THE GOOD MOTHER WHO KIDNAPS YOU

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Sua mente estava sisuda, calma, mas o corpo era trêmulo. Internamente seu cérebro pensava sentado numa confortável poltrona reclinável, mas a testa estava suando e esquentando como uma chapa. Já tinham andado muito e os chifres continuavam com Lalisa, ela não sabia como fazê-los ir embora. Num certo tempo a vista doía nos olhos tentando afugentá-la de todos os modos possíveis, pelo cheiro de cinzas, pelo brilho intenso do céu laranja, a sensação de não ver ponto de chegada. Com isso ela começou a delirar nas próprias memórias, pois estas se apresentavam tão bem organizadas agora que Lisa poderia escolher qualquer momento de sua vida e puxar as memórias de dentro de pastas separadas por cores:

Sabe, poderia ser romântico como um passeio no parque. A partir dessa constatação, Lisa viu todo o lugar se varrer num sopro poderoso e transformar-se completamente. Sentiu o vento assobiar e, como a muito tempo não mais pensava, achou que aquele era um dia de sorte. Porque ela escutava o sino do carrinho de churros que parava às 14:00 da tarde no centro da praça Gangnam, sentiu a vibração das conversas paralelas incompreensíveis de cada colóquio espalhado pela praça, escutou o corte rápido da tesoura de jardinagem aparando as árvores e ao final sentiu falta de como as coisas conseguiam ser tão simples; o vento sopra para o lado certo hoje, o cheiro das plantas bem cuidadas sussurram contra o meu rosto, portanto hoje é um bom dia. Isso bastava. Pois bem o que ela faria em dias assim. Andaria em direção a mesma doceria de sempre e apontaria primeiro para as minhocas açucaradas através da vidraça, o atendente deslizaria a portinha pelos rolamentos, botaria uma porção delas dentro do saco de Lalisa e a primeira coisa que passaria pela sua cabeça era que seria sempre um desperdício, pois Lisa sempre desprezava as minhocas verdes, mas não seria chata a ponto de pedir para o vendedor excluir as minhocas verdes da compra, nunca. Depois ela apontaria para os rolos de chocolate amargo com creme — uma imitação mais barata do Twix chamada pouco originalmente de Super Roll que acabava sendo muito mais benéfica porque vinha com um Ring Pop de brinde —, precisavam ser exatos três Super Roll depois das minhocas com açúcar, pois os doces que viriam a seguir ajudariam no equilíbrio dos palitos dos rolos dentro do saco como se fossem a terra cobrindo a raiz de uma planta e Lisa gostava da ideia. Ela pedia uma cartela de bolinhas coloridas, Skittles, os chicletes de uva que duravam um ou dois minutos até ficarem duros, um pacote dos pirulitos que melam no açúcar ácido de maçã verde e um refil pequeno das gomas de mascar com interior surpresa de língua ácida: o que gelava, o que esquentava e o de tutti frutti que raramente vinha. Ela comeria alguns ali na praça mesmo, mas guardaria o resto até chegar em casa.

— Vamos subir.

A lembrança foi embora, o deserto obscuro voltou a escurecer sua mente. E ela se perguntou quando que esse reveses tinha se dado início.

Olhou em volta, não conseguia enxergar nada de diferente do que seus olhos já estavam acostumados. Não era como se estivessem andando por caminhos, não havia sinais, mudança de ar, cheiro diferente ou textura do chão que a ajudassem a se situar, estavam cegas, Lisa mal sabia se já haviam desviado de buracos. Era um tanto sem sentido como Soyeon poderia entender o lugar, mas já que conseguia saber, que bom que conseguia.

— Subir? — Perguntou ela à Soyeon, distraidamente levando a mão em direção ao chifre esquerdo, sentindo sua textura mais uma vez só por curiosidade. — Por onde?

— Tem que dar o seu jeito de flutuar até a margem. O jardim do Éden fica no alto. — Ela aponta e Lisa olha para cima. Puxa uma parte do lábio inferior para fazer de mordedor e tenta encontrar alguma pista de como fazer o que Soyeon lhe sugeriu, mas só havia o céu apinhado de nuvens cinzentas. Por um momento esperou que uma escada brilhante e polida se desenrolasse do céu e caísse a seu dispor como se houvesse escutado seu chamado silencioso de necessidade. Mas ela tinha que fazer lembrar a si mesma de que não estava estrelando um filme animado. — Seus chifres se manifestaram. — Pontuou Soyeon. — Você deve ter asas também.

R E M A K E - M E  [First and Second Season]Where stories live. Discover now