Capítulo VIII

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O dossel de minha cama e os lençóis de seda deslizando suavemente por minha pele eram a confirmação de que os sonhos conturbados que eu tivera na noite passada, eram apenas sonhos.

Bem, não sonhos ao certo, eram apenas memórias por assim dizer.

Meu passado vez ou outra vinha me perturbar com imagens da queda de uma antiga Serafine, mas os dessa noite em particular, me fizeram querer lembrar com mais clareza de tudo oque realmente tinha ocorrido.

Passava-se na mesma noite em que eu tinha aceitado renascer por Lilith. Lúcifer teria me trazido para o nono circulo do inferno, circulo qual, apenas ele habitava. Mas naquela noite, ele tinha uma visitante.

Um longínquo cabelo ondulado num tom tão acobreado quanto o meu se sacudia enquanto sua dona rodopiava numa valsa inaudível para mim. Nossa pele possuía a mesma palidez e a dela estava particularmente destacada em contraste com o delicado vestido de algum fino tecido preto. Mas suas feições eram mais marcantes, mandíbula cerrada, nariz afilado e arrebatado, até mesmo suas bochechas pareciam esculpidas.

"Sua beleza singular, nenhuma ser tão encantador já entrou em meu reino."

Eu sabia quem era aquela, hesitante então, eu chamei.

- Lilith.

Ela me encarou com seus intensos olhos azuis e quase instantaneamente sorriu. Grossos e rosados lábios emolduravam seu sorriso.

Lilith parecia encantada comigo, me analisava dos pés a cabeça. Aproximou-se calmamente e com uma voz tão suave quanto seu caminhar, perguntou.

- Lucian, é ela não é?

Lúcifer era realmente um demônio de muitos nomes. Ele demorou a responder e eu rapidamente virei para encara-lo, ele parecia... Radiante.

- É ela sim querida.

Lilith sorriu ainda mais. Virando-se para mim, tomou meu rosto em suas mãos e eu nem ao menos tive chance de resistir. A sua face delicada era um ótimo esconderijo para toda força que eu confirmara existir.

- Ela é linda, linda demais!

- Obrigada. - Eu não pude evitar um sorrisinho. Ela era encantadora, incapaz de me nutrir algum tipo de medo.

- Você se parece comigo! Não é mesmo Lucian?

Largando uma das suas mãos ela ergueu-a no ar e estalou o indicador no dedão, tal como Lúcifer/Lucian tivera feito tantas vezes.

Luz tremeluziu a nossa frente e um espelho se materializou.

Nós encaramos nossos reflexos.

- Ela realmente parecesse com você querida.

Sussurrou ele.

Ela sorriu para ele e logo após apoiou sua cabeça em meu ombro e voltou a nos encarar.

- Você vê, - Ela falou. - temos o mesmo queixo, a mesma pele, até o mesmo cabelo...

Nossos cabelos se misturavam e se perdiam um no outro. Os traços dela eram mais definidos e delicados, de fato, mas nós realmente éramos parecidas.

- Você realmente parece minha mãe.

Falei afinal e logo quis que as palavras voltassem até mim, minha voz mental gritou.

"Isso ai Serafine, chame a primeira das bruxas de velha."

Pedir desculpas não me parecia à coisa mais habitual que acontecia no inferno, mas eu ainda tentei me retratar de algum modo.

As Crônicas do Caos - Perdição (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora