Capítulo vinte - Harris

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     Maise não está olhando para mim, mas sim para a mulher que tirou o seu lugar. Seus olhos estão mostrando todos seus sentimentos nesse momento e consigo muito bem descrevê-los. Dor e muito ódio. Devia ter previsto que ela viria aqui, mas eu não sou bruxo nem nada, eu até pensei que estivesse trabalhando. Mas isso não importa. Não posso deixar que faça um escândalo na frente de todo mundo.
    Safira olha para mim, desconfortável, quando não devia estar porque ela é a minha esposa, coisa que Maise e mais ninguém sabe, mas isso não significa que deva se sentir mal na frente da minha ex. Não pode se sentir culpada, quando fui eu que pus um fim no nosso relacionamento.
    Suspiro e encaro a mulher com olhos marejados. — Como você está? — Tenho coragem de perguntar.
    — Como eu estou? Você quebrou o meu coração, Harris. — Ela se aproxima.
    — Se quiser, podemos conversar depois, está bem? — Digo para que se acalme. Ela vira para Safira.
     — Quem é ela, Harris? — Posso ver seu sangue fervendo enquanto olha para Safira.
     — Isso não é da sua conta, Maise. Ambos estamos livres agora.
    — Mas...
     Levanto e impeço que chegue perto da minha esposa. Seguro os seus braços, ela está chorando e chamando a atenção de todos. Eu não gosto de ser o centro das atenções, então tento acalmar a fera e depois fugir daqui.
     — Eu sinto muito se te machuquei, Maise. Sinto de verdade, mas não precisa agir assim.
    — Eu te amo!
    — Sinto muito por tudo.
    Me afasto dela e agarro a mão de Safira, para pagarmos a conta e sairmos o mais rápido possível, enquanto Maise está paralisada no seu lugar. Depois de pagar a conta, saímos e Safira olha para mim de um jeito estranho.
     — Ela está muito machucada.
     — Eu não sou cruel por ter terminado com ela. Seria se continuasse com ela mesmo sabendo que nunca iria amá-la. — Endireito o meu paletó.
     Ela olha para seus sapatos. — Ela deve me odiar. Mas não tem motivos para isso.
     Sorrio. — Não tem? Tem a certeza, senhora Tales!
    — Por favor, não. Alguém vai ouvir.
    — Não importa. — Toco o seu rosto.
    Ela suspira. — Eu queria tanto levar umas rosquinhas para casa até sua ex aparecer.
    — Entre no carro. Eu compro para você.
    — Harris...
    — Entre, amor. — Abro a porta para ela e faz o que eu mando. Não sei explicar, mas sinto algo maravilhoso quando ela me obedece.
    Volto para dentro do café e compro as rosquinhas antes que Maise note que eu voltei. Ela está no segundo andar chorando e isso não me faz sentir melhor. Eu devia ter evitado isso enquanto pude, mas preferi acreditar que estava fazendo o certo. Se eu pudesse voltar atrás do tempo, eu voltaria, mas provavelmente não estaria casado com Safira.
     Volto para dentro do carro já com as rosquinhas e entrego as sacolas de papel para Safira. Eu não me importo de fazer os seus desejos. O que me incomoda de verdade, é que ela nunca mude de ideias.
    — Você comprou demasiado. O que você acha que eu sou? — Ela arregala os olhos. — Você acha que sou comilona?
    — Meu Deus! Não! Eu não sabia ao certo quantos queria. Pode levar o resto para suas irmãs.
    — Está bem. — Sorri. — Obrigada.
    Ligo o carro e sigo pela estrada, levando safira para casa antes de voltar ao trabalho. São quase onze, felizmente temos o Renner na empresa.
    Ligo a música, mas não muito alto para poder ouvir sua doce você conversando comigo.
     Safira solta o cabelo e fica distraída olhando para o celular. Para sua sorte, eu tenho que me concentrar na estrada, mas não está funcionando muito.
     — Você está linda.
     — Você já tinha dito isso.
     — Eu sei. Mas estou dizendo de novo.
     Ela tira uma selfie. — Eu não acredito que vou começar a trabalhar num lugar incrível.
     — Você merece.
     — Não. Não foi por mérito, Harris. Foi porque você queria ser um bom marido.
     — Está admitindo que sou seu marido?
     Suspira. — Não começa, por favor! Eu ainda não entendo como consegui fazer tudo aquilo bêbada.
     — Acho que eu fui bem convincente para você ter aceitado.
     — Nunca vamos saber. — Passa a mão pelo cabelo.
