Capítulo XVIII

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Durante aquela semana, festas, bailes e jantares apinhados de damas e cavalheiros ocuparam os dias de Selene. Às vezes, ela se esgueirava para a biblioteca, alguma varanda, ou até a cozinha com Katha e Jair para fugir da intromissão da mãe. Ela também estava prestando mais atenção em Dohan e seu irmão. Aquele pequeno caso começava a preocupá-la.

Na noite antes da coroação, ela foi até os jardins dos fundos discretamente e adentrou bosque. Os guardas ficavam bem sonolentos pela madrugada, e ela era apenas mais uma sombra em meio a muitas outras, então não foi difícil driblar suas proteções. Adagas geladas fustigavam sua pele enquanto andava.

A pedra da clareira apareceu em sua visão. Selene sentou-se ali, respirou fundo, e fechou os olhos. Quando os abriu, fitou a lua, cheia e brilhante como uma pérola. O céu estava de um azul do tom do oceano, e as estrelas pareciam diamantes.

O vento frio fez com que se encolhesse em meio às sedas que vestia. Ali, um outro mundo se abriu para ela. Sem preocupações, fingimentos e etiquetas. Eram apenas Selene e a noite.

Até que o barulho da cavalaria do rei atravessando a ponte atingiu seus ouvidos.

Preso. Sozinho, trancado em um caixote de madeira, sendo transportado por cavalos. As algemas de ferro queimavam em seu pulso, mas mesmo assim lutava contra elas.

Os guardas o haviam seguido até o sebo, onde comprava livros. Dois deles foram mortos antes de conseguirem detê-lo. Havia sangue em suas mãos, não estava acostumado com isso.

Ele pensou que, saindo de noite, poderia se entremear pelos becos escuros sem correr o risco de ser seguido. Infelizmente, enganou-se. Os guardas haviam treinado, ficado mais espertos.

O pânico e a claustrofobia começaram a sufocá-lo. Agora não, pensou. Não poderia gastar energia se desesperando. Ele fechou os olhos, e respirou fundo.

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Dohan e Telbeth estavam sentados lado a lado, num dos sofás da biblioteca. Um candelabro brilhava na mesa à frente deles, iluminando pouco mais que seus corpos. O futuro rei tremia e suava.

— Por favor, não tenha um ataque aqui. — O rapaz passou as mãos pelos cabelos escuros e curtos, fazendo com que alguns fios prendessem nos anéis. A chave em seu colar abafava seu peito, e ele a apertou com as palmas úmidas.

— Preferiria ter um ataque e acabar logo com isso a acordar amanhã.

— Ei.— Dohan colocou um mão em sua perna e passou o braço por seus ombros.— Eu estou aqui, com você, vai dar tudo certo.

— Dohan... — Telbeth o abraçou, lágrimas molharam a camisa de linho do outro.

O Príncipe Dahab beijou seus cabelos desgrenhados, a preocupação refletida nas sobrancelhas franzidas. Seus dedos passearam pelas costas do rapaz, tentando amenizar o sofrimento que doía tanto nele quanto em si mesmo.

Selene correu mais rápido que o vento, os pés mal tocando o chão. Não foi possível chegar ao mesmo tempo que os cavaleiros, o prisioneiro já estava sendo arrastado pelo portão que levava aos calabouços, mas ela pôde ver o brilho prateado de seus cabelos quando chegou ao limite do bosque. Ela se recostou numa árvore, a respiração pesada demais, e fechou os olhos. Mesmo assim, não aguentou ficar de pé por muito tempo e deslizou até o chão, com a cabeça pendendo para trás.

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— Me soltem! Vocês pegaram a pessoa errada! — Ele sabia que estava preso por ter sangue mágico, porém não desistiria de tentar. — Eu sou apenas um aldeão!

Três guardas robustos o arrastaram para uma cela fria e suja e agrilhoaram seus tornozelos à parede. O fogo e a dor aumentaram. Ele fraquejou. 

— Astride, avise ao Rei que capturamos mais um. — Uma mulher robusta assentiu, subindo as escadas que os levara até ali.

Seus braços penderam, quase sem força. A sensação era de ter carregado pedras por dias e dias sem cessar. Um dos homens que estavam na cela confiscou seu anel-chave. Ele gemeu, impotente. Ao tentar conjurar seus poderes, gritou. Tentar apenas piorava as coisas.

Assim que fecharam a grade da cela, seus olhos e punhos se cerraram, em frustração.

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O Encanto da LuaWhere stories live. Discover now