Capítulo oito - Harris

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     Voltei a sonhar com Safira.
     Dessa vez, eu estava chegando em casa e ela foi correndo me abraçar, depois nos beijamos bastante e ficamos abraçados na nossa cama.
    Eu me pergunto porquê eu ando tendo esses sonhos. Talvez o universo esteja dizendo que devemos ficar juntos, é por isso que eu não estava falando sério quando disse que aceitaria que fôssemos só amigos. Como eu posso ser amigo de uma mulher que me faz ter sonhos com ela, que quero beijar a cada instante, e que me faz ter vários pensamentos inapropriados?
    Meu pai vem até mim nos estábulos e  cruza os braços. Eu estou escovando o pêlo do Rei, enquanto isso. Meus irmãos dizem que eu sou o filhinho do papai porque acham que sou o favorito dele. Na verdade, eu admiro demais ele e desde pequeno que eu fico atrás dele o tempo todo. Quero deixar ele orgulhoso.
    — Como você está? — Pergunta.
    — Não sei.
    — Ainda pensa em casar com Maise?
    — Não sei. Sinceramente, eu já não sei. Talvez seja melhor eu desistir. Tenho pensado muito nisso. Mas ela vai ficar machucada.
    — Pense nisso muito bem. Mas você não é obrigado a viver infeliz. — Ele se aproxima mais. — Eu me apaixonei pela vossa mãe quando tinha vinte anos. Com ela foi diferente porque ela dava significado em tudo na minha vida. E olha como estamos agora? Continuamos juntos. Você precisa sentir e depois manter a chama. Case com alguém que tem algum significado na sua vida. — Ele põe o dedo no meu peito. — Alguém que deixe seu coração louco. Que faça você sentir como se estivesse sob o efeito de drogas, mesmo que não esteja. Alguém que te faça enlouquecer.
    — E se alguém estiver me enlouquecendo e aparecendo nos meus sonhos? — Volto a escovar o cavalo.
    — Então, é um bom sinal. — Ele se afasta. — Vou ver o que sua mãe está fazendo.
    Ele vai embora. Meu pai tem cinquenta e cinco anos e ainda é apaixonado pela minha mãe. Eu também quero isso. Eu preciso disso.
     — Parece que nós não temos sorte no amor, amigo! — Escovo ele.
     Meu celular toca, me fazendo parar o meu trabalho.
    — Bonbonzinho!
    — Boa tarde, amor! — Digo. Que espécie de noivo sou eu? Nem fico entusiasmado quando ela liga. Na verdade, quero que desligue o quanto antes.
    — Eu acho que vou contratar também cantores para o nosso casamento. Tenho uma lista: Justin Timberlake, Taylor Swift, Adele...
    — Não precisamos disso. Porquê você quer isso?
     — Ia me deixar muito feliz. E também a revista de noivas vai estar lá.
     — Tudo bem. Faça o que você quiser. — E espero que demore para pensar também.
     — Está bem. Mais uma coisa. Vamos mudar de salão para um maior. Vai ter mais convidados contando com a revista e com os cantores, músicos, e outras pessoas que tenho pensado.
     — Está bem.
     — Vai ser um pouco mais caro.
     — Imagino que sim.
     — E como você está?
     Suspiro. Nesse instante, Safira está vindo para cá usando roupa para montar. Fico parado olhando para ela, esquecendo completamente o que Maise perguntou.
    — Depois falamos. — Desligo.
    Safira se aproxima e sorri. — Vim montar com você.
    É assim que ela quer que a gente seja apenas amigos? Ela diz uma coisa e faz outra. Assim eu fico confuso. Ela está me enlouquecendo... céus! Está mesmo.
    Olho para sua camisa, que os botões parecem que vão saltar por causa dos seus peitos. Desvio o olhar para suas pernas, depois volto para seus olhos.
    Merda!
    — Acho que não está pronta para esse cavalo.
    — Esse é o Rei?
    — Sim.
    Seguro a sua mão para que possa tocar nele. Também é uma desculpa para tocar nela. Entrego a escova para ela e fico atrás para orientar. Ela escova com cuidado, depois se afasta quando o cavalo se mexe, batendo contra mim. Sua cabeça bate no meu queixo, eu aproveito a situação para segurar sua cintura.
    — Calma! Não precisa ter medo. Ele é grande, mas não é ruim.
    — Está bem. — Volta a escovar o meu menino.
    — Tem a certeza que quer montar esse? Eu posso preparar a Princesa agora mesmo.
    — Vou montar sozinha? Eu não quero montar sozinha.
    — Eu vou ajudar. — Sinto o cheiro do seu cabelo. — Vou cuidar bem de você.
    — O quê? — Ela vira para mim.
    — Vou preparar a Princesa. — Coloco Rei de volta para os estábulos, depois dou uma maçã para ele.
