— Luc... — Suspirei.
— Seus irmãos devem ter nos amaldiçoados! — Bravejou Lucius pouco antes de socar a parede do corredor.
— Controle-se! — Gritei de volta. Colocava o ar em meus pulmões muito rapidamente. Se Lucius estava preocupado, imagine eu!
Mas não que o nosso destempero fosse injustificável, ele tinha uma justificativa muito boa, já que diante a toda impossibilidade, eu ainda não estava me curando como devia.
Já haviam se passado quase três dias e meu pé estava perfeito, estalasse vez ou outra. Alguns dos meus dedos furados e ainda sangrando em mais de 3 lugares e dolorido em outros 6, eram a comprovação de que Luc e eu precisávamos para perceber que eu não estava em meu melhor. Novamente, tinha cogitado ligar para mamãe, mas não o fizera.
Não que eu tivesse desgostado das noite anteriores, oposto a isso, mas te-lo espalhando seu cheiro por meu quarto era mais que satisfatório. Théo irredutível da ideia de que eu tinha que permanecer em repouso o máximo de tempo possível, não tinha mudado de ideia sobre a pausa de nossas aulas de dança, mas para suprir nosso tempo, ele trouxera consigo – a cada dia – livros para que lêssemos juntos. Mal posso descrever o horror dele quando descobriu que eu jamais teria lido Romeu e Julieta ou Anna Karenina.
Teria sido outro desgosto quando depois de ler a peça de Shakespeare para mim, o fato de que eu não esboçara emoção alguma.
— Vamos, Sier! — Implorou ele. — Deve ter algo sensível dentro de você.
Neguei com a cabeça.
— Nada que descumpra com suas funções motoras!
Deitou-se novamente ao meu lado, frustrado.
— Como pôde não se sensibilizar? — Questionou. — Eles preferiam a morte a ficarem sem um ao outro. Não te dói nem um pouco? Consegue imaginar uma dor tamanha assim?
Refleti por um segundo e voltei a encara-lo. Delineei a linha desde o seu lóbulo até seu queixo. Seus olhos incendiaram açoitando o que me restava de alma. Sim, Théo, eu conseguia imaginar uma até pior – já que essa... Veneno algum poderia cessar.
— Não acho que um encontro de uma semana poderia provocar tanto. — Respondi em tom de piada o fazendo grunhir ao mesmo tempo em que lembrava a mim mesmo. — Romeu era intenso e Julieta ingênua, não havia resultado se não a tragédia.
Assim como para nós. Acrescentei mentalmente.
Ele encarou o teto e depois a mim.
— Acho sim que uma semana pode provocar tanto. — Afirmou com veemência. — Não é o tempo que delimita o sentimento é a intensidade com que eles se proliferam. Dias podem parecer anos ao lado da pessoa a quem seu coração foi destinado.
Minha boca secou. Sacudi a cabeça e pisquei algumas vezes. Quem ousaria dizer que um humano conseguiria me surpreender.
— Destino é uma hipótese muito determinante. — Tentei me recompor. — Não acha assustador? — Questionei. — Não ter controle sobre seu futuro?
Fez que não com a cabeça.
— Acho tranquilizante. A ideia de que tudo caminha para algo, me satisfaz. Tal como as peças de Shakespeare, mesmo que a princípio você estranhe ou discorde, no fim sabe que Romeu e Julieta fariam o mesmo de novo e de novo só para estarem juntos. — Completou ele quando me viu confusa. — O destino não é um ceifador de possibilidades, é apenas o resultado entre todas elas, entre nossas escolhas.
Théo esticou seu braço sob o travesseiro e gentilmente me ofereceu seu peito como apoio. Me aconcheguei nele e me tranquilizei com o som ritmado de seu coração.
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As Crônicas do Caos - Perdição (EM REVISÃO)
Paranormal🐍 Até onde você iria por uma segunda chance? Serafine já foi um anjo, da mais alta hierarquia, mas tudo mudou quando ela quis interferir na liberdade de escolha dos homens. Condenada a uma eternidade num corpo inerte, em Perdição, Serafine s...