Capítulo VI

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Pus-me de pé e me afastei.

A essa altura eu já estava no meio da rua. Eu não costumava ter medo, mas aquela situação em particular me deixou bastante intimidada. A figura alta e corpulenta saiu por um segundo da escuridão que lhe cobria. Agora eu podia encarar bem, a pele pálida, o cabelo escuro penteado para trás, um terno num grafite escuro, sapatos lustrosos e em seu rosto um sorriso. Um sorriso tão intenso que chegava a ser assustador.

Apurei a audição, só escutava voz humana a quase cinco quilômetros de distância, qualquer que fosse a intenção do homem a minha frente, correr — mesmo que fosse o mais rápido que pudesse — seria uma atitude inútil. De pronto me amaldiçoei por ter me afastado tanto de contato humano.

O homem ainda me encarava atentamente. Recusei-me a me envolver com os braços, pelo contrario, cerrei meus braços e o encarei firmemente. Engoli a seco e busquei minha voz.

— Quem... Quem é você?

O sorriso do homem só se abriu mais, dando alguns passos para mais perto ele falou novamente com sua voz de discurso. Desta vez, tocada por um tanto de soberba.

— Eu tenho muitos nomes, sou chamado de muitas coisas, creio que escolher apenas um é uma tarefa um tanto complicada.

Minha segurança ainda não havia retornado, mas a petulância que havia em mim, saudava a petulância que havia nele.

— Bem, então me permita adicionar mais um há sua coleção. Perseguidor me parece fazer bastante jus a você.

Ele riu.

— Creio que esta é a primeira vez que me agregam este titulo, ao menos cara a cara — Ele se aproximou um pouco mais, agora estava a poucos passos de distância.

— Acha que as pessoas tem medo de você?

Perguntei implorando que a arrogância em minha voz não falhasse. A final, eu era uma das vitimas de sua intimidação.

— Cá entre nós, minha jovem, a maioria tem medo de dizer se quer uma palavra gentil há minha presença. Mas para sua sorte, eu estou de ótimo humor.

— Mas olhe só, que sorte a minha.

Murmurei.

Ele se aproximou um pouco mais.

— Não imagina o quanto, minha criança.

O modo como sua voz soava, me deu alguma familiaridade ainda desconhecida. E aquilo acrescentou uma acidez a minha voz.

— Sou muito mais velha do que você imagina.

— Oh, eu sei, eu sei. — Ele se aproximou de mim o suficiente para sussurra em meu ouvido com sua voz, agora baixa e tênue. Controlei meu ímpeto de fuga e apenas congelei com suas palavras seguintes.

— Reconheço um anjo caído quando vejo um.

Sabia que meus olhos se arregalavam, mas meu queixo não caiu. Muitas criaturas do submundo poderiam sentir o meu cheiro e me reconhecer, mas este não parecia um submundano qualquer.

— E o que você quer comigo?

Questionei.

— Oh criança, quero lhe dar oque mais deseja!

— Como sabe o que eu mais desejo?

O sorriso dele se desfez um tanto e mesmo bem iluminado pelos postes, uma sombra escura tomou seu rosto.

— Aqui em baixo, eu sou oque mais sabe de coisas. Desde a sua queda, o fogo a consumindo...

— Isso não é da sua conta!

As Crônicas do Caos - Perdição (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora