Capítulo XII

592 94 26
                                    

Balken e Telbeth desceram mais um lance de escadas localizado à direita da sala secreta na qual estavam antes. Outra idêntica descida podia ser vista do lado esquerdo, porém o rei não se preocupou em dizer a qual lugar sórdido ela levava.

— Pai, não me sinto muito bem...— gemeu Telbeth, apoiando-se nas frias e úmidas laterais de pedra para não perder o equilíbrio, sua cabeça rodava.

— É a magia, meu filho. Não é fácil prender esses vermes. Tome isto.— O homem retirou do bolso um pequeno punhado de algodão.

— Para quê?— Não foi preciso uma explicação. No mesmo instante, seu nariz começou a sangrar e um som agudo começou a confundir sua audição. Ele xingou.

— Eles tentam libertar a magia, mas não conseguem por causa das proteções. Isso gera uma pressão forte contra nós. Respire com calma e não faça movimentos bruscos.

— Por que prendê-los aqui? Em nosso lar.

— Gosto de tê-los por perto, estudá-los, testá-los. É mais prático e discreto mantê-los aqui.— Telbeth nada disse, porém lançou um olhar estranho em direção ao pai.

Quando chegaram a uma pesada porta de ferro, trancada por um cadeado e diversas trancas, Balken estacou. A pressão ali era imensa, quase insuportável, mas o rei não parecia muito incomodado. Ele removeu uma das pedras das paredes e retirou de lá um molho de chaves levemente enferrujadas.

— Controle seus nervos, garoto.— E abriu o cadeado.

                                    ཀ

Kaleb e Caden passaram o dia inteiro enfurnados no pequeno e escuro quarto do sótão. Nenhum dos dois queria sair, nem mesmo para buscar um pouco de água ou comida.

— Irmão, eu tenho que te dizer uma coisa.— Kaleb levantou a cabeça, atento.— Eu já vi aquela moça, a Marylia. Ontem à noite, quando fui encontrar a Delaney no castelo, ela estava lá também. Aparentemente precisava de um refúgio, mas eu não pude levá-la ao vilarejo por causa do juramento.

— Eu sabia! Sabia que havia algo de errado com você... e com ela.

— Como assim com ela? O que você sentiu?

— Segredos— disse, segurando os braços na tentativa de reprimir um calafrio.— E dores. Algumas recentes, quase não tiveram tempo de serem processadas. Outras mais antigas e enraizadas. Eu não... tudo estava tão confuso...

— Ei, calma— disse Caden delicadamente. Ele sabia o quanto a sensibilidade do irmão o agitava.— Vou buscar um pouco de leite e pão para nós, podemos continuar esta conversa de barriga cheia.

Kaleb assentiu enquanto andava de um lado para o outro do cômodo apertado.

Telbeth estava paralisado.

Os gritos, choros, gemidos e súplicas invadiam seus ouvidos, enlouquecendo-o. O fedor ali era insuportável. Vômito e excrementos escorriam pelas celas, e a umidade abafada do lugar piorava tudo. O rapaz sentiu seu café da manhã subir e descer por sua garganta diversas vezes.

— Venha, Telbeth! Não fique aí parado como um rato assustado.

Ele deu um passo para frente, suas botas começaram a chapinhar naquela podridão. Ao olhar a primeira cela, ele viu duas meninas magras demais, com as roupas rasgadas ensanguentadas e hematomas no pulso. Elas tentavam consolar uma a outra, mas estavam tão fracas e impotentes que apenas conseguiam balbuciar e soluçar. Aquilo o fez se sentir sujo, e suor começou a escorrer de sua nuca. Ele deu um passo para trás, e algo o agarrou.

— POR FAVOR! TENHA PIEDADE! SOLTE-NOS! SOLTE MINHA MULHER.

O homem que falava tinha a tez esverdeada e olhos completamente negros. Lágrimas azuis escorriam por sua boca e suas mãos calejadas e úmidas tocavam o príncipe com um desespero suplicante. Ao olhar um pouco para o lado, Telbeth pôde ver a esposa, encolhida num canto com a pele cheia de bolhas avermelhadas. Ela mal respirava.

— Pai...— chorou Telbeth. A voz rouca e paralisada. Balken quase não ouviu sua súplica em meio a tantas outras, mas, quando viu as garras do verme feérico agarrarem a espada que vinha na bainha do filho, pegou rapidamente uma baqueta e tocou o gongo às suas costas. Todos os prisioneiros levaram as mãos aos ouvidos em agonia.

Balken puxou-o pelo colarinho e empurrou-o para fora. Após fechar a pesada porta de ferro e esconder as chaves com rapidez e destreza impressionantes, apontou o dedo indicador para o rosto do filho e sibilou.

— Nem uma palavra sobre o que viu. Da próxima vez que vier aqui porte-se como um homem.

O rei subiu as escadas com passos retumbantes, deixando o filho para trás, em choque e sangrando.

*・゜゚・*:.。..。.:*・'・*:.。. .。.:*・゜゚・*
Oi! Estão gostando? O que acharam do capítulo?
Votem e comentem para que eu saiba a opinião de vocês ;)

Até a próxima 💓

O Encanto da LuaWhere stories live. Discover now