Capítulo XL

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Eden, Thalia, Selene e Caden esconderam-se assim que saíram da passagem secreta. Um choro sufocado de dor e silvos se espalhavam pelo ambiente. A voz de Laelia soava tão consternada e cheia de emoção que sua filha quase não a reconheceu.

– Meu filho, eu... sinto muito. Eu amo você. Achava que não, mas sei que amo. Não morra.

– Mamãe.

Telbeth gemeu e depois gritou, fazendo sua irmã se encolher. Ela se virou para os outros e disse:

–Eu preciso ir.

Caden tentou impedi-la, mas ela deslizou rapidamente para fora da proteção que as prateleiras ofereciam. Thalia e Eden se abraçaram, preocupadas.

Selene seguiu os sons. Primeiro, viu a chama fraca de uma vela quase completamente derretida; depois, um par de pernas quebradas e ensanguentadas. Ela parou quando viu os rostos manchados de lágrimas da mãe e do irmão.

– Mamãe.

Laelia ergueu o olhar com um soluço exasperado. Telbeth cuspiu sangue.

– Selene? O que houve com você?

A jovem ficou em silêncio, absorvendo a situação.

– Está toda suja e maltrapilha. – Ela baixou a cabeça e acariciou os fios negros de Telbeth. Não havia nenhuma coroa ali. A garota tentou reprimir o ciúmes e rejeição que sentiu e sua garganta amargou. – Foi seu pai, não foi? Não foi ele quem te raptou?

Selene quase respondeu "Mas meu pai está morto", porém lembrou-se das palavras de Marylia. Ninguém acreditava que ela era filha de Balken...

– Eu suspeitei – prosseguiu, tomando seu silêncio como uma confirmação. – Matar meu único filho e agir como herói, para tentar me conquistar e... conquistar você. Eu reconheci a coroa. Ela ficava no acampamento do clã da Meia-Noite, apenas um alto membro poderia ter acesso a ela...

Selene deixou-a prosseguir, hipnotizada pelo tanto de imaginação que havia numa mente desconfiada e paranoica.

–O que ele disse pra você? – perguntou, sôfrega.

– Muitas coisas. Mas... ele não me contou seu nome.

– Erebus. O nome dele é Erebus. E eu nunca devia ter voltado para ele.

– Vamos embora. Agora. – Selene sentiu uma raiva súbita aflorar no peito.

– Para onde? – perguntou, acarinhando a mão de Telbeth. Ele gemeu e tossiu.

– Vamos embora. E vamos agora. Sem ele.

– Como pode tratar seu irmão assim?

– Eu não o quero perto de mim. Ele é uma criatura fraca e horrível e eu estive tentando negar isso por muito tempo. Agora vejo como fui ingênua.

– Você está sendo fraca e horrível! Incapaz de perdoá-lo!

– Não! – esbravejou. – Como você consegue me desprezar e protegê-lo tanto? Eu... Não, mamãe, você tem um chance. Vir comigo e deixá-lo ou ficar com ele e... sofrer as consequências.

A mulher abraçou o filho com um olhar de dor. Logo depois, porém, sua compleição mudou e ela disse em voz baixa:

– Eu vou te dar uma coisa.

Ela tirou do pescoço o colar que sempre usava. Era opalescente e curvo como uma lua crescente.

– Há muito tempo, te tirei algo por que senti medo por você. Medo de verdade. Mas agora é a minha única esperança.

Selene tomou o colar de sua mão e o segurou diante dos olhos. Seus amigos saíram das sombras, ameaçadores e cautelosos. Laelia olhou-os assustada, mas o que realmente a aterrorizou foi a névoa escura saindo por detrás das prateleiras e o som de passos lentos e pesados ressoando no ambiente.

O que você fez? Não, não, não. Você não seria capaz de me trair assim!

Vidros se estilhaçaram por toda a parte, revelando a fúria ensandecida de Laelia. A bruxa do clã conjurou uma fumaça sufocante que entrou pela garganta da rainha e a fez engasgar. No meio da confusão, Selene foi puxada para trás por Rukbat, que olhava desacreditado para o pingente em sua mão.

Eu deveria ter te matado quando tive a chance! – rugiu Laelia para Erebus enquanto tossia e ofegava. Telbeth gemeu e começou a se arrastar para um canto, mas Tuban logo interceptou-o.

Eden e Thalia, em posição de defesa, estavam ao lado de Caden, que tinha uma camada de gelo cobrindo as mãos, esperando para ser conjurada. A mulher bruxa estava olhando raivosa para Laelia enquanto Erebus respirava de forma entrecortada e segurava seu flanco com força. O olhar do homem se alternava entre Selene e Laelia.

– Eu não acredito... – suspirou Rukbat, ainda admirando o colar. – Você. Você é a Abençoada Perdida...

– O que quer dizer com isso? Eu não sou coisa nenhuma...

– Vista o colar. Você poderá acabar com isso.

Selene sentiu o coração acelerar. Algo dentro dela queira desesperadamente negar aquela afirmação. Era o medo. Ela retrucou, trêmula:

– Eu não sou a Abençoada Perdida.

– Vista o colar.

E, então, apenas para provar que aquele velho estava errado, ela vestiu.

E descobriu que ele estava certo.

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Oi de novo! O que acharam do capítulo??

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Ah, e só mais uma coisinha...

Infelizmente (mas felizmente pra mim kkkk) o Encanto da Lua está chegando ao fim ;(

Então eu queria saber o que vocês acham dessas duas ideias: um romance YA entre duas garotas do ensino médio ou uma história de piratas (com romance entre mulheres tb!)

É isso, obrigada! e até a próxima ;)

O Encanto da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora