Capítulo IX

134 34 68
                                    


Quando eu pulava, a saia do meu vestido esvoaçava, era um ato muito simples, mas eu amava o modo como o tecido flutuava e como delicadamente tocava e deslizava por minha pele.

Me dei uma ultima olhada no espelho.

"Tudo tem que estar perfeito."

Ecoou a voz de papai em minha cabeça e de fato, estava. O vestido de veludo vermelho-sangue tinha seu cumprimento até o meado das coxas, era justo até a cintura, mas depois se tornava propensos à pressão do vento. Tinha também finas tiras como alças, costas um tanto nuas - oque não me fazia a mais feliz das demônias, descobrimos contrariados, que as cicatrizes das asas nunca sairiam.

Mesmo depois de renascer, elas estavam ali, impávidas e colossais, algumas runas de disfarce ajudavam, mas usar magia demais poderia ser exaustivo, mas um generoso decote 'v', que exibia perfeitamente o colar que mamãe me dera, era a compensação perfeita para qualquer olhar incomodado para minhas costas. Usar saltos não era minha coisa favorita, mas coloca-los hoje tinha espantado qualquer aspecto de insegurança.

Gloss nos lábios e um pouco de rímel nos olhos, eram o máximo de maquiagem que eu gostaria e usaria. Satisfeita com minha imagem, eu sai do quarto.

Eu caminhava o mais vagarosamente possível, mesmo sabendo que estavam esperando por mim. Nós vivíamos num (sub)círculo do inferno, com visitação restrita a nossos servos, mamãe, papai e a meus irmãos: Asmodeus, Caim, Mammon, Azazel, Belphegor e Leviatã. Aqui era claro, paredes nunca num tom mais escuro do que carmim, sempre muito bem iluminadas. O corredor até a sala de jantar era sinuoso, de teto abobado e de cor malva com rosetas cinza estampadas por sua superfície. Era largo, mas não tinha maiores decorações.

Antes mesmo de chegar ao ponto de encontro eu já ouvia resquícios de uma conversa calorosa entre mamãe e Mammon.

- Esperem todos chegar. - Ela dizia.

- Mas mãe...

­- É uma ordem!

Ele não respondeu, embora eu quisesse. Queria vê-lo irritar a mamãe á ponto de ela usar magia para explodir a cabeça dele. Crepitus caput. Duas palavras e menos um problema em minha vida. Suspirei alto. Devaneios de uma jovem demonia.

A entrada para a sala era selada por altas e lisas portas brancas. Girei a maçaneta e entrei na - grandiosa - sala. Paredes com um cinza queimado, janelas largas para um paisagem de um jardim ocidental, chão de porcelanato escurecido, o mundo além de nós era milimetrametamente construído ignorando todo o caos que pressupunha o inferno, havia até mesmo um mar, em nada perdia para os reinos divino e mortal.

A mesa era larga e comportava 10 pessoas facilmente. Papai e mamãe sempre sentavam nas cabeceiras. Logo após papai do lado, esquerdo sentavam Caim, Mammon e Azazel. Já do lado direito, Asmodeus, Belphegor, Leviatã e eu.

- Bom dia, mamãe.

Eu anunciei assim que entrei.

- Bom dia, querida. - O sorriso dela era caloroso. Ela vestia um justo vestido verde, mangas curtas, decote de coração e embora eu imaginasse que ele fosse longo, apostaria meu mindinho sobre ter uma reveladora fenda. - Vermelho é realmente a sua cor.

Ela disse.

Tomei meu lugar ao lado dela e escutei a indagação de Mammon.

Ele era baixo, até mesmo menor que eu, cabelos encaracolados e pretos - assim como eram os de Caim, Azazel, Belphegor e Leviatã. Tinha a pele com um toque de bronze, olhos com pupilas gigantescas, mas ainda apareciam suas íris vermelhas, usava um blazer semelhante ao de papai assim como todos os nossos outros irmãos. O consorte da gula tinha chifres, eram curtos, mas eram grossos e enroscados, semelhantes ao rabo de um porco.

As Crônicas do Caos - Perdição (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora