Deitada em minha cama, meu peito arfava.
Depois de fugir do que parecia uma matilha de cerca de 20 lobos e entrar num portal com uma velocidade superior à indicada, o meu corpo e provavelmente o de Lucius também, clamavam por descanso.
Tínhamos seguido direto para o quarto sem passar até mesmo ignorando o aviso de um servo que dizia que papai estava nos aguardando com relatórios.
A cama me parecia convidativa demais, entretanto, a areia em meu cabelo, o cheiro excessivo de fumaça e o sangue tanto de lobo, quanto meu, já seco impregnado em minha roupa e pele me fez exigir um banho.
Segui para o chuveiro, me livrei das roupas. Cogitei encher a banheira e adormecer dentro d'água, mas o esforço de usar magia para enchê-la, não valeria a pena. Enquanto esfregava minha pele sob o chuveiro, permiti que a água levasse a memória do primeiro ser - que eu de fato, - matava.
Não queria sentir-me culpada. Ele havia nos atacado, havia me machucado e machucado Lucius. A morte era um preço justo para ele, mas não para todos. Alguns mereciam viver e antes que me desse conta eu havia me perdido dentre as coisas verdadeiramente boas acontecidas em San Antonio: as memórias de Théo.
O fulgor, a animação, a eletricidade em seu to que, o calor da expectativa. A minha reação a encara-lo era algo pelo que nunca havia me acontecido.
Essa era uma reação que eu causava nas pessoas, não ao contrario!
Era ridículo, principalmente pelo fato de surgir enquanto ainda o olhava distantemente.
Estava convicta de que poderia passar horas apenas observando-o sorrir.
Levei as mãos até o rosto e pressionei minha testa sobre a parede do box.
O que estava acontecendo comigo?
Era o álcool ainda em meu corpo. Era isso! O álcool. A única justificativa plausível.
Afastei as mãos do rosto e as pressionei na parede a minha frente. Encarei-a casualmente e de pronto, a memória de Théo beijando minha mão me tomou novamente. Seus lábios perfeitamente entalhados; um tanto grossos, macios e mornos. E por um segundo fantasiei como teria sido se não tivéssemos nos afastados e ele tivesse beijado os meus lábios.
Uma voz em mim comemorou que o desejo dele me envolvesse.
A necessidade de vê-lo novamente era maior do que eu queria sentir e até mesmo admitir.
Em dois dias eu deveria estar num principado Espanhol, no Colégio de Santa Coloma de Andorra. Com ele.
E em pouco mais de três semanas, sua alma seria levada e eu voltaria para casa. Meu subconsciente avisou, levianamente.
Théo morreria e o sangue que seria derramado mancharia a mesma mão que há poucas horas, ele beijava.
Antes que um sentimento melancólico tomasse, desliguei o chuveiro e sai do banheiro.
Vestida confortavelmente, me dirigi à cama e me afoguei entre as cobertas. Entretanto, quando encarei o teto escuro, uma imagem de um Théo caído enquanto seu corpo era envolto por chamas, apoderou-se de minha mente.
Esse era o destino dele traçado com a ajuda de minhas mãos.
Com o peso da culpa me puxando para baixo até quase sufocar, cai no sono com a necessidade de não acordar novamente. E essa era uma culpa que eu não podia simplesmente transferir, por que ela era totalmente minha.
*
Sentar-se à mesa com meus irmãos havia se tornado algo raro. Lucius nunca se unia a nós, mas eu sentia sua falta. A convivência com ele tinha me mostrado o quão deslocada eu me sentia entre os seis. Ele havia se tornado mais do que meu amigo, era o que um irmão deveria ser.
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As Crônicas do Caos - Perdição (EM REVISÃO)
Paranormal🐍 Até onde você iria por uma segunda chance? Serafine já foi um anjo, da mais alta hierarquia, mas tudo mudou quando ela quis interferir na liberdade de escolha dos homens. Condenada a uma eternidade num corpo inerte, em Perdição, Serafine s...