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Mais um final de semana.

Minhas costas doíam pelo modo como havia dormido.

Ainda acordando, notei que estava com meu lençol me envolvendo.

Como ele havia parado ali? Ou melhor, em mim.

Olhei para a minha mesa de estudos.

Nossa, estava uma bagunça.

Cocei os olhos e afastei a cadeira para poder levantar. Alguns papéis estavam caídos pelo chão, tinha mais de quinze folhas de papéis amaçadas, tanto papéis A4 quanto folhas de caderno.

Minhas dúvidas foram sanadas quando olhei para minha cama.

Amanda estava deitada na mesma, dormindo encolhida.

Sorri.

Minha irmã era maravilhosa. Às vezes passávamos muito tempo sem nos falar, julgando pelo fato de morarmos na mesma casa, mas ela vivia na faculdade e eu estava começando a viver praticamente na escola e no curso de vestibular que eu havia começado a fazer.

Tirei minhas roupas e rumei para meu banheiro. Precisava me arrumar pra ir para a escola.

[...]

Abracei minhas pernas quando Elizabeth sentou ao meu lado na arquibancada. Não havíamos nos falado desde o incidente no refeitório, há três dias, e eu sentia a culpa pesando em meus ombros.

Elizabeth era uma menina sensível. Tão sensível que chegava a dar raiva em mim, porque você não sabia como ela iria reagir a algo. Mas ela começara a ganhar mais resistência a alguns comentários quando nos tornamos amigas, pelo fato de eu ser uma pessoa muito bruta com ela.

Não me orgulhava disso, nem um pouco, e também não gostava de fazê-lo, mas parecia que cada vez que Elizabeth tentava me curar de algo que não lhe dizia a respeito, a ferida abria mais, feria mais ao ponto de machuca-la junto.

Não era uma situação saudável, talvez aquele fosse o único ponto que fazia-me afasta-la um pouco de mim. Eu não a fazia bem ao um todo, eu a machucava quando me sentia exposta, e eu precisava me curar disso para não machuca-la mais. Mas Beth era igual a mim, e não desistiria até conseguir o que queria.

Nós éramos a personificação da frase "Amor e ódio" sem dúvida nenhuma.

— Eu odeio quando você faz isso, sabia? - ela falou depois de um tempo em silêncio. Eu sabia do que ela falava, mas não abri a boca.

— Eu achava que você tinha começado a desistir dessa ideia, Charlie. Você sabe que isso machuca as pessoas, e além do mais, você sabe que toda vez que você finge que não se importa você também machuca a si mesma. - Beth falou — Então pare de uma vez. Porque ficar voltando a construir essa muralha só vai te desgastar mais. Liberte-se de uma vez!

Ela esperou uma resposta. Mas eu não queria dar uma.

Beth resmungou alguma coisa bem baixa e voltou a ficar quieta.

— Você sabe que eu tenho medo. - falei pela primeira vez. Pela visão periférica vi a menina me olhar. Mordi o lábio inferior sentindo as lágrimas aparecerem em meus olhos — Eu tenho medo.

Meu coração partido nunca fora uma questão que eu queria falar, já havia superado, e estava bem sem ninguém. Havia sido um erro meu continuar gostando e tentando lidar com uma pessoa que jamais iria devolver o sentimento. Eu havia me machucado muito, por culpa minha. Eu sabia que era culpa minha, e aquilo deixou varias marcas, como o medo de me envolver novamente amorosamente com alguém.

Apenas AmigosWhere stories live. Discover now