Capítulo vinte e cinco - Safira

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     Já passou uma semana desde que saí do apartamento do Harris. Desde então, Henry viajou e regressa daqui a alguns dias, mas para ser sincera, estou aliviada por ele estar longe de mim nesses quatro dias.
    Harris também sumiu. Ele não liga mais para mim, não manda mensagem, não aparece do nada para me levar a algum lugar, e... eu ainda não acredito, mas eu tenho saudades. Ele deve ter se afastado de mim ou está muito ocupado.
    Pego no celular. Quero ligar para ele, mas acho melhor não fazer isso. Pelo menos, devia pedir desculpas por tudo o que eu fiz.
    Eu tenho saudades dos seus comentários, das suas ligações, do seu jeito carinhoso, tenho saudades de tudo. Eu não pensei que fosse sentir tantas saudades assim.
    Decido ligar para ele, mas ele não atende. Tento novamente, porque ele sempre atende as minhas ligações e vem correndo quando eu peço. Será que está muito ocupado?
    Karly sai do escritório com uma ruiva muito atraente de cabelos muito compridos. Ela é tão bonita que chega a dar inveja. Ela tem um corpo invejável, consigo ver sua barriga sarada na saia lápis que usou com seu cropped que fica ainda mais para cima por causa dos seus peitos grandes. Ela tem uma bunda grande e  redonda, que deve ser resultado de exercícios físicos. Como eu já tinha dito, ela é perfeita.
     Ela e Karly riem bastante, até que oiço ela dizendo. — E o seu amigo? Harris Tales.
    Olho para ela.
    — Eu tenho visto ele bastante ultimamente.
    — Sim. Eu vou precisar do número dele. Nós temos um assunto inacabado.
    — Eu percebi. Porquê você não pediu o número dele antes?
    — Ele disse que é um homem de compromisso. Eu amo homens que levam as coisas à sério. Ele é perfeito.
    — Eu vou dar para você. — Karly recebe o celular da ruiva e aponta o número de Harris.
    — Obrigada. Agora preciso ir.
    — Me conta todas as novidades com o gostoso. — Karly ri.
    — Claro que vou.
    — Só uma dica. Ele trabalha na Tales Tec.
    — Claro que trabalha. — A ruiva desaparece, e eu sinto o meu peito queimando.
    Arrumo as minhas coisas, tentando não demonstrar que isso me atinge. Como Harris conhece essa mulher tão linda? Deve ser culpa da minha chefe com certeza. E o que ela quis dizer com assunto inacabado?
    — A vida é incrível! — Karly olha o celular. — Você tem folga amanhã, meu amor. Estarei no tribunal.
    — Sim, senhora.
    Ela entra no escritório e pego no celular para voltar a ligar para o Harris, mas ele não atende. Será que ele está me evitando depois do que aconteceu há uma semana? Será que fui muito cruel?
    Ligo para um táxi antes de terminar de arrumar as minhas coisas e saio do trabalho, depois de despedir Karly. Ainda estou com o peito ardendo. Lembrar daquela ruiva bonita e Harris juntos... O que está acontecendo comigo?
    O meu táxi finalmente chega e eu entro, não querendo perder tempo. Ligo para Esmeralda também. Ela chegou ontem da sua lua de mel. Não tivemos ainda tempo de visitar ela, mas eu preciso conversar com ela. Peço  que me leve até a mansão Tales.
     Esmeralda atende a ligação. — Safira!
    — Você está em casa?
    — Sim. Porquê?
    — Eu estou indo para aí. Posso conversar com você?
    — Claro que pode. Sabe que podemos sempre conversar.
    — Obrigada. Chego daqui a alguns minutos. — Desligo.
    Mais uma vez, me vejo ligando para Harris e o resultado é o mesmo. Agora eu tenho a certeza que ele não quer mais falar comigo. Talvez eu tenha feito tudo errado com ele. Agora, eu sinto dor. Está doendo saber que ele pode ter me trocado por aquela ruiva.
    Também queria muito dizer para aquela ruiva que ele é casado e que não adiantava pedir o número, mas a minha garganta fechou no exato momento em que ela disse o nome dele.
    O carro pára na frente da mansão Tales e desço depois de pagar. O guarda abre os portões quando me reconhece e me acompanha até a porta principal.
    Eu achava que estava linda com meu vestido branco e um blazer preto e saltos altos, mas aquela mulher me fez ficar com dúvidas. Será que Harris está em casa?
    Mamãe me recebe com um abraço e me leva até a sala de estar, onde Peter está conversando com Esmeralda. Nem dá para acreditar, mas agora minha irmã está morando aqui.
    — Safira! — Esmeralda vem correndo me abraçar.
