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— Então... Sobre os livros. ― Gabriel começou a falar e eu o olhei rapidamente, antes de colocar um sushi em minha boca ― Me dê um motivo para ler.

Cerrei os olhos, desconfiada. Terminei de mastigar e engolir a peça de sushi.

― Eu já falei.

― Me convença. ― rebateu ― Você não foi convincente.

Estávamos sentados um de frente para o outro, já havíamos comido bastantes peças de sushi, mas ainda havia algumas em nossos pratos.

Gabriel havia pedido dois refrigerantes e duas aguas, e sempre repetia para mim o que já parecia um mantra: "apenas aproveite, não se preocupe com o preço".

Mas eu estava inquieta, ainda mais porque ele não me permitiu ver os preços uma vez que o garçom listava os pratos disponíveis no restaurante.

— Além de você aprender com os personagens masculinos? Hm... Deixe-me ver. São livros escritos de maneira maravilhosa, às histórias são surpreendentes e ensinam como o amor pode nascer nos tempos difíceis e mais improváveis. – falei e apoiei meus cotovelos na mesa, cruzando meus dedos para apoiar meu queixo neles.

Stein continuou me olhando enquanto eu inclinava minha cabeça para a direita.

— Hm... Talvez um dia eu leia. - ele falou ― Mas é improvável.

— Você vai ler. - falei.

— Talvez depois que eu entrar na faculdade. - ele falou e eu concordei com a cabeça.

— Para isso que as férias do final do ano existem.

Ele riu e logo ficou sério.

— Vou colocar meu vestibular para a USP e para a UFRJ. - Stein falou e eu concordei com a cabeça.

— Eu também. - falei e logo meu estomago embrulhou — Só tenho que procurar uma mais...

Não termine a frase. - ele me cortou, o olhei nos olhos e logo desviei o olhar, a dureza que havia neles era hostil — Charlie, nós falamos sobre isso.

— Gabriel é uma luta ok? - falei perdendo a paciência. Sempre era assim, eu perdia a noção quando o quesito faculdade entrava na minha vida. — É um saco viver sendo cobrada, poxa, fazer medicina era o meu sonho e agora está mais para uma... - minha voz foi perdendo tons, até sobrar um sussurro — obrigação.

— E quem liga pra quem fala isso? - o garoto falou — Já estão com a vida ganha, querem o melhor pra você. É claro que eles vão falar Charlie. É claro que vão cobrar, mas agora depende de como eles cobram. Mas se você sente isso vindo deles como obrigação, cobre de você mesma isso porque realmente é a sua obrigação.

Meu corpo estava tenso e contraído pelas palavras.

É a sua obrigação concluir esse sonho para você mesma. - Stein falou me olhando nos olhos — Sonho, ou obrigação, você tem que fazer isso. Por você. Então sempre vai ser uma obrigação, de um modo ou de outro.

Fiquei uns minutos calada, tempo o suficiente para o moreno se encostar-se à cadeira e sentir o clima que estava nos rodeando.

Eu não estava com raiva, muito pelo contrário, estava me sentindo agradecida.

— Me desculpe. - ele falou — Eu... É que... - se atrapalhou — Às vezes eu só não acho justo, sabe?

— Gabriel, não prec―

— É sério. - ele falou me interrompendo. — Charlie eu sei que te conheci há dois anos, na verdade fomos apresentados dois anos atrás. Eu sei que literalmente viemos nos conhecer inicio desse ano, mas olhe para nós. ― falou se referindo a janeiro quando começamos a conversar ― Às vezes eu me lembro de que está tão recente que até me assusto com o quanto íntimos nós estamos nos tornando. E ver que você está sendo estimulada da forma... Errada, talvez? ― balançou a cabeça negativamente ― Ver isso me incomoda, porque eu posso até não saber como você é no colégio, mas eu sei que você é brilhante, e aposto todas as minhas fichas nisso.

Apenas AmigosWhere stories live. Discover now