Respirei sentindo-me queimar instantaneamente.
Parecia que minha garganta estava selada há muito tempo e que somente agora parecia se expandir novamente. Sufoquei mais uma vez.
Sentia meus pulmões afogando de novo. Era o veneno de meus sobrinhos e parte da magia angelical corroendo minhas veias, eu soube sem precisar pensar muito. Ambos pareciam uma mistura que me faziam intoxicar e no que deveria ser um estado além do febril, fazia minha mente arrastar-se para dentro de si mesma.
Aquele breu me tomava para si com veemência, não importava o quanto eu fugisse, estava presa com minhas memórias indo e vindo, repetidamente como um gravador quebrado. Parecia em pé num grandioso quarto escuro – consciente em meu subconsciente –, com água circundando meus pés e subindo lentamente.
Um murmúrio alcançou meus ouvidos.
— Calma, achamos você. Calma... — Repetia ele e por mais que eu buscasse sua origem, não identificava.
Logo aquele murmúrio fora sobrepujado por um mais intenso e mais alto, demorei um tanto para ouvir com clareza a voz que chamava e gradativamente, eu era tomada por uma luz crescente aproximava-se com ela;
— Venha, mestre, venha! — Dizia a voz saudosa e familiar.
Senti o vento lufando em meu cabelo, aquela altura, eu não estava mais no escuro e de longe minhas vestes eram as mesmas. Vi meu reflexo no que parecia ser água, mas que logo tomou sua forma enevoada. Traços delicados – mais juvenis, com cabelos caindo em cascatas sob minhas asas. Minhas asas. Suspirei levemente chorosa e crente da irrealidade que me vinha.
— Venha! — Chamou novamente.
Meu corpo ágil sozinho, minhas asas agiram sincronicamente. Fui rápida, alcançando o querubim travesso que me desafiava. Aladiah irradiava seu brilho dourado, intensificando o tom escuro de sua pele. Ela era veloz, mas seis asas eram mais firmes do que duas.
Zarpávamos entre nuvens desviando de tempestades, buscando aquela nuvem quente e ensolarada. Minhas costas se alongavam numa pirueta celeste.
— Não consegue me alcançar! — Meu corpo gritou de volta para ela. Não era eu propriamente dita, parecia que eu estava aprisionada numa versão antiga de mim.
— Estamos sempre à frente irmã! — Camael quem gritou de volta — Está ficando velha!
Ele voava acima de mim. Yarin – com seus cachos dourados irradiado pelo sol – e Hazael – com sua pele avermelhada e longos cabelos esvoaçando – o circundavam, rápidos e felizes. E foi nesse exato momento em que parei.
Sentia minha bile subir por minha garganta. Tomei posse de meu corpo.
— Cam? — Sussurrei confusa. — Como...
Seu sorriso estava tão aberto como costumava ser, numa era tão distante. O seu cabelo se tornava dourados iluminados por um raio de sol que enfrentava a tempestade.
— Venha irmã, venha! — Camael chamou novamente.
Estiquei meus punhos à frente. Deixei minhas asas em riste e forcei-me contra o vento. Voei com o que pareceu todo o meu poder, toda a minha força. O vento, em contra partida, pareceu se enfurecer, opondo-se.
— Por que não vem, irmã? — A voz dele questionou distante, planando no horizonte. — Por que não voltou, Serafine? Por que vai se esquecer de mim?
— Eu não vou! — Gritei de volta. Minhas palavras pareciam sem som, o vento havia as engolido. Sua distancia aumento e as nuvens escurecidas me cercaram ainda mais. — Cam! Não me deixe! — Implorei ciente de que agora meu rosto puro e intocado de antes, estava manchado por grossas e vigorosas lágrimas. — Eu não consigo ficar sozinha, Cam!
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As Crônicas do Caos - Perdição (EM REVISÃO)
Paranormal🐍 Até onde você iria por uma segunda chance? Serafine já foi um anjo, da mais alta hierarquia, mas tudo mudou quando ela quis interferir na liberdade de escolha dos homens. Condenada a uma eternidade num corpo inerte, em Perdição, Serafine s...