Capítulo IX

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Laelia sabia que Telbeth seria um péssimo governante. Sempre soube.

Agora, com a aproximação da coroação, sua preocupação aumentava. Não perderia todas as suas conquistas por causa de um filho imprestável. Não, ela tinha outros planos.

— A senhora mandou que me chamassem?— perguntou a filha, os olhos fixos nas mãos unidas.

— Sente-se— falou, indicando o divã de veludo escuro com um floreio.

Ela obedeceu e não ousou olhar ao redor para admirar o recinto opulento no qual a mãe vivia trancada. Os dedos dos seus pés contorciam-se dentro de seus sapatos enquanto ela lutava para esconder o nervosismo. Teria sido descoberta?

A mulher, que antes admirava de costas a pintura melodramática e horripilante dos Cavaleiros da Morte, virou-se para ir até a poltrona de ouro e veludo que sempre ocupava. Uma mesa baixa estava posta entre as duas, com xícaras de chá de hibisco e frutas cristalizadas.

— Tenho grandes planos para você, Selene— disse, deslizando as unhas longas e pontudas pelos ornamentos do assento. A jovem engoliu em seco, incapaz de fazer qualquer outra coisa.

Inclinando-se de forma lenta e calculada, ela pegou uma das xícaras e a elevou até a altura do queixo. Em seguida, roçou um dos dedos pela borda banhada a ouro em movimentos circulares. Um sorriso enigmático surgiu em seu rosto.

— Andei trocando cartas com algumas rainhas da Aliança, elas e suas famílias virão para o aniversário de Telbeth.— Suspirou.— Os herdeiros, é claro, também foram convidados, teremos um encontro com cada um deles posteriormente. Ou melhor, você terá.

Como não tinha outra opção, a jovem anuiu.

— Perfeito.— A mulher sorveu o chá de uma forma que deixou a filha desconfortável.— Pode ir agora.

Selene levantou-se, fez uma reverência e saiu, como se tivesse uma faca apontada para suas costas. Ela já sabia o que aconteceria e, vindo de sua mãe, com toda a certeza não era algo bom.

Telbeth nem mesmo sabia da existência daquela parte do castelo.

Quando ele e seu pai saíram da sala em que estavam e passaram pelos corredores com guardas invisíveis e silenciosos, o rapaz se perguntou quantas outras passagens secretas existiam naquela construção.

Os dois caminharam por diversos níveis, atravessaram inúmeras portas, cada uma mais forte e resistente que a outra. Quanto mais desciam, mais rústica e antiga a construção ficava. E maior se tornava pulsação da chave em seu peito. Ou talvez fosse seu próprio coração apavorado.

Finalmente, depararam-se com enormes portas duplas de ferro revestido em bronze, guardadas por cinco homens armados até os dentes. A mão de Balken pousou pesadamente no ombro do filho, não um conforto ou consolação, uma ameaça.

— Abra.

Telbeth tirou o colar, as mãos tremiam de forma incontrolável, e enfiou a chave da fechadura. Com um clique metálico, destrancou-as, e com um empurrão pesado, abriu-as.

— Está na hora de conhecer o peso de uma coroa.

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— Kaleb, eu não estou tão cansado assim. Podemos voltar para o vilarejo hoje mesmo— disse, levantando um dos braços para proteger os olhos do sol matinal.

— Irmão, você mal consegue terminar uma frase sem bocejar. Dois dias sem dormir vão acabar com você.

— Mas você continua alerta como um gato...— murmurou. O outro revirou os olhos.

— Vamos, conheço uma pensão não muito longe.

Caden gemeu aborrecido, mas cedeu. Realmente se sentia esgotado devido à viagem que fizera na noite anterior, porém não gostava de dormir fora das proteções mágicas de Eridanus.

Ainda estava um pouco irritado com Kaleb por ter seguido a princesa. Ela tinha habilidades surpreendentes, e poderia tê-lo ferido se eles tivessem lutado. O que o incomodava ainda mais, porém, fora a sugestão que ele fizera mais cedo.

— Por que disse que a Delaney poderia servir de ajuda?

— Porque ela não me pareceu tão cruel assim.

— Ah, não?— ironizou.

— Não. Ela nem mesmo tem consciência dos ataques do Rei Balken, ficou abalada quando mencionei o incêndio.

— Fingidora covarde. Ela te enganou para fugir!

— Caden, você conhece muito bem minha sensibilidade. Se estou te dizendo que ela não sabia, é porque tenho certeza.

— Ha! Você pode ter certeza, já eu duvido muito. Ela me esfaqueou!— Ele apontou para a parte de baixo de seu queixo onde uma fina linha de sangue seco podia ser vista.

— Ah, por favor. A rasteira que deu nela fez mais estrago que isso aí.

Caden o olhou com raiva e, antes de sair batendo os pés, grunhiu:

— Odeio quando bisbilhota.

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O Encanto da LuaWhere stories live. Discover now