Capítulo XXXIV

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Selene andava mais atrás, junto de Anna e Marylia, enquanto Eden, à frente de todos, marchava pela floresta com o arco e as flechas presos às suas costas.

— Vá e fale com elas, eu sei que você quer — disse Kaleb para Caden, que andava ao seu lado.

— Eu vou, só não agora.

— Por que está tão preocupado?

— Pode parar de ler meus sentimentos?

— Eu estou vendo pelo seu rosto. É óbvio que algo está errado.

— É, você tem razão. Mas eu não posso contar o quê.

Kaleb sabia que não conseguiria extrair nada do obstinado Caden, mas sentia a tensão característica daqueles que guardam segredos entre ele e a Princesa. Dali em diante, manteria os olhos abertos e os ouvidos atentos.
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Laelia viu a pedra cinza de seu anel adquirir um tom escuro de obsidiana. Ela caçou com o olhar o único responsável possível para aquele truque.

Primeiro, percebeu a tensão e ansiedade no corpo do Príncipe Dohan, seus olhares se cruzaram e ele se mexeu ligeiramente. Atrás dele estava Erebus, encolhido como um gato na lareira.

A Rainha virou a cabeça na direção de Telbeth, não queria chamar atenção para a localização do antigo amante. Viu o filho deslizando o polegar pelo fio de uma faca, seu sangue pingava, mas ele não parecia sentir. Estava reflexivo.

Os guardas, estáticos, nem mesmo piscavam sem uma ordem direta do novo Rei.

Ela encarou os olhos de Erebus, já esperando a súplica que veria neles. Sabia o que precisava fazer, mas, após tantos anos escondendo-se atrás de uma máscara e pregando contra sua própria essência, sentiu medo.

O bruxo, ainda olhando-a sussurrou nos ouvidos de Dohan:

— Você sabe quem sou, então não me preocuparei em esconder minhas intenções. Irei tirá-los daqui, mas precisaremos lutar. A coroa que o rapaz está usando foi forjada em ambição e poder. É algo poderoso.

— O que quer que façamos? — sussurrou de volta.

— Levantem-se e cerquem os guardas, distraiam-nos.

A pouco mais de um metro, Iohan, seu irmão, e Venisa Nathair, Rainha de Ofídis, estavam sentados. Um com a cabeça apoiada nos joelhos e a outra com as mãos sobre os olhos. Dohan deu um leve puxão nas correntes que os conectavam, eles o olharam. O príncipe se levantou e com um olhar os convidou a fazer o mesmo. Pouco a pouco, toda aquela meia-lua acorrentada ficou de pé, com expressões confusas estampada nos rostos. Telbeth largou a faca e os olhou com um sorriso, os guardas começaram a avançar.

Erebus, aproveitando a distração, deslocou-se como sombra e postou-se ao lado de Laelia. Ao olhar para ela, fez surgir nas mãos uma densa névoa preta. 

A Rainha se lembrou de sua irmã, Elia. A branda e pacífica Elia. Lembrou do jeito que suas mãos macias e quentes envolviam as suas, frias e calejadas. Recordou as tantas vezes nas quais vira a garota consertar os objetos que destruíra em seus acessos de raiva. Gêmeas opostas: Laelia, a cataclísmica. Elia, a restauradora. Com os poderes combinados, eram imbatíveis.

O bruxo apertou a mão trêmula da mulher. Telbeth virou o rosto bem na hora em que as sombras e a destruição se combinaram, numa tempestade de trevas. Os lustres tremeram, as cadeiras caíram pelo chão, taças de vinho se derramaram pela mesa e todos, por um momento, ficaram chocados demais para fazer qualquer coisa.

Os Rognor se entreolharam e, num rápido movimento, chutaram os guardas bem no meio das pernas. As outras famílias, influenciadas pela surpreendente violência dos pacifistas, juntaram-se à luta.

O Encanto da LuaWhere stories live. Discover now