Capítulo XXVI

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Ainda me parecia uma incógnita como um ser forjado em chamas sobrenatural sentia frio em todos os lugares, exceto, quando estava envolta nos braços de um mortal.

Exceto quando eu estava nos braços de Théo.

E por mais que eu negasse a qualquer um que afirmasse, nós estávamos lá, estranhamente conectados e síncronos em nossos movimentos. Fora por isso que ele me abraçou antes mesmo que eu pedisse e me aqueceu da ventania que gelava meus ossos a caminho de Estanys de Julcar.

O trepidar da van pela estrada mal talhada colina acima, me irritava, mas não havia irritação que sobrevivesse ao ser envolta por sua própria versão de sol. Porque era isso que Théo se tornava: calor para meu corpo, clorofila para a florzinha que desabrochava vigorosa dentro de mim, com o nascer do sol estampado nos olhos.

Quando a estrada se tornou mais calma, permiti que o movimento contínuo me embalasse. Afundei-me ainda mais em seu ombro quando a paisagem ao nosso redor encheu-me os olhos. Não estava ensolarado, aquela manhã havia sido chuvosa, mas o sol escapava por brechas entre as nuvens, como se saudassem nosso caminho. Ou como se quisessem mostrar serventia diante os olhos de Théo.

E era bom estar a sua orbita. Quase nada parecia nos atingir.

Exceto pelo passado, que tinha sua forma corpórea e me olhava timidamente de vez em quando: Lucius.

Há dias mal falávamos um com o outro. Parte por que não queríamos - ou não sabíamos - transpassar por nosso orgulho e parte por que as palavras ditas não voltariam tão facilmente e elas tinham sido fortes demais.

Tudo teria tido seu início naquela noite, onde ele tinha me pedido para comprar uma nova alma e meus lábios tinham encontrado o caminho até seu eleito.

*

Eu ainda podia sentir o morno dos lábios de Théo nos meus e se fechasse os olhos, conseguia lembrar-me de sua língua, de seu gosto e do frisson que me causava entre as pernas.

Eu tinha gostado de como minha inexperiência em nada havia afetado aquilo. Talvez fosse algo inato a mim, saber a teoria do beijo poderia ter me preparado melhor do que qualquer outro, todavia, eu tinha o privilegio de ter tido nada além do que perfeito como primeiro beijo e maldição, eu mal esperava para o segundo, o terceiro e todos os outros que ele estivesse disposto a dar, eu estava totalmente pronta para senti-lo novamente.

E talvez por estar tão presa a memórias de um passado não tão distante, eu não percebi o vespeiro com que eu brincava. Abri a porta despreocupadamente apenas para fecha-la meio segundo depois, deixando um grito agudo escapar. Apenas aquele cheiro teria sido o claro prelúdio, mas eu não teria notado.

Caso contrário, eu não os teria flagrado.

Madeleine e Lucius eram uma confusão, e eu particularmente, não saberia dizer onde um começava e outro terminava. As pernas dela envoltas na cintura dele, enquanto Lucius sustentava todo o corpo dela com um só braço, enquanto o outro se preocupava em explorar selvagemente as costas dela. Madeleine não tinha mais a parte de cima de seu vestido e Lucius só mantinha parte de sua calça.

O mundo vermelho deles dois me atingiram num só golpe. Pude vê-los agindo simultaneamente. Os beijos precisos dele e os toques dela como se previssem as ações seguintes.

Simultânea era a dedicação dele em satisfaze-la e a dela em extasia-lo.

Seus cheiros se misturaram como um soco. Doce como fava de baunilha, marcante como lenha carvalho e picante como gengibre. Mas havia algo a mais ali, pude sentir, eram os feromônios de Lucius, envolvendo todo o corpo de Madeleine – marcando-a como sua.

As Crônicas do Caos - Perdição (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora