Capítulo XX

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Telbeth a arrastou de volta para o túnel secreto de onde haviam saído.

— O que quis dizer com aquilo?

— E-Eu não...

— Selene, precisa ser sincera comigo para que eu te ajude.

A princesa respirou fundo antes de revelar:

— Ele não é um prisioneiro comum.

O rapaz aceitou a evasão da resposta. A irmã não confiava nele, e a culpa era sua. Talvez, se a ajudasse sem questionar, conseguisse reconquistar o que tiveram antes de tudo ter dado errado. Por isso, ele disse.

— Siga-me. Espero que esteja levando alguma arma.

                                    ཀ

Dohan começou a ficar ansioso demais com a ausência de Telbeth e resolveu sair daquele canto escuro. A luz do candelabro não era mais suficiente.

A presença dos guardas por todos os lados o incomodava. O príncipe precisava de um lugar reservado para acalmar os nervos. Uma ideia passou pela sua cabeça e ele sorriu: termas.

A caminhada até elas é mais curta do que o esperado, e o rapaz suspira quando chega no ambiente quente e cheio de vapores aconchegantes. Ele retira as roupas e entra em uma das banheiras de pedra. A água morna o relaxa quase imediatamente e ele fecha os olhos, suspirando.

— Você não pode me separar da minha filha. Não pode continuar fugindo do passado.

— Eu não estou fugindo do passado, estou garantindo que nossas cabeças continuem presas aos nossos pescoços.

Laelia?

Por que não acaba logo com isso? Dê um fim nele.

— Erebus.

Dohan mergulhou e prendeu-se ao fundo da banheira. Seu sangue latejava nos ouvidos. Os passos de Laelia ressoaram, altos e claros, atravessando as camadas da água.

— Não repita mais isso.

Ele só voltou à superfície quando o ar de seus pulmões se esgotou. As batidas do seu coração e sua respiração estavam aceleradas. O peso do segredo o sufocava e paralisava.

O que acabara de ouvir?

Selene ouviu os gritos muito antes de chegar à pesada porta de ferro, que estava entreaberta. Telbeth disse alguma coisa que ela não entendeu muito bem. Seus ouvidos sangravam.

— Fique aqui.— A jovem entregou a ele um de seus punhais antes de encolher-se num dos cantos da parede.

Ela esperava que pudesse se recompor enquanto o irmão agia na câmara atrás de si. Infelizmente, os passos na escada acabaram com suas esperanças.

Seus instintos a fizeram olhar ao redor. Uma pedra solta no chão clareou suas ideias. Ela se recostou na parede oposta à qual estava e esperou. Quando vislumbrou a parte de trás da cabeça de um dos guardas, arremessou a arma improvisada com força e precisão. Os gritos do lado de dentro sobrepujaram o baque do corpo ao cair.

Sem coragem suficiente para checar o estado do homem, ela recolheu a pedra e adentrou o recinto.

O lado de dentro era milhões de vezes pior.

O cheiro, os gritos, a pressão. Tudo ali era pútrido e repugnante. Ela avistou Balken discutindo com Telbeth. Uma sentinela estava próximo a eles, segurando o cabo da espada, pronta para qualquer coisa. Selene tentou recuar, mas alguém a pegou por trás. Com um movimento, conseguiu golpeá-lo entre as pernas e se soltou. Mas agora todos olhavam para ela.

A jovem conseguiu retirar um punhal do corpete, mas a sentinela de prontidão a atacou a tempo. Agora ela estava deitada no chão, com uma bota pressionando suas costas.

— Selene?— exclamaram pai e filho em uníssono. Não conseguiu distinguir suas vozes, tal era a intensidade da dor de cabeça e do sangramento. Alguém gritava intensamente do lado de dentro da cela. Seu nome. Alguém gritava o seu nome.

— Pai — chamou ela, a voz rouca pela falta de ar.

— O que está fazendo aqui?

— Solte-o. Por favor.

Você o conhece? — A princesa tentou, em vão, se reerguer. Ao olhar para o pai, viu sua expressão de nojo e descrença. Ele fez um sinal para a sentinela, que a puxou pelos cabelos e a arrastou para perto dele.

— Sim. Eu o conheço. E peço que o solte. — O rei se moveu. E Selene pôde ver os gestos que os prisioneiros de aparência incomum da outra cela faziam. Eles murmuravam algo como "chaves" e apontavam para Balken. As chaves estavam com Balken. Antes que ela pudesse entender mais alguma coisa, ele adentrou seu campo de visão.

— Selene, por acaso sabe o que ele é?

À essa altura, não adiantava mentir. Com um olhar de soslaio para ele, soube o que tinha de fazer. Por isso, disse, os olhos se afogando em lágrimas:

— Sei.

Balken mordeu o interior da bochecha e assentiu, devagar. Ajustou os anéis, e esbofeteou a jovem com tanta força que as jóias em seus dedos abriram cortes em sua pele. A sentinela ainda segurava seus cabelos e braços, e a garota podia apenas antecipar os golpes, contraíndo-se. Telbeth começou a gritar, e os guardas de dentro da cela saíram para contê-lo. Antes que pudessem agarrá-lo, porém, ele apunhalou o pai nas costas. Aquele curto momento congelado agora para a eternidade.

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O Encanto da LuaWhere stories live. Discover now