E Jade disse que vai te matar.
    Consigo rir. — Já estou indo para casa.
    — Está bem. Tchau. — Desliga.
    Olho para meu vestido, onde os meus mamilos sobressaem, me alertando que eu deixei o meu sutiã no hotel. Uma parte de mim quer que ele não tenha visto e ido embora, mas outra parte quer que ele encontre porque eu amo aquele sutiã.
    Céus! Preciso de água fria na minha cabeça.

     Ainda estou esperando a ligação da Skytimes, mas parece que não vão ligar, mas não desisto. Enquanto isso, devia procurar emprego em outros lugares também. Posso ter sorte. Só não quero ficar em casa vendo filmes repetidos ou olhando para as paredes, me sentindo inútil, enquanto todas as minhas irmãs têm empregos.
    Desligo a TV no mesmo momento que a campainha soa. Só espero que não seja Henry, não atendi as ligações dele e não tenho vontade de conversar. Também espero que não seja o Harris, porque também vai querer conversar sobre ontem.
     Vou espreitar no olho mágico e vejo Harris. Não sei se é pior que seja ele ou seria pior se fosse o Henry. Será que ele sabe que eu estou em casa? Eu poderia simplesmente ignorar a campainha até ele ir embora ou seria muito cruel da minha parte?
    Suspiro, vou correndo no quarto para me ver no espelho. Tiro a camiseta enorme e a bermuda sem graça para usar um vestido amarelo tomara que cai e endireito o cabelo, só assim eu volto para a sala para abrir a porta.
    — Oi! — Harris me recebe com um sorriso. Olho para suas mãos livres e fico aliviada por não estar segurando o meu sutiã. Seria muito embaraçoso.
    Ele não está usando terno, o que significa que não foi trabalhar. Está apenas usando um suéter vermelho, calça jeans e mocassins. Volto para os seus olhos azuis oceano, me perguntando se eu realmente passei a noite com ele.
    — Oi!
    — Podemos conversar?
    — Conversar? Eu ia sair agora mesmo para fazer algumas compras.
    — Posso te levar, se quiser.
    — Não precisa. — Parece que não vou conseguir fugir. — Pode entrar.
    Ele passa por mim. Fecho a porta e viro para ele, que se aproxima para me beijar, mas viro o rosto. Não quero que pense que está tudo resolvido entre a gente, porque não está. E eu estou me sentindo péssima, porque não é justo que eu faça isso com os dois.
    — Eu quero conversar sobre o que aconteceu ontem. — Ele cruza os braços.
    — Que eu transei com você para me vingar do Henry? Eu já estou me sentindo ruim o bastante. Eu não queria te usar...
    — Você não me usou.
    — Eu acho que usei sim.
    — Depois disso, você ainda continua com ele? — Toca o meu rosto.
    — Eu não sei. Eu ainda não falei com ele.
    — Safira, você só está tornando as coisas difíceis. Não faça isso.
    — Sim, é difícil, Harris. Tudo isso que está acontecendo é difícil. Eu não contei para ninguém o que realmente está acontecendo comigo. — Me afasto. — Eu só quero resolver as coisas, mas parece mais complicado do que eu pensava.
    — Não é complicado. Você só precisava confiar em mim.
    — Eu estou. Estou confiando em você para tratar do nosso divórcio.
    Seu rosto cai. — A nossa noite não significou nada para você? — Seu tom de voz continua calmo e baixo. Na verdade, ele sempre fala assim comigo. Eu gosto, mas não devia.
    — Não me pergunte isso, por favor!
    — Você ainda sente alguma coisa por ele?
    — Eu sinto. — Digo, mas eu não tenho a certeza desse sentimento.
    — E por mim?
    Olho para as minhas mãos. — Nós não nos conhecemos. Porquê você está fazendo isso?
    — Pergunto o mesmo para você. — Ele se aproxima. — Mas tudo bem. Não precisa responder. Eu preciso resolver alguns assuntos.
    Pensei que ele sairia e fecharia a porta com raiva, mas ele me abraça, me permitindo sentir o seu cheiro agradável, depois beija a minha testa e só assim, ele vai embora.
    Sento no sofá, me sentindo como se tudo estivesse errado, sinto aquela sensação horrível e também um pouco de medo. Onde eu fui me meter?
     Será que ontem eu deixei claro que estaríamos juntos? Será que ele entendeu tudo errado? Será que eu entendi tudo errado?
    Suspiro e volto a ligar a TV, mas não quero saber dela porque não paro de pensar em tudo que aconteceu ontem. Era suposto a gente conversar com o advogado, mas infelizmente, acho que sua filha deve algum problema. Fiquei com Harris, mas porquê Henry não atendia? O que ele estava fazendo? Será que eu sou corna?
    Pego no celular, mas não tenho vontade de falar com ele. Eu poderia fugir para bem longe para não enfrentar os dois, mas não tenho essa sorte ou um superpoder para me fazer recuar no tempo. Se eu podesse recuar, eu acho que a minha vida estaria melhor do que agora.