    — Amor, você está grávida, por favor, tem cuidado. — Peter repreende.
    — Boa noite! — Sorrio para eles.
    Peter também vem me abraçar. — Como você está?
    — Estou bem. — Mas estou morrendo de ciúmes do seu irmão.
    — Eu tive tantas saudades. — Esmeralda toca o meu rosto. — Você está triste.
    Desvio o olhar. — É verdade.
    Peter recebe uma ligação nesse momento. Eu olho para a tela e vejo que é Harris ligando. Meu coração bate forte e depois dói.
    — Eu vou deixar vocês sozinhas. — Ele sai da sala. — Harris.
    Esmeralda me leva para sentar no sofá. Ela está tão linda, tão diferente. Seus cabelos negros estão mais compridos, seu rosto tem mais cor, está usando um vestido verde comprido com flores e usando batom vermelho.
    — Como está o bebê? — Pergunto tocando a sua barriga.
    — Ele está ótimo. — Ela sorri. — Está se comportando.
    — Não acredito que vou ter um sobrinho.
    — E você? O que aconteceu? É o trabalho?
    Suspiro. — Não. O meu trabalho é bom, minha chefe é simpática e um pouco louca. O problema é a minha vida amorosa.
    — Você ainda anda pensando no Harris? — Ela sussurra.
    — Sim. Você não imagina o que aconteceu nessas duas semanas que você esteve fora. — Conto uma parte da história. Não conto sobre o casamento, mesmo sabendo que devia. Acho que se for para contar, tenho que conversar com Harris.
    — Você sabe que estava com os dois. — Ela arregala os olhos. — Enganando os dois.
    — Não exagera, Esme.
    — Agora ele se afastou. — Ela conclui. — Talvez ele tenha se cansado. Você sabe, cansa levar tantos foras.
    — Eu não pensei que estava...
    — Conversa com ele. Mas e como fica o Henry?
    — Eu não sei. Será que eu não sinto mais nada por ele?
    — Você é a única que pode dar essa resposta.
    — E agora, uma mulher apareceu no nosso meio. — Conto, fazendo bico. — Porquê não tinha que ser um homem que se apaixonou por ele na faculdade.
    — Safira!
    — Desculpa. Eu não sei o que fazer.
    — Espera ele chegar para conversar com ele.
    — Mas e se ele não quiser falar comigo? O que eu vou fazer?
    — Ele...
    Ouvimos passos, então, ele aparece. Harris Tales. Ele está com a barba por fazer, usando um sobretudo, o cabelo está mais curto e está muito sério. Não acredito que em uma semana ele ficou assim. Ele está sexy e diferente. Eu não mudei nada.
    — Boa noite! — Harris diz secamente, mas abre um sorriso quando Esmeralda vai abraçar ele. — Como está a minha cunhada preferida?
    — Estou muito bem. E como você está? Parece cansado.
    — Estou exausto. — Ele olha para mim por um segundo e volta a olhar para Esmeralda. — Mas nada que uma boa hora de sono não resolva.
    — Harris... — Nicholas e Renner aparecem também. Eles param quando me vêem como se soubessem de tudo o que está acontecendo. Será que ele contou?
    Esmeralda abraça os outros dois. — Boa noite!
    — Amor! — Peter regressa também. Quem mais está faltando?
    — Safira, que surpresa! — Nicholas se aproxima de mim. Levanto e abraço ele, depois o Renner. Harris é o único que não me abraça.
    — Eu não sei vocês, mas preciso de um bom banho. — Renner diz. — Papai levou a mamãe para jantar fora, então, eu posso só dormir hoje.
    — Eles vão ter um jantar romântico? Que lindo! — Esmeralda encontra Peter.
    Harris está olhando no celular agora. Será que está recebendo mensagens dela? Eu tenho até medo de saber.
    — Eu também preciso de um banho. — Nicholas diz, caminhando e levando Renner com ele.
    Peter olha para seus irmãos. — Amor, pode me ajudar com uma coisa? — Ele levanta Esmeralda também.
    Olho para Harris, que também está prestes a sair até que eu segure o seu braço, o impedindo. Ele vira para olhar para mim. Seus olhos azuis nunca me olharam com indiferença, mas hoje eles fazem isso. E dói.
    — Podemos conversar? — Pergunto.
    Ele coloca as mãos nos bolsos, como se quisesse se livrar das minhas. — Claro. Algum problema?
    — Porquê você está me evitando?
    Ele arqueia a sobrancelha. — É sério?
    — Sim.
    — Talvez porque você quis assim.
    — Eu não quis. Eu...
    Ele dá um passo para frente. — Eu era apenas a pessoa que você procurava quando ele fazia algo errado. Como se eu fosse a sua escapatória. Eu cansei de receber migalhas, Safira.
