Capítulo XXVIII

62 16 41
                                    

Respirei sentindo-me queimar instantaneamente.

Parecia que minha garganta estava selada há muito tempo e que somente agora parecia se expandir novamente. Sufoquei mais uma vez.

Sentia meus pulmões afogando de novo. Era o veneno de meus sobrinhos e parte da magia angelical corroendo minhas veias, eu soube sem precisar pensar muito. Ambos pareciam uma mistura que me faziam intoxicar e no que deveria ser um estado além do febril, fazia minha mente arrastar-se para dentro de si mesma.

Aquele breu me tomava para si com veemência, não importava o quanto eu fugisse, estava presa com minhas memórias indo e vindo, repetidamente como um gravador quebrado. Parecia em pé num grandioso quarto escuro – consciente em meu subconsciente –, com água circundando meus pés e subindo lentamente.

Um murmúrio alcançou meus ouvidos.

— Calma, achamos você. Calma... — Repetia ele e por mais que eu buscasse sua origem, não identificava.

Logo aquele murmúrio fora sobrepujado por um mais intenso e mais alto, demorei um tanto para ouvir com clareza a voz que chamava e gradativamente, eu era tomada por uma luz crescente aproximava-se com ela;

— Venha, mestre, venha! — Dizia a voz saudosa e familiar.

Senti o vento lufando em meu cabelo, aquela altura, eu não estava mais no escuro e de longe minhas vestes eram as mesmas. Vi meu reflexo no que parecia ser água, mas que logo tomou sua forma enevoada. Traços delicados – mais juvenis, com cabelos caindo em cascatas sob minhas asas. Minhas asas. Suspirei levemente chorosa e crente da irrealidade que me vinha.

— Venha! — Chamou novamente.

Meu corpo ágil sozinho, minhas asas agiram sincronicamente. Fui rápida, alcançando o querubim travesso que me desafiava. Aladiah irradiava seu brilho dourado, intensificando o tom escuro de sua pele. Ela era veloz, mas seis asas eram mais firmes do que duas.

Zarpávamos entre nuvens desviando de tempestades, buscando aquela nuvem quente e ensolarada. Minhas costas se alongavam numa pirueta celeste.

— Não consegue me alcançar! — Meu corpo gritou de volta para ela. Não era eu propriamente dita, parecia que eu estava aprisionada numa versão antiga de mim.

— Estamos sempre à frente irmã! — Camael quem gritou de volta — Está ficando velha!

Ele voava acima de mim. Yarin – com seus cachos dourados irradiado pelo sol – e Hazael – com sua pele avermelhada e longos cabelos esvoaçando – o circundavam, rápidos e felizes. E foi nesse exato momento em que parei.

Sentia minha bile subir por minha garganta. Tomei posse de meu corpo.

— Cam? — Sussurrei confusa. — Como...

Seu sorriso estava tão aberto como costumava ser, numa era tão distante. O seu cabelo se tornava dourados iluminados por um raio de sol que enfrentava a tempestade.

— Venha irmã, venha! — Camael chamou novamente.

Estiquei meus punhos à frente. Deixei minhas asas em riste e forcei-me contra o vento. Voei com o que pareceu todo o meu poder, toda a minha força. O vento, em contra partida, pareceu se enfurecer, opondo-se.

— Por que não vem, irmã? — A voz dele questionou distante, planando no horizonte. — Por que não voltou, Serafine? Por que vai se esquecer de mim?

— Eu não vou! — Gritei de volta. Minhas palavras pareciam sem som, o vento havia as engolido. Sua distancia aumento e as nuvens escurecidas me cercaram ainda mais. — Cam! Não me deixe! — Implorei ciente de que agora meu rosto puro e intocado de antes, estava manchado por grossas e vigorosas lágrimas. — Eu não consigo ficar sozinha, Cam!

As Crônicas do Caos - Perdição (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora