Capítulo quinze - Safira

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     Minha entrevista de emprego na Skytimes foi um pouco assustadora. Fiz um curso de secretariado com a ajuda do Henry, então é isso que estou tentando fazer. Mas como não tenho qualquer experiência de trabalho, eu temo que não vão ligar para mim. Espero que liguem, preciso de emprego.
    Hoje, eu vou me encontrar com Harris para falarmos com o advogado.  Sei que ele voltou ontem, mas não ligou para mim. Não que eu esteja querendo que ele me ligue, mas como estamos numa situação complicada, acho que seria melhor me manter atualizada.
    Estou sentindo algo estranho só de pensar nele. Porquê Harris não sai da minha cabeça? Eu tenho um noivo. Quer dizer, Harris é o meu marido, mas Henry não sabe, ninguém sabe, então não conta. Preciso provar para mim mesma que meus sentimentos por Harris não são românticos. Talvez eu só tenha estado atraída sexualmente.
    Suspiro e viro pela janela do carro, pensando se esse problema vai demorar para se resolver. Quero muito que a minha vida volte ao normal, mas sinceramente, isso não acontece desde que descobri a traição do Henry.
    — Loirinha, você está bem? — Henry toca a minha perna, assim que pára o carro.
    — Eu estou pensando se eles vão me dar o trabalho. Não acho que alguém como eu possa conseguir. — Minto. Tiro o cinto de segurança.
    — Você vai conseguir!
    — Espero que sim. Acho que é errado que você se sinta obrigada a me dar uma mesada o tempo todo.
    Ele ri. — Eu não me importo. Você é a minha futura esposa.
    Desvio o olhar. Ouvir ele dizer isso me faz sentir muito mal. Eu estou casada com outro homem.
     — Sim, mas eu quero ganhar meu próprio dinheiro. Ajudar em alguma coisa também.
     — Não precisa se preocupar com isso. Eu comprei uma casa. A nossa casa.
     — O quê?
     — Queria fazer surpresa. Eu lembro de como você estava entusiasmada para comprar uma casa, você ficou gritando e pulando pelos cantos.
    — Você comprou mesmo?
    Ele tira o celular e me mostra a imagem de uma bela casa. Não é muito grande, mas é linda. E é nossa.
    — É muito linda.
    Henry se aproxima de mim para me beijar. Uma parte de mim acha que é errado, porque parece que estou traindo o Harris, mas isso está ficando demasiado confuso para mim. Como assim, estou traindo o meu marido com o meu noivo?
    Depois do beijo, Henry abre a porta para mim, entramos no restaurante e ocupamos nossos lugares. Eu fico imaginando como seria se eu estivesse com Harris agora. Talvez seria uma refeição para celebrar o casamento.
    Não! Não! Não!
    Não pense nele, Safira. Seu homem está na sua frente.
    — O que você acha? — Henry pergunta olhando para mim. Eu não faço ideia do que ele perguntou.
    — Eu acho ótimo!
    Henry sorri e acaricia o meu rosto. — Ainda bem que você acha isso. Eu fico muito feliz em saber. Acaba de me fazer o homem mais feliz do mundo.
    Meu Deus! O que ele perguntou?
    — De verdade?
    — Sim. — Beija a minha mão e nota que não estou usando o anel de noivado. — Porquê você não está usando o anel?
    — Eu não me sentia pronta.
    Ele sorri. — Mas ainda bem que agora estamos bem.
    Eu ainda não estou entendendo sobre o que estamos falando. Não consigo me concentrar, principalmente agora que temos uma casa e eu estou casada com outro homem.
    Sorrio para Henry, ou tento sorrir.
    — ... tive tanto medo. — Do que ele está falando?
    — Imagino.
    — Meus pais vão ficar felizes quando eu contar.
    — Contar?
    — Sim.
    O que eu fiz?
    — Contar o quê?
    — Sobre o que eu perguntei a pouco tempo. Contar que a gente vai pensar na data do nosso casamento, amor.
    Eu não acredito no que fiz, não estava ouvindo nada quando ele me perguntou. Porquê eu estou sempre metida em confusão?
    — Então, vamos pedir. — Ele tira o celular do bolso e franze a testa. Então, seu rosto parece preocupado enquanto ele parece estar respondendo uma mensagem. Deve ter acontecido alguma coisa.
    — Henry, algum problema?
    Ele continua olhando para o celular. — Misericórdia!
    — O que aconteceu?
    Olha para mim, seus olhar me implorando por desculpas. — Amor, meu filho não está passando bem. Eu tenho que ir. Vou correndo para levar ele para o hospital. Você vai ficar bem?
    — Claro. Não se preocupe comigo. Você pode ir.
    — Obrigado. Prometo que vou pensar em alguma coisa para nós dois depois.
    — Está bem. Me avisa sobre qualquer coisa.
    — Claro. — Ele levanta, me beija e sai.
    E agora vem a parte divertida. Sempre que eu saio com Henry, eu nunca levo dinheiro comigo. Sei que é a coisa mais estúpida que alguém pode fazer, mas eu não tenho dinheiro. E agora não tenho como voltar para casa.
    A Tales Tec fica a três quarteirões, eu poderia caminhar até lá e pedir dinheiro para Esmeralda, mas ela está de lua de mel. Nenhuma das minhas outras irmãs está em casa para pagar o táxi.
    Saio do restaurante e pego no celular pensando no que fazer. Porquê isso tinha que acontecer logo no dia em que não tenho nenhum centavo? Porquê eu tinha que ficar bêbada naquele dia? Porquê eu tinha que me sentir atraída por Harris?
    Fecho os olhos, quando uma solução aparece na minha cabeça. Eu poderia ligar para o Harris, mas assim ele ia se confundir mais ainda e iria desistir do nosso divórcio. Só que não quero ficar aqui por muito tempo.
     Decido ligar para ele.
     — Safira! — Seu sotaque me arrepia. Mas tenho a certeza que isso é algo completamente normal.
     — Harris! Eu não queria te atrapalhar.
    — Não atrapalha. Diga, o que está acontecendo? — Ele está sexy ou é impressão minha?
    — Eu preciso de um favor seu. Nesse momento.
    — O que quiser! — A forma como ele diz...
    Foco, Safira!
    — Estou presa num restaurante e não tenho dinheiro...
    — Que restaurante?
    Viro para ler o nome do restaurante. — Pallazzi's. Você conhece?
    — Conheço sim. Não demoro!
    — Obrigada.
    Desligo e guardo o celular na minha bolsa, onde tiro um espelho para ver se tenho alguma coisa na cara, passo um pouco de batom rosa e endireito o meu vestido. Só quero estar apresentável quando ele aparecer, porque sei que ele estará.
    Fico aguardando durante dez minutos, eu acho, já entediada e cansada de esperar. Pego no celular mais uma vez para ligar para ele quando um Mercedes prateado muito lindo e caro pára bem na minha frente.
    Harris desce do carro e dá a volta para chegar até mim. Fico babando seu terno cinza um pouco justo, que faz jus ao seu corpo perfeito, seus sapatos tão brilhantes que posso ver meu reflexo neles, seus cabelos bem penteados e sinto o cheiro do seu perfume maravilhoso. Esse homem é mesmo meu marido?
    — Oi! — Ele se aproxima e toca o meu ombro. Eu quero desmaiar. — Como você está?
    Organizo os meus pensamentos. — Eu... O que você perguntou?
    — Você está bem?
    Suspiro. — Estou. Eu só precisava voltar para casa. Não tenho dinheiro comigo. Você pode me levar, se não for pedir muito?
     Ele sorri. — Não me importo. Sempre que precisar de mim, não exite.
     — Obrigada.
     Harris abre a porta do Mercedes para mim. Eu entro e sou recebida por um cheiro bastante agradável, misturado com o seu perfume. Seu carro é completamente diferente. É um carro que não é para qualquer um.
    Finjo procurar alguma coisa na bolsa quando ele liga o carro e começa a dirigir. Eu nem devia estar aqui, principalmente agora que Henry acha que vamos pensar na data do nosso casamento. Porquê eu respondi que seria ótimo?
    — Como foi a sua entrevista?
    — Correu bem, mas já passaram vinte e quatro horas e eles não ligam para mim. Preciso muito desse emprego.
    Ele continua atento na estrada. — Porquê você estava sozinha no restaurante?
    — Bom, eu fui almoçar com o meu noivo.
    — Seu noivo? — Ele cerra a mandíbula e consigo notar que aperta o volante.
    — Sim. Você sabe disso, Harris. Eu fui almoçar com Henry, e ele teve uma emergência familiar.
    —  Porquê ele não levou você para casa primeiro ou deixou dinheiro? — Pergunta irritado.
    — Estamos mesmo fazendo isso?
    Suspira. — Desculpa. É que... esquece. Ainda quer conhecer o meu advogado essa noite?
    — Sim. Quero estar atualizada sobre tudo. Acho que é justo.
    Ele sorri e olha para mim por um segundo. — É uma pena que não pode ser minha esposa. Eu acho que seria um ótimo marido.
    Reviro os olhos. — Você já é!
   — Você sabe o que eu quis dizer. Espero que ele te faça feliz.
    — Ele faz.
    — Está bem.
    Seu sorriso desaparece. E eu tenho mesmo que perguntar. Agora que somos casados, acho que tenho direito de saber sobre ele também. Sei que ele disse que terminaria com Maise, e eu acho justo porque ela não sabe cuidar dele, mas quero saber se ele está determinado a fazer uma coisa dessas.
    — Você ainda vai casar com a Maise?
    — Eu já terminei com a Maise. Já não temos nada.
    — Então, você está solteiro?
    Ele dá um meio sorriso. — Eu não estou solteiro. Você é minha esposa, lembra? Não posso me comprometer com ninguém até que nos divorciemos.
    — Sério?
    — Sim.
    Me encolho no meu lugar, sentindo que ele está falando sobre mim. Eu estou com Henry estando casada com Harris. Parece que o que estou fazendo é errado.
    Harris pára o carro na frente da nossa casa. Eu devia dizer sobre o meu casamento com Henry, mas não posso. Eu tenho que arranjar um jeito de conversar com o meu noivo, não sei até quando esse assunto vai ser resolvido.
    Estou distraída pensando, que não percebo que Harris desceu para abrir a porta para mim. Todos os ingleses são assim?
    Desço segurando a sua mão. — Obrigada!
    — Você tem a certeza? — Sussurra muito perto de mim.
    — Certeza do quê?
    — Você quer mesmo desistir do nosso casamento?
    — A gente nem devia ter feito isso. Foi impensado, estávamos bêbados.
    — Percebo.
    Ele me acompanha até o portão. O mínimo que eu posso fazer é abraçar ele, mas me arrependo quando sinto o seu cheiro gostoso e suas mãos nas minhas costas e no meu cabelo. Mais uma vez, é um abraço diferente, ele me aperta contra seu corpo como se não quisesse me soltar.
    — Obrigada!
    — Não precisa agradecer, Safira. Você sabe que pode sempre contar comigo.
    — Eu tenho que ir. Nos vemos daqui a pouco.
    — Não se atrase, por favor!
    — Vou tentar!
    Entro, me concentrando nos meus passos para não tropeçar. Sei que ele está olhando para mim, os pêlos na minha nuca estão me avisando.
    Procuro as chaves na bolsa. Harris ainda continua olhando para mim com as mãos nos bolsos. Me concentro em inserir as chaves na fechadura, mas seu olhar está me deixando toda atrapalhada.
    Oiço seu riso doce. — Quer ajuda, querida?
    — Eu estou bem. — Consigo finalmente. — Tchau!
    Entro e antes de fechar a porta, ele sopra um beijo para mim e entra no carro. Tranco a porta e vou correndo para o meu quarto.
    Preciso de encontrar o vestido perfeito para uma noite de negócios. Será que é mesmo isso que devo chamar? Eu vou conhecer o advogado dele e saber mais sobre a nossa situação, mas não é necessariamente um jantar de negócios.
    Céus! Queria muito que minhas irmãs estivessem aqui.
    Procuro por vestidos. Não posso usar o mesmo vestido do jantar de noivado da Esmeralda, claro que não. Encontro dois vestidos perfeitos, mas o preto ou o vermelho?
    Poderia usar o azul, mas ele já deve estar cansado de me ver de azul. Não quero usar o branco porque é muito  sexy, então talvez eu escolha entre o vermelho e o preto.
    Agora os sapatos.
    Acho que vou usar meus saltos altos prateados que ficam bem com os dois. Já que vou jantar no Red, eu tenho que estar apresentável. Então, preciso tratar do meu cabelo agora mesmo.
    Meu celular apita, me tirando dos meus pensamentos. É o meu noivo.
    — Alguma novidade?
    — Sim. Ele vai ficar bem, não é nada grave. — Suspira cansado. — Mas eu vou passar a noite com ele.
    — Vai passar a noite com a Savannah?
    — Não foi isso que eu quis dizer. Eu tenho que ficar por perto enquanto ele está doente, Safira. Confia em mim, por favor!
    — Está bem.
    — Eu não faria nada para perder você de novo, loirinha. Não vou nem chegar perto dela.
     — Está bem.
     — Você está brava? — Pergunta idiota. Claro que eu estou brava. Quem me garante que ela não vai tentar nada?
    — Não. Preciso desligar agora. — Desligo antes que ele diga alguma coisa.
    Sento na minha cama, quando o celular me incomoda mais uma vez, mas dessa vez é o meu marido.
    — Alguma coisa? — Atendo.
    — Desculpa. Eu esqueci de dizer que você estava linda.
    — Você ligou só para me dizer que estava linda?
    — Sim. Você estava muito linda.
    — Obrigada.
    — Nos vemos depois. Mas não posso prometer parar de pensar em você até lá, amor. Fique bem. — Desliga.
     Eu não devia, mas dou um sorriso de orelha a orelha. Por causa dele.

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Espero que tenham gostado.
Beijos!

Safira - Pedras Preciosas Where stories live. Discover now