    Safira olha para mim e tenta fazer o mesmo, mas afasto sua mão imediatamente. Ela olha para mim sem entender.
    — Ele vai comer sua mão se você entregar desse jeito. — Ensino como deve segurar a maçã sem se machucar.
    — Ele é lindo, mas eu ainda tenho medo.
    — Ele é um garanhão, é normal.
    — Não fazia ideia que existiam cavalos tão grandes assim. Como você consegue montar nele?
    Rio. — Eu sou alto.
    — Eu também.
    Rio mais. — Você não é.
    — Sou sim. Sou mais alta que a Rubí.
    Saímos do estábulo do Rei e vamos buscar a Princesa. Safira sorri, como se tivesse gostado dela. Ela é tão linda, tão perfeita, não consigo ser apenas amigo dela. Se ela dizer que me quer, nesse mesmo momento, eu cancelo o meu casamento com Maise. Gostaria tanto que a gente fugisse para longe.
    — O que você está pensando? — Ela pergunta.
    — Não importa. — Não quero que vá embora correndo.
   — Posso dar uma maçã para ela?
   — Com cuidado.
   Observo enquanto ela faz isso, depois escova o pêlo de Princesa. Eu vou buscar a sela, rédeas, tudo para podermos montar, enquanto Safira perde o medo de tocar nela. Só não toca na cabeça.
    — Ela é tão linda. Parece mesmo uma princesa.
   Você também é linda.
   Prendo a sela e me certifico que está bem presa, Safira fica olhando para mim, eu sei porque sinto o seu olhar e isso me faz sorrir. Quem sabe hoje eu sonhe que montamos um cavalo agarrados, porque é isso que vamos fazer.
    — Vou montar. — Monto primeiro sem dificuldade. Princesa se mantém calma. — Sua vez.
    — Eu sou um pouco pesada.
    Seguro o seu braço e ajudo ela a subir, usando a minha força toda apenas nesse braço porque ela é realmente um pouco pesada. Mas eu não me importo.
    — Me segure com força! — Ela põe as mãos ao redor de mim. A sensação é ótima. Seguro suas mãos para que tente tocar meus ombros e seus braços se apertem contra meu peito. — Assim é melhor.
    Ela apoia o rosto nas minhas costas, me fazendo ficar ainda mais feliz. Eu tenho que me concentrar. Gostaria de ficar desse jeito para sempre. Como eu tinha dito, ela está mesmo me deixando louco. Eu quero beijar ela quando isso acabar, mas eu não vou poder porque ela não vai deixar.
    Princesa começa a cavalgar lentamente, e eu estou sorrindo por Safira estar me abraçando. A sensação é melhor do que eu imaginava, mas eu também gostaria de sentir ela, que seu rosto estivesse no meu peito, para que eu podesse tocar seu cabelo enquanto ela ouvia o meu coração batendo, tentando sair do peito.
    — Então, você tem falado com o seu namorado? — Pergunto.
    — Sim. Ele sempre liga para mim.
    — Você não? — Não consigo evitar.
    — Você não liga para a sua namorada? — Ela devolve.
    — Eu estou pensando em desistir.
    — Sério?
    — Alguém me disse que não dá para viver infeliz o resto da vida.
    — Eu acho que devia fazer mesmo. — Ela diz. — Se ela não te faz feliz...
    — E ele? Ele te faz feliz?
    Ela demora para responder. — Harris, não vamos fazer isso! — Ela solta as mãos de mim como se tivesse esquecido que está num cavalo.
    — Safira, não me solte!
    Tento agarrar sua mão, mas ela escorrega para a esquerda e procuro uma posição para ajudá-la sem machucar o cavalo, mas eu não consigo. Safira me segura, o cavalo continua cavalgando, caímos os dois pela direita, não sei como, mas ela cai por cima de mim.
    Seu cabelo está no meu rosto e sinto que quebrei alguma coisa. Princesa pára de cavalgar e fica parada comendo a relva.
    — Você está bem? — Pergunto.
    Ela sai de cima de mim e deita ao meu lado. — Desculpa!
    — Nunca mais faça isso. Podíamos ter gravemente nos machucado ou morrido.
    — O quê? — Ela olha para mim, como se não podesse acreditar.
    — Ela poderia pisar nossas cabeças.
    Safira toca a sua cabeça e fica sentada na relva. — Desculpa! — Parece realmente arrependida.
    Me posiciono para sentar também e noto que não estou bem. Meu ombro direito está doendo muito.
    — Harris, você está bem? — Ela me ajuda.
    — Não deve ser nada.
    — Deve ser sim. Vamos para o hospital. — Ela levanta e me ajuda a levantar. Na verdade, não ajuda muito. Eu faço isso sozinho.
    — Não exagera. Rubí não está fazendo medicina? Ela pode ajudar.
