Capítulo treze - Safira

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     Acordo de um pesadelo e sento na cama, reparando o meu vestido e um pequeno buquê de rosas ao meu lado junto com um papel que parece importante e um envelope. Esfrego os olhos e tento ler o que está escrito no papel duro. Meus olhos se arregalam, então fecho e volto a abrir para ler novamente: CERTIDÃO DE CASAMENTO.
   Toco no envelope tremendo e percebo que tenho uma aliança no meu dedo. Isso não pode estar acontecendo comigo. Talvez o meu pesadelo ainda não tenha terminado. Tenho a certeza que deve ser alguma brincadeira. É impossível as pessoas se casarem do dia para a noite, não?
    Então, me vem à cabeça que Vegas é famosa pelos casamentos improvisados. Isso nem devia ser legal. Como é possível duas pessoas se casarem assim? E como conseguimos? Eu não me lembro de nada.
    Abro o envelope e vejo fotos. Fotos de mim segurando o buquê, sorrindo, mas meus olhos parecem pesados, Harris está ao meu lado sorrindo também e abraçando minha cintura. Outra foto estamos nos beijando e a outra parecemos estar dançando.
    Eu acho que quero morrer!
    Escondo todas as evidências e vou correndo para o banheiro antes de conversar com Harris. Mas é claro que a gente não pode ficar casados. Eu tenho um noivo, e o que minha mãe e seus pais vão achar disso? Fomos muito irresponsáveis para dois adultos.
    Termino o banho, nem tenho tempo de secar o cabelo e vou bater a porta do quarto do Harris. Ele ainda está usando a roupa de ontem e parece mais confuso do que eu. Talvez porque não viu as fotos e o resto das provas. Fecho a porta atrás de mim antes que alguém me veja.
    — Harris, por favor, diga que isso é tudo uma brincadeira! — Estou esperando ouvir alguma coisa que faça sentido. Talvez ele fez uma brincadeira, mas não pode. Eu tenho as provas do nosso casamento.
    — Eu não me lembro de nada. — Responde ainda sonolento.
    Estendo a palma da minha mão para que ele veja a minha aliança barata.
    — A gente casou! — Digo.
    Harris fica olhando para minha mão, depois para a sua como se não tivesse entendendo nada. Depois me encara sem dizer nada. Eu imagino o que deve estar passando pela sua cabeça e deve ser o mesmo que passa na minha.
    Ele senta na cama e esfrega as têmporas, como se estivesse pensando em alguma coisa. Espero que seja a solução para esse problema. Eu nunca pensei que fosse possível uma coisa dessas acontecer. Nesse momento, a única coisa que faz sentido para mim é a nossa embriaguez.
    — Temos provas? — Pergunta.
    — Bastante. Estão no meu quarto.
    Ele suspira. — Como... — Fecha os olhos. — Céus! A gente vai precisar de um bom advogado.
    — É muito complicado? — Pergunto com medo.
    — Muito complicado. — Ele levanta. — Mas eu vou tratar disso. Deixe tudo nas minhas mãos. Vou ligar para o meu advogado. Ele vai resolver tudo.
    — A gente não pode simplesmente voltar para lá e invalidar?
    Ele desvia o olhar. — A lei é muito complicada, Safira. A gente precisa mesmo de um advogado para tratar de tudo.
    Eu não entendo nada de lei, invalidar, nulidades, essas coisas. Tudo o que eu sei é que temos que resolver esse problema antes de voltar para casa.
    — A gente casou hoje ou ontem? — Pergunta.
    Fecho os olhos. — Hoje.
    — Desculpa! Eu não sabia que a gente ia chegar a esse ponto. Eu não sei porquê bebi tanto, é a primeira vez que eu bebo assim e que perco o controle da situação. Sinto muito, Safira.
    Olho para ele. — Eu também bebi demais. A culpa não foi apenas sua. Foi da bebida. Mas como é possível duas pessoas bêbadas...
    — Estamos em Las vegas, Safira. A cidade do pecado.
    Realmente. A gente cometeu o pior deles. Mas talvez não seja de verdade. O casamento pode não ser válido. Tenho um pouquinho de fé sobre isso.
    — É válido?
    — Não sei. Preciso ver o documento. E meu advogado vai dizer se é nulo ou anulável.
    Não entendi, mas não importa. — Está bem.
    Ele levanta e fica na minha frente. — Eu também estou sentindo. Não lembrar de nada e estar numa situação complicada é desesperador. Mas você precisa me deixar tratar disso. Eu tenho um ótimo advogado.
    Eu não conheço nenhum advogado, então acho sensato deixar tudo nas mãos de Harris. Só espero que isso não me impeça de voltar para casa essa noite.
    — Não vamos precisar ficar aqui mais tempo, vamos? Eu sei que os procedimentos legais demoram um pouco, mas eu tenho uma entrevista de emprego na segunda.
    — Vou tratar tudo com o advogado primeiro. — Ele recebe a aliança. — Vou precisas dos documentos probatórios também.
    — Até as fotos?
    — Tem fotos? — Seus olhos azuis se arregalam.
    — Sim.
    — Céus! Quanto a gente gastou? — Ele corre para pegar no celular e verificar sua conta.
     — Harris, por favor, não vamos contar para ninguém. Eu ia morrer de vergonha se alguém soubesse.
    Ele me encara. — Não se preocupe. Será o nosso segredo.
    Ele responde de um jeito estranho. Mas eu sei que posso confiar nele. Só espero que possamos resolver isso o mais breve possível. Até lá, ninguém pode saber de nada.

Safira - Pedras Preciosas Where stories live. Discover now