Capítulo V

150 40 136
                                    

Observando as folhas caídas no chão me perguntei qual era a diferença entre elas e eu. Uma voz ecoou na minha cabeça:

"Elas tem seu proposito e seguem um ciclo, você não morre nem vive, essa é a sua penitencia."

A folha que caia naquele chão, se decompunha e nutria a terra, que por sua vez nutria a árvore, que gerava mais folhas, que um dia voltariam a fazer o mesmo.

Eu? Nem se quer produzia carbono para aquelas árvores.

Suspirei e caminhei por mais algum tempo, quando me dei por satisfeita, sentei em um dos bancos de madeira e encarei os flashes de luz que atravessavam as copas.

Meu cabelo foi pego por uma ventania e voou longe.

Pássaros cantavam uníssonos, tilintavam lindamente, mas a luz acima de nós começava a estarrecer. Crianças corriam para seus pais e eu já não avistava mais nenhuma das mulheres e seus vestidos esvoaçantes. Até os pássaros cantantes de outrora tinha ido embora.

Um silêncio tomou o local e logo depois... Um grito.

Um grito gutural e desesperado.

Eu me ergui de pronto. O grito continuava. Meu raciocínio me dizia "não, não siga em direção aos gritos", eu tinha assistido filmes de terror suficientes para saber que isso nunca acabava bem. Mas minha curiosidade combinada com o que me restava do instinto protetor fez com que minhas pernas corressem rápidas em direção ao som.

Dois longos minutos se passaram. Ainda teria chegado mais rápido que um humano chegaria, só que para mim ainda teria sido devagar.

Demorei alguns segundos para distinguir a imagem na minha frente.

Um homem deitado gritava enquanto outro, tão alto quanto Rael, o chutava repetidamente.

O homem deitado segurava a cabeça e percebi que chorava. Ele apertou os olhos.

— Senhor Deus, por favor, tenha piedade de mim.

Ele choramingou. Sua voz era desesperada. Tanto quanto a minha já tinha sido.

— HEY!

Eu gritei.

— Pare! Oque pensa que está fazendo?

O agressor parou por um momento e me encarou de soslaio.

— Saia daqui ruivinha, não há nada para você aqui.

Ele falou e voltou o seu processo de espancamento.

Minha lentidão ainda permitiram que ele disferisse mais dois chutes. Ele abaixou-se e puxou o magricela homem pela gola de sua camisa em farrapos e ergueu o punho.

Nesse momento, eu entendi a fala de Rael sobre a imaginação ser tão significante quanto à sensação. Percebi isso no momento em que prendi o pulso dele em minha mão. A junção do estralo de seus ossos quebrando com a sensação de saber que eu tinha sido a responsável era quase... Prazerosa.

Um gemido saiu da boca dele enquanto sua outra mão largava o homem no chão. Olhei pra ele ciente do sorriso maldoso que eu tinha em meu rosto e falei.

— Eu disse para você parar. Por que nunca escutam?

— Sua vad...

— Você é um pecador. E pecadores não merecem perdão.

Meu punho se ergueu no ar, mas foi paralisado pela voz rouca ecoando atrás de mim. A voz de Rael. E ele estava bravo, muito bravo.

— A regra é "Não chamem atenção!". Isso não é ser discreta!

As Crônicas do Caos - Perdição (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora