Capítulo XXIX

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O grupo de Selene se encontrou com o grupo de Teressa, e juntos eles foram até os estábulos. As portas estavam trancadas, mas os cabelos longos de Finrod, de alguma forma, se entrelaçaram na fechadura e abriram-na.

Os cavalos não se assustaram. Eles eram dóceis e estavam acostumados com a princesa, além disso, os feéricos tinham uma conexão inata com os animais.

No total, eles pegaram quatro cavalos. Todos idênticos: pretos como breu, a cauda e crina escovadas e os pescoços erguidos.

Caden, Indis e Angrod montaram nos animais, já que seus ferimentos eram mais graves. E Selene ficou com o último, para conseguir guiar o grupo.

— Permaneçam juntos e sigam-me. Deschia e Finrod, escondam seus cabelos. Angrod e Indis, cubram suas peles. Nain, enrole esses chifres nas suas mechas, não deixe que apareçam. Caden, cubra os pulsos.

Eles obedeceram, não mais eufóricos pela fuga, o nervosismo e a preocupação exalavam uma vibração pesada.

— Caso nos parem, não digam nada. Deixem que eu vos apresente. Agora, vamos.

Selene achou melhor cortar caminho pelo bosque, pois se passassem pelos portões principais chamariam muita atenção.

Quando estavam quase em frente ao portal de pedra que servia de passagem para os arvoredos, um guarda chamou a princesa.

— Sim?

— Não é um pouco cedo para passeios à cavalo? Gostaria que um guarda os acompanhasse?

— Estamos bem, obrigada.

— Claro, Vossa Alteza. — Ele olhou para os outros, soberbo e desconfiado. Se fosse um guarda comum, o tom de Selene teria sido suficiente para fazê-lo sair dali. Mas ela logo viu a diferença da postura e as condecorações no uniforme. Aquele era o chefe da guarda real. — Perdoe minha ignorância e intrusão, mas poderia me dizer quem são seus acompanhantes?

Para o chefe da guarda, "não" nunca era uma resposta, então, ela apontou para Caden e disse:

— Este ao meu lado é Erick Linklater, primo de terceiro grau da esposa do Conde de Torksey, do Reino Feriscruen. — Erick realmente existia e era tudo isso, a jovem apenas emprestara o título a Caden. — Esta aqui é sua noiva, também de Torksey — falou, indicando Deschia. — E aquele é...

— Este bom homem certamente ouviu falar de mim — interrompeu Finrod, aproximando-se do chefe da guarda. — Sou uma das figuras mais importantes de Insanes. — Selene quase pulou do cavalo e o esganou, os outros pareciam querer fazer o mesmo. — Vamos, diga meu nome.

O homem corou e gaguejou, desconcertado. Finrod desamarrou o lenço da cabeça, tomando cuidado para não exibir as orelhas pontudas. Seu cabelo ficara ruivo, sem nenhum traço do verde vivo de antes.

— Não diga que não sabe. — Até mesmo suas sardas pareceram realçar-se. — O quê? O gato comeu sua língua? — Ele enfiou o lenço no bolso do uniforme. —Que pena. Saia daqui e vá lavar isso, está bem? Use leite de cabra morno.

O chefe da guarda foi embora, titubeando e mais vermelho que os cabelos de Finrod. Todos o olharam com raiva e descrença, e quando entraram na floresta, Nain o repreendeu.

— Nain, aquele guarda imbecil precisava de uma lição. E além do mais, eu vi o jeito que os olhos dele se estreitavam com desconfiança.

— Você quase estragou tudo — retorquiu ele.

— Com aqueles cabelos vermelhos e meu jeito de louco? Não. Eu fui bem convincente. — Todos suspiraram, desistindo de discutir.

Eles seguiram pelo trajeto, rápidos e sorrateiros. Enquanto se afastavam dos limites do bosque, o sol ficou alto no céu e voltou a descer. Nuvens e pássaros deslizaram pelo anil, chamando-os.

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Telbeth voltara para o seu quarto. Não para descansar ou se preparar para o dia seguinte, ele já estava preparado para qualquer coisa.

Os guardas continuaram questionando-o sobre Selene enquanto o escoltavam para o quarto, era por isso que agora dois deles estavam com narizes quebrados e um desacordado.

A primeira coisa que o príncipe fez ao entrar em seus aposentos foi retirar toda a roupa e se sentar em frente ao espelho. Ele se sentia uma fera. Seus músculos pareciam mais definidos e as veias saltadas que percorriam seu corpo carregavam algo tão escuro quanto a coroa que usava.

Para testar sua nova força, deu um soco poderoso no espelho, que rachou-se em milhões de pedacinhos. Um sorriso surgiu nos diversos reflexos deformados, e sangue manchou o tapete.

— A guerra começa agora.

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Marylia, Olga e Matteo perambularam pela floresta por um longo tempo até resolverem sentar e descansar. Eles estenderam uma canga no chão e Marylia se recostou no tronco de uma árvore.

— Perdemos nossa casa. Nossa mula. E agora estamos perambulando por esta floresta fria. Que belo fim para um velho como eu.

— Matteo, não seja tão dramático. Isso aqui não é o fim.

— É o início de outra coisa — disse Marylia.

O casal se entreolhou. O homem balançou a cabeça e se deitou. Olga observou Marylia se levantar e tirar uma faca da bota.

— Eu vou explorar um pouco. Muitos segredos espreitam por esse solo. Do tipo perigoso.

— Mary, tenha cuidado.

A moça olhou para a mulher, que apertava o próprio vestido com ansiedade. Mesmo recente, o laço entre as duas era tão forte quanto o de uma mãe e uma filha. Marylia suavizou a expressão e falou:

— Eu terei. Volto já.

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