Capítulo XXV

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Telbeth não soube exatamente o que estava procurando naquela sala, mas sentiu que não poderia sair de lá antes de conseguir alguma coisa.

Aquelas quinquilharias ainda provocavam calafrios nele; os corpos esqueléticos de fadinhas mortas, caninos pontiagudos extraídos de algum feérico infeliz, poções, varinha, ervas... tudo parecia meio grotesco e proibido ali.

— Vossa Al...Majestade? Tudo bem aí dentro?— perguntou hesitante um dos guardas do lado de fora. A voz dele o acordou do torpor macabro, soou bem real e humana em seus ouvidos, natural.

Sim. Sim, fiquem aí. — Ele massageou a parte entre as sobrancelhas e suspirou, com o coração pouco acelerado. Sua outra mão apoiou-se casualmente na bancada de madeira na altura de sua cintura e então algo bem estranho aconteceu.

Ele ouviu um farfalhar suave, em seguida, sentiu calafrios. Seu olhar foi atraído para uma espécie de caixa de cristal decorada com ouro, que estava a poucos centímetros de seus dedos lânguidos.

Lá dentro, havia uma coroa.

Não era comum e muito menos parecia ter sido feita por mãos humanas. Sua estrutura era formada pelos escuros caules entrelaçados de flores pretas e aveludadas. Mesmo estando fechada dentro do recipiente, a coroa se remexia como se estivesse ao ar livre. Parecia chamá-lo, chamá-lo.

Antes que pudesse pensar, seus dedos já estavam tateando o fecho dourado.

Telbeth se afastou daquilo com um sobressalto ao perceber como quase cedeu à tentação. Pegar aquela coroa parecia um gesto bem definitivo e ele ainda precisava pensar em muitas coisas.

Sim, pensou ele. Ainda tenho que falar com Selene, resolver-me com ela. Comparecer à coroação. Dizer o que preciso a Dohan. Decidir como agir em relação à morte de meu pai...

Tantas coisas. Tantas, tantas coisas.

De repente, uma outra voz começou a ecoar em sua cabeça. Ele não tinha certeza se era a sua.

Você não sabe o que fazer, sabe?

Não — respondeu baixinho.

Precisa de ajuda, não precisa?

— Preciso de ajuda.

Ela está bem na sua frente.

— É.

Enquanto voltava a esticar as mãos em direção à coroa, um misto de autopiedade e decepção o atingiu. Talvez ele tivesse cedido porque, no fundo, sempre soubera que não seria capaz de resistir. Era apenas uma questão de mais cedo ou mais tarde.

— Me desculpe por isso — disse, para ninguém em específico, e pegou a coroa.

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O castelo estava adormecido. Até mesmo Dohan e Laelia tinham cedido aos encantos do sono.

Nos corredores, Selene, Caden e Deschia caminhavam, a princesas e suas criadas.

Toucas acompanhavam os uniformes, que também eram de manga comprida, então foi relativamente fácil esconder os traços excêntricos da aparência dos dois.

- Boa noite, Vossa Alteza- cumprimentou um guarda.

- Boa noite - respondeu Selene, sem parar.

- Dando passeios noturnos?- insistiu ele.E Selene se virou para olhá-lo. Eles nunca tiveram muito respeito por ela. Pelo menos não tanto quanto tinham por Balken, Laelia ou até mesmo Telbeth.

- Não acho que isso seja da sua conta.

Ela ouviu a risada que Caden tentou segurar, e achou que o guarda também, pois ele estreitou os olhos em sua direção.

- Não é, Vossa Alteza. Perdão.

Selene assentiu e voltou a andar, com Caden e Deschia em seu encalço. A princesa percebeu o beliscão não tão discreto que a garota deu em Caden e sorriu.

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Marylia soube que tinha que fugir assim como um rato sabe que precisa se esconder quando vê um gato. No seu caso, o gato era equivalente a uma visão indistinta e potencialmente perigosa.

Como ela tinha um total de cinco peças de roupa, não foi difícil guardar tudo numa pequena trouxa de viagem. Ela se aprontou com rapidez e atenção impressionantes, porém toda essa adrenalina enérgica se esgotou quando ela abriu a porta e pisou no corredor.

Devagar, ela desceu a escada que ligava o último andar da casa ao segundo. No corredor de baixo, havia dois quartos. Um de hóspedes, e o outro era o de Olga e Matteo.

Com passos hesitantes, ela foi até a porta. Os roncos eram bem audíveis dali.

Ela bateu três vezes, mas ninguém atendeu. Então bateu mais forte e mais rápido, e os roncos do lado de dentro se tornaram um engasgo, em seguida escarros e, por fim, resmungos. A cama rangeu e o chão também, e então Matteo abriu a porta, com o cenho franzido e uma careta de sono.

- Mary? O que aconteceu?

- Temos que ir embora, algo ruim vai acontecer.

- Ir embora? Como assim ir embo...- Olga acordou, interrompendo-o.

- Mary, querida, algum problema?

- Olga eu... tive uma visão, u-um pressentimento. Nós precisamos sair da cidade. Agora. - A moça agora adentrara o quarto, em busca de coisas úteis das quais poderiam precisar. - E, antes que sugira, não foi um pesadelo, muito menos uma alucinação.

Matteo gaguejava e ria, mas Olga permaneceu séria, confusa, mas séria.

- Tudo bem. Acredito em você. Mas preciso que me conte a história do início.

Marylia ficou surpresa por Olga ter acreditado nela, e Matteo mais ainda, mas ela logo começou a esclarecer as coisas. Resumidamente, falou sobre as bruxas que a criaram antes de serem mortas pelos cavaleiros do rei, as Madres, e como acabou virando parte da criadagem do Blackburn. Explicou que conhecia algumas artes da feitiçaria e que por isso conseguiu conjurar as visões com água e ervas. No fim de tudo, Olga disse apenas:

- Bem, então acho melhor irmos logo.

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Oie, estão gostando??

Vou tentar passar a postar 2 vezes por semana apesar das minhas aulas já terem começado ;)

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Até a próxima 😙

O Encanto da LuaWhere stories live. Discover now