    Seguro nas rédeas de Princesa e coloco o braço machucado no ombro de Safira. Não que eu realmente precise, mas porque eu quero tocar nela.
    — Desculpa se eu fui longe demais. — Digo.
    — Não. Desculpa por ter feito você se machucar para me salvar.
    — Espera! — Paro. — Isso faz de mim um herói?
    Ela ri. — Talvez.
    — Tem razão. Eu salvei vocês duas.
    — O quê? Princesa não estava em perigo.
    Olho para ela e nosso rosto fica próximo demais, por isso ela desvia o olhar. Eu entendo que ela esteja agindo assim, mas eu sei que ela também sente o que eu sinto. Se não fosse verdade, não estaria aqui, não estaria comigo no alpendre ontem, nem teríamos nos beijado.
    Ela pensa que ama o seu noivo. Se fosse verdade, já teria me colocado na linha, teria acabado com isso muito antes de começar. Tenho a certeza disso. Mas em algum momento, ela vai perceber que precisa aceitar o que está acontecendo. Como Peter demorou para admitir que estava apaixonado por Esmeralda e olha só, eles vão casar.
    — Na verdade, você também colocou a vida da Princesa em risco. — Continuamos a andar. — Poderia ter machucado ela. Os dois poderíamos ter feito isso porque nos posicionamos mal.
    Ela morde o lábio. — Não me faz sentir melhor. Eu vou fazer biscoitos para você como pedido de desculpas pelo seu ombro.
    — Biscoitos?
    — Não gosta de biscoitos?
    — Gosto, mas eu me sentiria melhor com um bolo de chocolate branco com recheio de doce de leite e cobertura de chocolate branco.
    Ela olha para mim, seus olhos brilhando. — Harris!
    Gosto quando diz o meu nome.
    — Safira!
    Rimos.
    — Eu faço o seu bolo. Mas faço amanhã.
    — Obrigado! — Beijo a sua bochecha.
    Ela cora e finge que não aconteceu nada. Tudo isso é uma loucura. Mas eu estou gostando de como as coisas têm ficado loucas entre nós. Segundo o que o meu pai disse, eu estou ficando muito bom nisso.

    Minha mãe me ajuda com o meu ombro. A dor diminuiu, mas ainda está aqui. Depois do banho, eu vou para a sala de jogos. Não porque tenho vontade de fazer alguma coisa, porque não sei onde Safira deve estar, mas provavelmente deve estar no seu quarto.
    Tenho que disfarçar um pouco também. Eu não sou bom a disfarçar, mas espero que ninguém tenha notado que estou afetado pelos encantos de Safira.
    Peter está sentado no sofá, e eu me junto a ele. Na verdade, ele está concentrado no celular. Não dá para acreditar que vai se casar em três dias. Se eu fosse ele, provavelmente estaria feliz, mas como eu sou eu, acho que me jogaria da varanda.
    — Algum problema? — Pergunto.
    Ele suspira. — Não sei. Está tudo pronto para o casamento, mas...
    — Por favor, não diga que quer desistir.
    Ele olha para mim, completamente sério. — Nunca!
    — Então o que o "mas" significa?
    — Esmeralda está estranha. Eu tenho medo que ela queira desistir. Ela pensa que eu não notei, mas...
    — Você está sendo ridículo. Ela te ama. Muito. — Digo. — E eu posso ver que está muito feliz com o casamento.
    — Você tem razão. Eu só estou um pouco nervoso.
    — Sério? Faltam três dias, Peter!
    — Mesmo assim. — Agora sorri. — Vamos passar a nossa lua de mel nas Maldivas. E você não imagina como eu quero tanto a nossa casa.
    E eu fico pensando.
    Como é possível casar com alguém que você não ama? Eu poderia ver Maise vestida de noiva e dizer sim para ela? Como seria passar a lua de mel com ela? Como seria ter filhos com alguém que você não ama?
    Agora a ideia de fazer as coisas sem amor me assombra. Eu fico vendo como é diferente quando há amor. Lembro de Peter e Madeleine e vejo a diferença. Madeleine fazia ele sofrer porque ela é uma pessoa ruim, eu poderia fazer Maise se sentir como Peter se sentia com Madeleine? Eu não acho justo.
    Quero ser como Peter. Ele está fazendo tudo por amor, e Esmeralda também porque corresponde o amor do meu irmão. O segredo é o amor. É isso que o meu pai me disse. Mas com que coragem eu iria dizer para Maise que acabou?
    Ainda estou pensando, não que eu esteja me contradizendo, mas eu não sei se vou fazer isso se Safira casar com o idiota que a traiu.
    A vida é fodidamente complicada.

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Espero que tenham gostado do capítulo.
Beijos!

Safira - Pedras Preciosas Where stories live. Discover now