WET YOUR FINGERS, SIS

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"Foi a primeira vez na vida que senti saber exatamente o que eu queria, e daí não fazer? Ah, eu tinha que fazer." Era o que Shuhua costumava dizer para Jennie sobre o pacto. Em momentos — que passavam pela mente dela com tanta frequência que era perigoso — Jennie rejeitava a possibilidade da alma de Yeh Shuhua estar condicionada ao inferno pelo resto da eternidade. Shuhua não servia para aquilo, não era uma má pessoa, mas tinha aceito essa clausura tão ameaçadora porque a carência foi maior que a sensatez. E de alguma forma Jennie nunca acharia certo; porque lá estava ela, Jennie Kim concretizando um novo pacto após tanto tempo, na espera de livrar uma garota ingênua daquela vida de mediocridade e monotonia onde metade das colchas de dormir possuíam furos pelo desgaste.

Ela a levaria para o lado da vida onde a palavra limites tinha caído em desuso, a terra da fortuna e do eu quero e eu consigo agora. Estaria ao seu lado durante o começo extravagante de felicidade e gozação interminável onde sua vida daria uma guinada daquelas que vira a pele do planeta ao avesso, Shuhua compraria uma casa cara demasiada imensa para uma pessoa só, teria conjuntos de talheres que nunca usaria e telas estranhas pelas paredes iguais a que todo rico insiste em possuir sem nem mesmo saber o pintor. Tiraria férias, viajaria para Paris e depois visitaria Milão. Dormiria com prostitutas e gigolôs bêbados todas as noites e beberia mais um pouco com outros empresários, ficaria para as festas íntimas e prolongadas nas casas deles. Para encerrar a noite, antes de voltar para sua própria mansão daria uma passada na casa de seus inimigos, e como ela estaria agindo como uma dama enlouquecida, praticaria a vingança que Jennie a encorajaria a fazer e ligaria clandestinamente direto da porta de Yoo Jeongyeon para revelar-lhe que seu marido estaria a traindo com a babysitter juvenil naquele mesmo instante. Faria xixi no tapete de boas-vindas na porta de Do Kyungsoo, que costumava sempre duvidar de seus dotes nas reuniões de trabalho, e tocaria a campainha antes de correr em direção ao seu carro. Jennie estaria lá, intensificando tudo, a deixando doente de felicidade, mas também estaria lá quando tudo aquilo não lhe fizesse mais sentido. Acostumada com como todos os pactos tendem a se encerrar rápido quando se procura apenas sucesso e farras ininterruptas, Jennie a olharia profundamente por uma última vez antes de tomar sua alma e apagar sua existência. E ponto.

Mas não.

A vida que tinha com Shuhua sob seus cuidados era muito diferente da que imaginou, esperava ter muito trabalho para encobrir todos os escândalos gigantescos de uma pré-adulta que não viveu a adolescência e agora extrapolara as leis. Porém, durante 4 meses Yeh Shuhua — sabendo que poderia pedir até mesmo as bolas do presidente para jogar sinuca — pedia somente por conversas longas com café.

Jennie não procurou expandir ideias sobre Shuhua quando a conheceu, pois já tinha um plano, se distrairia com a vida de uma qualquer e a mandaria para o inferno assim como tanto já tinha feito antes, porque Jennie estava sofrendo e tinha que manter sua sanidade e contribuição para sua cidade natal — O inferno. Até que Lisa voltasse e desse um basta. E quando isso acontecesse elas discutiriam sobre a tática cruel que Jennie utilizara para a própria distração, mas também transariam como ato de reconciliação, por isso tudo ficaria bem no final. O plano era esse antes que Jennie tropeçasse no passado triste, solitário e cheio de entretenimento de Yeh Shuhua; que não era uma humana vazia e qualquer, tinha sonhos e inspirações demais para isso.

Imagine isso: Shuhua descendo pelo seu túmulo no cemitério de Seul, passando por areia e pedras, caindo por poucos segundos enquanto engoliria terra (embora sentisse que tinha sido por anos) ela chegaria no inferno e cumpriria sentenças para pagar todos seus pecados. Fim do pacto, mais uma alma em agonia para o caos sobrenatural. Porém que pecados teria Shuhua? O pecado de ter feito um pacto com um Demônio? Ninguém julga um pacto no inferno, somente o que se faz quando tem o poder dele nas mãos, mas Shuhua não fizera nada.

R E M A K E - M E  [First and Second Season]Where stories live. Discover now