     Fecho os olhos por alguns segundos. — Eu nunca quis que a gente chegasse aqui.
     — Mas a gente chegou. E percebi que seria sempre ele. Você escolheria ele. Você pode ficar com ele. Você prefere acreditar que ainda há solução no que vocês têm, sendo que nem sequer confia nele. Talvez seja melhor assim. Vou dar o divórcio a você o quanto antes. Vamos esquecer um do outro. Tal como você queria.
    Meu coração dói ainda mais. Ver ele cuspindo essas palavras, a forma como fala comigo, dá para perceber que ele está machucado. Eu não devia ter ido embora naquele dia.
    — Não. — Me aproximo.
    — Eu não posso continuar sofrendo por alguém que não me quer. — Ele cruza os braços. — Tentei, me esforcei, Safira. Mas eu percebi que o problema não era comigo. Você é que prefere aquele homem. Você tinha dito para pararmos de nos ver uma vez. Esse dia chegou.
    — Você tem saído com alguém?
    — E se eu estiver? Não estou fazendo nada que você já não tenha feito. Mas só que diferente de você, não estou te iludindo.
    — Não fala assim.
    — E agora? O que ele fez agora para depois de uma semana lembrar que eu existo?
    — Nada.
    — Duvido. Quando você me procura é por algum motivo. — Ele está muito frio. — Viu ele com a mãe do filho dele? Vocês brigaram?
    — Eu estava com saudades.
    — Sim. Estava com saudades de um idiota que beijava o chão que você pisava. Tenho a certeza que sim. Estava com saudades de um idiota para te consolar, um idiota que você iria abandonar depois para fazer as pazes com seu querido noivo.
    Não consigo segurar as minhas lágrimas. Eu nunca pensei que ele pudesse dizer essas coisas, que pudesse falar comigo desse jeito. Ele parece estar com raiva de mim.
    — Não. Tenho a certeza que ele está fora da cidade com a mãe do seu filho, não é? Você está insegura, se perguntando se ele está te traindo, por isso decidiu lembrar de mim. E esse tempo todo, que vocês estavam tendo uma semana maravilhosa? — Ele me dá as costas. — Parece que não sentiu saudades de mim nos últimos sete dias, porquê apenas quando ele foi embora? Porque agora que ele está longe pensou que o seu idiota particular ainda podia beijar os seus pés e te mimar. Você achava que não me machucava, mas machucava, Safira.
     — Sinto muito! — Enxugo as lágrimas. — Por favor, não me trata assim.
    Vejo ele se afastando e me deixando sozinha na sala de estar. Eu não consigo parar de chorar. Também não quero que me vejam assim. Eu preciso ir embora o quanto antes.
    Soluço, olhando para a direção em que ele saiu. Eu nunca pensei que ele estaria tão machucado. O que eu fui fazer?
    Continuo chorando até que Esmeralda regressa e vem me abraçar. Mas eu não quero falar sobre isso, eu só quero ir para casa. Eu só quero deitar na minha cama e chorar.
    — O que aconteceu? — Pergunta. — O que ele disse?
    — N-Não... quero falar sobre isso. — Gaguejo.
   — Vou pedir para o motorista te levar para casa. — Ela me acompanha até o carro de casa, e o motorista me leva para casa.

    Fico deitada na minha cama pensando em tudo o que ele disse. Agora quem está machucada sou eu. Fui muito cruel com ele. Ele queria que a gente tentasse, deve ser por isso que ele comprou aquelas alianças, talvez tenha cancelado com o advogado, mas agora tenho a certeza que mudou de ideias. Ele mesmo disse que iria me dar o divórcio o quanto antes.
    Meu celular está explodindo de mensagens de Henry, mas eu não quero receber nenhuma. Eu estou sofrendo. Mas Harris tem razão. Eu fiquei essa semana toda sem procurar por ele, o que ele iria pensar? Mas também eu tenho um trabalho. Um trabalho que ele me ajudou a conseguir. Ele deve achar que sou a pior pessoa do mundo.
    Limpo as lágrimas mais uma vez e lembro da nossa noite no Golden quando ele me deu aquele cartão. O dia em que ele me disse que eu era sua  maior prioridade. Eu devia ter percebido tudo. Ele sempre tentou e eu sempre fui idiota.
    Da última vez, ele foi correndo quando eu pedi. Eu não percebi que parecia que estava usando ele da pior maneira possível. Eu não percebi a porcaria que estava fazendo. Afinal, eu era a vilã esse tempo todo. E eu nem percebi.
    O que eu vou fazer agora? Eu acho que estou apaixonada por ele.

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Espero que tenham gostado.
Beijos!

Safira - Pedras Preciosas Where stories live. Discover now