Capítulo XXIII

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— Luc... — Suspirei.

— Seus irmãos devem ter nos amaldiçoados! — Bravejou Lucius pouco antes de socar a parede do corredor.

— Controle-se! — Gritei de volta. Colocava o ar em meus pulmões muito rapidamente. Se Lucius estava preocupado, imagine eu!

Mas não que o nosso destempero fosse injustificável, ele tinha uma justificativa muito boa, já que diante a toda impossibilidade, eu ainda não estava me curando como devia.

Já haviam se passado quase três dias e meu pé estava perfeito, estalasse vez ou outra. Alguns dos meus dedos furados e ainda sangrando em mais de 3 lugares e dolorido em outros 6, eram a comprovação de que Luc e eu precisávamos para perceber que eu não estava em meu melhor. Novamente, tinha cogitado ligar para mamãe, mas não o fizera.

Não que eu tivesse desgostado das noite anteriores, oposto a isso, mas te-lo espalhando seu cheiro por meu quarto era mais que satisfatório. Théo irredutível da ideia de que eu tinha que permanecer em repouso o máximo de tempo possível, não tinha mudado de ideia sobre a pausa de nossas aulas de dança, mas para suprir nosso tempo, ele trouxera consigo – a cada dia – livros para que lêssemos juntos. Mal posso descrever o horror dele quando descobriu que eu jamais teria lido Romeu e Julieta ou Anna Karenina.

Teria sido outro desgosto quando depois de ler a peça de Shakespeare para mim, o fato de que eu não esboçara emoção alguma.

— Vamos, Sier! — Implorou ele. — Deve ter algo sensível dentro de você.

Neguei com a cabeça.

— Nada que descumpra com suas funções motoras!

Deitou-se novamente ao meu lado, frustrado.

— Como pôde não se sensibilizar? — Questionou. — Eles preferiam a morte a ficarem sem um ao outro. Não te dói nem um pouco? Consegue imaginar uma dor tamanha assim?

Refleti por um segundo e voltei a encara-lo. Delineei a linha desde o seu lóbulo até seu queixo. Seus olhos incendiaram açoitando o que me restava de alma. Sim, Théo, eu conseguia imaginar uma até pior – já que essa... Veneno algum poderia cessar.

— Não acho que um encontro de uma semana poderia provocar tanto. — Respondi em tom de piada o fazendo grunhir ao mesmo tempo em que lembrava a mim mesmo. — Romeu era intenso e Julieta ingênua, não havia resultado se não a tragédia.

Assim como para nós. Acrescentei mentalmente.

Ele encarou o teto e depois a mim.

— Acho sim que uma semana pode provocar tanto. — Afirmou com veemência. — Não é o tempo que delimita o sentimento é a intensidade com que eles se proliferam. Dias podem parecer anos ao lado da pessoa a quem seu coração foi destinado.

Minha boca secou. Sacudi a cabeça e pisquei algumas vezes. Quem ousaria dizer que um humano conseguiria me surpreender.

— Destino é uma hipótese muito determinante. — Tentei me recompor. — Não acha assustador? — Questionei. — Não ter controle sobre seu futuro?

Fez que não com a cabeça.

— Acho tranquilizante. A ideia de que tudo caminha para algo, me satisfaz. Tal como as peças de Shakespeare, mesmo que a princípio você estranhe ou discorde, no fim sabe que Romeu e Julieta fariam o mesmo de novo e de novo só para estarem juntos. — Completou ele quando me viu confusa. — O destino não é um ceifador de possibilidades, é apenas o resultado entre todas elas, entre nossas escolhas.

Théo esticou seu braço sob o travesseiro e gentilmente me ofereceu seu peito como apoio. Me aconcheguei nele e me tranquilizei com o som ritmado de seu coração.

As Crônicas do Caos - Perdição (EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora