— Vamos, inspire fundo mais uma vez. — Pediu o padre posicionando novamente o auscultador do estetoscópio na parte esquerda de minhas costas. Repeti o processo pelo que já devia ser a quarta vez. — Então é isto... Você está perfeitamente bem! Pulmões em plena capacidade e nenhuma sequela aparente.
Olhos escuros, obtuso e com mãos tremulas. Padre Belford era baixinho e há muito já perdera o cabelo. Sua pele era tão bronzeada quanto à de Théo, mas os traços de Belford se destacavam ainda mais latinos do que os dele.
Théo encarava-me atentamente, acompanhando cada resposta do médico. Ele, Lucius e Madeleine observavam tudo sentados no leito à frente, enquanto o padre me fazia estender o braço para um novo exame arterial. Eu e Lucius contínhamos o riso com os esforços redobrados de padre Belford em ter certeza de que eu estava bem – e em surpresa por eu realmente estar.
Já meia hora mais tarde, ele tinha me liberado do soro e começado a desfazer o curativo de minha mão.
— Ou você é um milagre religioso — Dizia ele enquanto puxava a atadura. — Ou um milagre médico. Mas com toda certeza, um milagre.
Observei mais séria dessa vez enquanto ele mostrava os centímetros de pele rosada inteiramente cicatrizadas, do meu antebraço e dorso, mas assim que Belford virou a palma de minha mão para cima, arquejei levemente ao ver a grossas linhas que se alinhavam em círculos concêntricos, numa mistura de vermelho-inflamação e bolhas amareladas. Tinha demorado meio segundo para identificar o que as linhas formavam não eram feito de meus sobrinhos. Mais do que depressa, fechei minha mão e a cobri com a livre. Mordi meu lábio para inibir o leve grunhido de dor.
Padre Belford me encarou confuso, assim como Madeleine e Théo. Neguei com a cabeça quando o padre pôs sua mão sob a minha, insistindo para concluir seu trabalho.
Olhei por cima do ombro dele e não precisei usar do vinculo mental para que Lucius entendesse minha breve agonia. Quase imediatamente, Lucius esgueirou-se e tomou minhas mãos das do padre.
— Serafine é um tanto sensível quando se trata de machucados expostos, senhor Belford. — Disse ele de maneira comedida. Encarando o padre nos olhos. — Talvez seja mais fácil eu fazer o curativo ou o senhor terá de seda-la para isso.
Uma risada inesperada e rouca saiu de Belford, ele se tornou relaxado e entregou um rolo de gaze e um pequeno que ele descreveu como "cataplasma de ervas-cicatrizantes". Encolhi meus ombros levemente, esperando que ninguém além de mim tivesse notado Luc compelindo um padre.
— No três? — Questionou Lucius, tomando minha mão na sua, indicando para que eu abrisse.
— Você nunca diz o três.
Lucius sorriu e estava prestes a soltar um comentário sarcástico, mas calou-se no exato momento em que ele viu marcas entalhadas.
Seu olhar tinha sido apressado, assim como seus movimentos – envolvendo minha mão com o cataplasma e com as ataduras.
— Talvez você ainda precise ficar trocando o curativo por mais alguns dias. — Avisou a versão ébria de Padre Belford. — Mas ainda quero que fique de repouso. Na verdade os dois. Ainda acho que uma tomografia seria o essencial...
— Não acho que precise. — Rebateu Lucius, sem maiores espaços para respostas, enquanto estendia o braço e me ajudava a levantar. — Serafine ficará completamente bem em um dia ou dois.
— O que? Só pode estar brincando! — O arquejo impressionado veio de Théo.
Lucius deu de ombros e entregou-me uma muda de roupas.
— Os genes Káida são impressionantes, Théo.
Madie e Théo bufaram ao mesmo tempo em que eu sorri. Era indiscutível a falta que o grupo – por completo – me fazia, era meu sinônimo de paraíso.
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As Crônicas do Caos - Perdição (EM REVISÃO)
Paranormal🐍 Até onde você iria por uma segunda chance? Serafine já foi um anjo, da mais alta hierarquia, mas tudo mudou quando ela quis interferir na liberdade de escolha dos homens. Condenada a uma eternidade num corpo inerte, em Perdição, Serafine s...