Capítulo XX

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Tinha me encarado no espelho tantas vezes que perdera a conta de quantas vezes tinha decidido mudar o penteado, para que no fim, aceitasse que ele cairia por minhas costas. Não queria ter me esforçado tanto para um encontro com Théo - se é que poderíamos considerar aquilo um encontro, mas quando menos esperei, já estava com a nécessaire aberta, aplicando mascara nos cílios e dando um leve tom de vermelho a meus lábios.

Tinha decidido usar um vestido floral azulado, com mangas bufantes e saia rodada. Demorei tanto quanto para decidir qual sapato usar, quanto para arrumar o cabelo e por fim, acabei escolhendo um tênis de plataforma baixa e cano médio de um tom azul claro que combinava perfeitamente com todas flores de meu vestido.

Me avaliei novamente e bufei olhando para o teto. Não entendia nem um pouco o porquê de estar tão preocupada em causar boa impressão para alguém que eu já possuía. Théo era meu.

Não era?

A voz que soou em minha cabeça, por sua vez, me corrigiu: Não, graças ao baile, ele será de seu pai.

Naquela tarde, tinha fugido do pedido de Théo tão covardemente que me faziam querer buscar algo para enfiar a minha cabeça. Théo tinha sido gentil e tinha sido pego de surpresa para minha negativa - estúpida, para o baile. Mas ainda mantendo a promessa, iria encontrá-lo para que eu lhe concedesse a dança que Lucius havia impedido em Ibiza.

Sai pelo banheiro e me frustrei ao perceber que a temperatura de Andorra, só ficara menor do que antes. Precisaria de tempo para me acostumar com isso sem precisar usar magia para me aquecer. E embora o frio e meu encontro com Théo fossem tudo em que eu pensava, notei enquanto Lucius ajustava a gola padre de sua camisa e perfumava-se sutilmente.

Tossi falsamente para que ele percebesse minha presença. E assim que ele se virou, sorri ao ouvir seu assovio zombeteiro.

- Pelo temor de Lilith, parecia que jamais fosse sair mais daquele banheiro. - Comentou ele, mas sua feição suavizou a medida em que ele me encarava mais profundamente. - Achei que o seu traje de sedução envolvia mais couro do que algodão.

Encarei meus próprios pés. Acredite Lucius, nem eu mesmo estava me entendendo.

- E eu achei que você tinha entendido que não iria me vigiar hoje. - Desconversei. - Ou você se esqueceu como se veste um pijama?

- Essa roupa? - Fez-se de desentendido. - Não é nada demais, mas você não é a única que tem um compromisso hoje à noite!

Ele até tentou esconder o quão animado estava, mas um sorriso se formava nos cantos de seus lábios ao mesmo tempo que os meus se fechavam num pequeno 'o'.

- Tem um encontro? - Perguntei sem rodeios.

- Na verdade não. - Ele guardou o perfume em sua mão e conferiu-se no espelho do banheiro antes de matar minha curiosidade. - Eu fui convidado para uma pequena festa. Acho que serei um membro interino da equipe de basquete.

Não pude conter o pequeno orgulho que crescera em mim.

- Então quer dizer que agora você é popular? - Lucius apenas deu de ombros enquanto o seu pequeno sorriso se intensificava.

- Eu não deveria estar tão animado, não é? - Perguntou ele de modo abrupto.

Mas eu não julgava sua insegurança. Tinha vivido o suficiente para lembra do quão fácil perdemos as coisas. Mas de todos os momentos que eu podia ser sincera, para manter aquele otimismo velado que eu sabia que existia nele, escolhia nutrir aquela plantinha de esperança.

Não que essa fosse à atitude de uma demônia, meu subconsciente alertou, mas por alguns momentos eu sentia minha alma se regenerando novamente e inevitavelmente a plantinha da esperança crescia em mim também.

As Crônicas do Caos - Perdição (EM REVISÃO)Where stories live. Discover now