    Uso uma calça jeans, saltos altos e uma blusa preta ombro a ombro quando vou para o bar onde a Jade trabalha. Agora ela é a gerente e parece gostar bastante daqui. Eu estou aqui porque Henry insistiu em me encontrar, e precisava de um lugar público, onde ele não pudesse colocar coisas na minha cabeça.
   Jade está atrás do balcão sorrindo e servindo uma bebida para mim. Depois de ter causado o meu casamento, eu não me atrevo a beber mais de três copos.
    — Você nunca vem aqui. Deve ter acontecido alguma coisa.
    — Eu só vou me encontrar com o Henry. Temos um assunto para resolver. — Na verdade, tudo o que eu quero é fugir antes que ele chegue.
    O dono do bar surge do nada e sorri para mim. — Você deve ser a irmã da Jade!
    — Sou sim. Safira! — Apertamos as mãos.
    — Mason. Muito prazer. Sua irmã fala muito sobre vocês. — Ele toca o ombro de Jade. — A bebida fica por conta da casa.
    — Sério?
    — Aceite a gentileza, irmã! Não seja madre Teresa. — Jade sorri.
    — Claro que eu aceito. Muito obrigada.
    — De nada! — Ele se afasta, mas não longe o suficiente para que eu possa perceber que está nos observando.
    — Ele é o melhor chefe do mundo. Paga bem, é simpático, me trata muito bem, não se importa se eu me atrasar ou faltar, ele até paga o meu táxi todos os dias. — Ela bebe uma cerveja bem gelada.
    Olho para Mason. — Não me diga. — Ele está tentando passar despercebido, mas eu consigo notar que não pára de olhar para a minha irmã.
     — Digo sim. — Ela sorri. — Então, porquê não dormiu em casa? Você não faz isso desde que descobriu a traição do Henry.
     — Eu sei. Ele precisava de mim. O seu filho passou mal.
     — Está bem. Sei que está mentindo, mas não vou insistir.
     Quero mudar de assunto mesmo assim. — Que idade tem o Mason?
     — Trinta e oito, porquê?
     — Ele é quinze anos mais velho que você.
     Ela franze a testa. — E o que isso tem a ver?
    — Tem a ver que ele gosta de você.
    — Ele é só simpático. E pelo que eu sei, ele é casado. Não venha com essa maldição sobre mim.
     — Está bem. Depois você percebe. A gente sempre percebe essas coisas.
     Ela vira para olhar para ele, que sorri para nós. Desviamos o olhar as duas. E nesse mesmo momento, Henry acaba de chegar.
    Jade se afasta sem que eu precise dizer para nos deixar à sós. Henry chega até mim e senta na minha frente com cara de cachorro molhado. Pior é que quando ele faz essa cara está mesmo arrependido.
     — Loirinha, eu sinto muito por ontem. — Começa. — Eu sei que está me evitando porque não atendi suas ligações ontem. Não aconteceu nada entre nós. Por favor, confia em mim. Eu não voltaria a ser tão idiota e fazer aquilo com você mais uma vez. Além disso, eu tenho testemunhas.
    — Antes de me dizer quem são as suas testemunhas, você pode dizer porquê desligou o celular?
    — Savannah o desligou sem eu perceber. Eu já conversei sobre ela e deixei claro que não sinto nada por ela e que nada voltaria a acontecer entre a gente.
    Dou um gole na cerveja. — Você acha que ela acreditou?
   — Ouve, ontem você parecia brava quando desligou o celular. — Ele segura a minha mão. — Foi por isso que eu pedi para a minha mãe que fosse comigo. Eu não fiquei sozinho com a Savannah, porque pensei que não acreditaria em mim.
    — Sua mãe é sua testemunha? — Pergunto.
    — Pode perguntar tudo a ela, Safira. Eu não sei, investigue tudo se quiser. Não houve nada. E da próxima vez, se você quiser, meu filho fica com a gente.
    — Ficar com a gente?
    — Sim. Loirinha, eu tenho pensado em ficar com a guarda do Reynold. A gente vai cuidar dele juntos. O que você acha?
    O que eu acho? Bom, primeiro, Savannah parece ser uma boa mãe, nenhuma boa mãe merece ser separada do seu filho. Segundo, ele não pode me pressionar ou me pedir para cuidar do seu filho com outra mulher. Eu ainda não superei sobre ele ter um filho que não é comigo. Terceiro, eu estou casada com outro homem e estou bastante confusa sobre os meus sentimentos.
    — Eu não sei. Você devia conversar com a Savannah. Henry, é um passo muito grande.
    — Está bem. Vamos resolver com calma. Agora, me diz se estamos bem. Safira, eu posso fazer tudo o que você quiser.
    Olho para a minha bebida, sentindo vontade de chorar, mas as minhas lágrimas não aparecem e felizmente porque eu não quero que ele me veja chorando. O que eu estou fazendo com a minha vida?
     — Não vamos pensar na data do casamento ainda. Nem no casamento.
     Eu não sei, mas eu consigo ver o quanto ele me ama. Sei que não devia pensar desse jeito, mas é o único que a minha cabeça confusa aceita.
     — Mas a gente está bem?
     — Sim.

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Espero que tenham gostado.
Beijos!

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