Capítulo X

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— Matteo! Sou eu, Kaleb. Trouxe meu irmão comigo.

Os passos do lado de dentro ficaram mais altos e a porta se abriu. Um homenzinho magro e delgado sorriu para os dois e convidou-os a entrar.

— Trouxemos café da manhã também, compramos no caminho.

— É muito gentil de sua parte, filho. Estávamos precisando mesmo de mais comida, temos visita— Piscou.

— Não se preocupe com Caden, ele comeu no caminho.

— Ah, não. Não estava falando do seu irmão. É uma moça, muito bonita, hein, filho.— Matteo cutucou Kaleb com o cotovelo, o que o fez corar. Caden reprimiu um sorriso.

Ao chegarem no fim do corredor, viram a tal moça, sentada à mesa, saboreando uma rala sopa de feijão. Kaleb corou mais ainda ao vê-la com seus fartos cachos negros e uma pele marrom reluzente. Caden e Matteo trocaram olhares conspiratórios e sentaram-se nas cadeiras restantes.

— Oh... Olá. Não os vi chegando...

— Peço desculpas pela entrada repentina, senhorita...

— Marylia— disse, retirando os cachos da frente do rosto. Caden congelou, sua mão estendida ficou suspensa no ar enquanto ele a reconhecia. Marylia a apertou e estreitou os olhos, intrigada.— Nós já nos conhecemos?

— Não— disparou Caden.

— Que estranho, parece que já o vi em algum lugar.

— Deve estar me confundindo com outra pessoa.— A moça assentiu, não muito convencida, mas voltou a comer. O capuz que ele estava usando ao encontrar Selene e ela no castelo dificultara o reconhecimento de suas feições, e a noite também não havia ajudado. Caden engoliu em seco, e seu silêncio foi a deixa para Kaleb se apresentar.

— Prazer em conhecê-la, Marilya— apressou-se em dizer.— Me chamo Kaleb.

— O prazer é meu.— Um leve sorriso delineou seus lábios, porém logo desapareceu.

Kaleb a olhou por uns segundos e perguntou:

— Matteo, Olga está?

— Sim, lá nos fundos, alimentando as galinhas.

— Muito bem. Vou falar com ela.— Ele se retirou, e Caden aproveitou para se despedir dos dois e subir para o quarto.

— Que jovens esquisitos, não é?

— Uhum— respondeu Marylia, sem tirar os olhos do prato. O senhor a olhou de soslaio, e saiu com as sobrancelhas franzidas.

Selene deixou a criada a sós com Teressa após determinar alguns rápidos detalhes do vestido e foi apressada para sua aula de música.

— Andou perdida pelos corredores?

— Me desculpe pelo atraso, Mestre Bell. Não vai se repetir.

— Assim espero.

Benjamim Bell, o professor, olhou-a de cima a baixo sem disfarçar seu desprezo. Às vezes, sua carranca o fazia parecer um peixe defumado, na opinião da jovem.

— O que tocaremos hoje?

— O Hino. Precisa ensaiá-lo para a coroação.

Selene assentiu. O órgão era um de seus instrumentos favoritos e ela frequentemente passava noites compondo melodias e letras que nunca seriam tocadas. Mesmo com um professor mal-humorado, as aulas eram libertadoras.

Devagar, ela pressionou a tecla inicial e emendou a melodia estudada. O mundo foi silenciado, e apenas ela e a música prevaleceram.

Aquilo estava errado, pensou. Muito errado. De repente, tudo virara de cabeça para baixo, mas ela ainda tinha de permanecer de pé. Mesmo tendo um assassino como pai, um alcoólatra abusivo como irmão, e uma calculista ardilosa como mãe. Seus dedos agiram por conta própria quando pularam de uma tecla para outra, transformando o hino num cântico fúnebre.

Ela ignorou o professor gritando do outro lado do salão para que parasse, e apenas interrompeu a melodia quando ele segurou seus braços, impedindo-a de prosseguir.

— É apenas uma música, deixe-me terminá-la.

— Nunca! Isto é um desrespeito ao Hino, um desrespeito ao Reino!

— E gritar com sua princesa é respeitoso para você?

Com olhos envenenados, Selene o encarou, e ele saiu do grande salão sem nada dizer.

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Surpresa: pretendo lançar um capítulo mostrando os personagens em breve!!

Até a próxima 💓

O Encanto da LuaWhere stories live. Discover now