     Paro o carro num ATM próximo para tirar o dinheiro para Safira. Ela olha para mim por alguns segundos, mas fica em silêncio. Ainda bem que ela sabe que não sou um homem inconstante.
     — Fique no carro, amor. — Desço e fecho a porta.
    Tiro o meu cartão e insiro. Poderia pagar um motorista, mas eu sei que ela não aceitaria. Com dinheiro, é muito mais fácil. Podia colocar algum dinheiro na sua conta também, porque quero que tenha tudo o que precisa. Ela é minha esposa e precisa se beneficiar de tudo que eu tenho também.
    Termino, guardando o dinheiro e volto para dentro do carro, voltando a dirigir. Safira olha para mim, depois continua com as fotos. Gostaria de ter algumas dessas fotos para olhar antes de dormir. E pensar que seu amante deve ter várias dela, me deixa doente.
    — O que foi? — Pergunta.
    — Eu posso fazer uma pergunta pessoal? — Sério que estou cheio de curiosidade sobre a sua vida sexual. Gostaria que ela tivesse também, apesar de ter ficado apenas duas semanas sem transar, até a noite de terça feira em que ela foi minha.
    — Depende. O que você quer perguntar?
    — Há quanto tempo você e ele se conhecem? — Começo.
    Suspira. — Cinco anos.
    — Há quanto tempo estão juntos?
    — Cinco anos.
    — Está bem. E há quanto tempo você não transa com ele?
     — Oito... espera! O quê? Isso não importa.
     Já respondeu, esposa.
     — Oito meses então. — Isso me faz sorrir. Tenho que me certificar que não voltem a fazer isso novamente.
     — Porquê você quer saber?
     — Você nunca me disse se a nossa noite foi boa.
     — Eu prefiro não comentar.
     — Para mim foi ótima. Não lembro da última vez que...
     — Podemos mudar de assunto? A gente já conversou sobre a nossa situação, Harris. Você só está piorando as coisas.
     — Está bem. Se não quer ouvir, eu não digo.
    — Ótimo. — Ela cruza os braços.
    Não entendo porquê ela insiste tanto nele? Ele traiu ela, engravidou outra, eu estou aqui, mas ela se recusa a olhar para mim. Será que o que sente por ele é assim tão forte? Será que ainda o ama? Se for verdade, ela não teria me deixado beijar ela naquele bar, não teria me deixado tirar a sua roupa em Vegas, quando a gente quase transou, não teríamos transado há dois dias.
     Continuamos o resto do caminho em silêncio, até eu estacionar na sua entrada e abrir a porta para ela. Tiro a minha carteira e entrego o dinheiro para ela. Safira olha para mim, como se sentisse mal por isso.
    — Você disse que ia precisar de dinheiro, já que o trabalho é muito longe. — Digo antes que venha com seus argumentos.
    — Eu me sinto mal por aceitar.
    — Não sinta, por favor! Tudo que é meu é seu até a gente se divorciar. — Coloco dentro da sua bolsa, porque suas mãos estão segurando as sacolas das rosquinhas.
    Quando termino de colocar o dinheiro, seu rosto está muito próximo do meu. Eu não consigo evitar e beijar sua boca, a boca da minha esposa e envolver minhas mãos na sua cintura. Eu tenho todo o direito de fazer isso. Tenho esse direito mais do que qualquer pessoa nesse mundo. Nós nos casamos, nos tornamos num só. Eu quero que a gente seja um só.
     Safira devolve o beijo, mas percebe o que estamos fazendo e se afasta. — O que você está fazendo?
     — Eu vou embora. — Toco o seu rosto. — Qualquer coisa, por favor, liga mim.
     — Você já me ajudou muito, Harris...
     — Posso ligar para você?
     — Não é boa ideia.
     — O que eu tenho que fazer para desistir do divórcio? — Pergunto exasperado.
     — Nada. Eu sinto muito, mas o que nós tivemos foi só uma semana de diversão. Não era suposto a gente terminar assim.
     — Porquê eu sinto que você está errada?
     — Eu não estou, você apenas quer ouvir o contrário.
     — Está bem. — Me afasto dela. — Tenha uma boa tarde, bebê.
    — Pode parar de me chamar assim?
    — Não. Enquanto estivermos casados, enquanto tiver o meu sobrenome eu não posso.
     — Meu nome é Safira Jonhanson.
     Merda! Merda! Merda!
    Como eu estou irritado.
    — Safira Tales! — Digo.
    Me viro e entro no carro.

     O que eu posso dizer? Eu não consigo parar de pensar na minha querida esposa. Também fico pensando na ideia do Nicholas, mas parece ser errado fazer ciúmes nela. Poderia ser "sem querer", eu não sei. Tenho que arranjar um jeito de mostrar para ela que sente o mesmo por mim.
     Fico esperando enquanto ela sai de casa usando um vestido envelope azul escuro, saltos altos e uma rabo de cavalo. Fico feliz quando ela abre a porta depois de dispensar o táxi. Nem eu sabia que estaria na porta da sua casa hoje. Acho que já não consigo ficar longe dela.
    — Bom dia!
    — Está brava por ter vindo sem avisar?
    — O que você acha? — Ela cruza os braços, deixando a bolsa no seu colo.
    — Eu queria levar você no seu primeiro dia de trabalho. Não queria perder isso porque é importante para você. Se é para você, é para mim também.
    Ela fica calada por alguns segundos. — E quando a gente vai parar de se ver? Eu tenho um namorado.
    — Você prefere que as coisas sejam assim? Que eu me afaste? — Pergunto um pouco ferido. Mas não vou fazer isso, nem em seus sonhos, querida.
    Eu vou provar que não quer mais saber desse homem. Só acha que não sou homem para você porque acabamos por nos conhecer. Tenho a certeza que vou fazer você mudar de ideias.
     — É melhor a gente só manter contato para falar sobre o divórcio. — Olha para as suas mãos.
     — Está bem, mas sempre que você quiser, pode correr até mim. Meus braços estarão sempre abertos para você. Se ele falhar com você, eu vou estar sempre lá para você. — Tiro o meu bloco de notas e uma caneta para anotar o endereço do meu apartamento e entrego para ela.
    — Pensei que ainda estava morando com os seus pais.
    — Sim, mas eu tenho um apartamento. Todos temos. — Entrego a outra chave para ela. — Já disse, sempre que precisar de mim, eu vou correndo até você.
     — Eu acho que não preciso, Harris.
     — Guarde, por favor! Tenho a certeza que vai precisar. Mais vezes do que você imagina.
     Ela guarda na sua carteira e devolve para dentro da bolsa. Eu começo a dirigir em silêncio, tentando acalmar os meus sentimentos.
     Eu sei que Henry vai machucar ela mesmo sem intenção. Tenho a certeza que o simples fato dele ter um filho com outra mulher é o suficiente para isso. Da última vez, eu percebi que Safira não confia nele. Um relacionamento assim não sobrevive nem a um sopro. Ela só está adiando o inevitável.
    Seria mais fácil se eu tivesse me aproximado dela enquanto estava longe dele. Mas não é nada que eu não possa resolver. Só é frustrante saber que não posso contar para os meus irmãos.
    Entro no estacionamento e paro o carro. As portas ainda estão trancadas, porque eu não quero abrir, tudo que eu quero fazer nesse momento é voltar na estrada e dirigir sem rumo, fugir para bem longe, com ela.
    — Você está bem? — Ela pergunta.
    — Posso pedir uma coisa?
    — O quê?
    — Podemos nos encontrar essa noite?
    — Porquê?
    — Apenas faça, por favor! — Acaricio o seu rosto. — Eu quero te ver.
    — Eu vou ver o que eu posso fazer.
    — Pode ser no meu apartamento?
    Ela tenta abrir a porta. — Não. Prefiro que seja num lugar público.
    — Num restaurante então. No Red, pode ser?
    — Eu vou ver o que eu posso fazer.
    Tiro a caixa de chocolates do banco de atrás e a ursinha de película pequenina com terno. Ela recebe e antes que diga alguma coisa, eu dou um beijo nela e finalmente libero as portas.
    — É um presente do seu primeiro dia de trabalho. Tenho muitos mais se você quiser.
    — Eu não sei se devo aceitar.
    — É apenas um presente. Henry não vai saber que eu dei se você não contar. — Me endireito no banco.
    — Obrigada. — Ela fecha os olhos por alguns segundos. — A gente se vê por aí.
    — Cinco horas, não se atrase, por favor!
    Espero ela descer do carro para sair do estacionamento. Sei que Karly vai cuidar muito bem dela, porque ela é uma boa pessoa. E se Nicholas confia nela cegamente, eu também. Confio em quem meus irmãos confiam. Minha esposa está bem entregue.
    Mas o que me incomoda bastante nesse momento, é o meu coração. Eu estou apaixonado e estou me entregando dessa vez, mas eu sinto um medo avassalador. Eu tenho medo desses sentimentos repentinos por ela. É porque eu sei que ela é capaz de me machucar.

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Capítulo novo.
Espero que gostem.
Beijos!

Safira - Pedras Preciosas Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt