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- Preparem os lenços, porque o próximo é ladeira a baixo -

― Então ela não desconfiou? – Harry perguntou novamente, eu estava tentada a soca-lo a qualquer momento.

Não Harry, Elizabeth não desconfiou de nada! – grunhi ao seu lado.

O menino respirou fundo, passando as duas mãos no rosto.

― Ainda bem, porque seria um desastre se ela descobrisse. Beth merece algo bom vindo de nós dois.

Maneei a cabeça, concordando.

― Eu sou uma péssima amiga – admiti ― E eu sei que um dia terei que pedir perdão por tudo o que fiz com ela. Beth não tinha culpa pelos erros da Martha.

― Quem é Martha?

Olhei para Aubry, e ele entendeu que aquilo era um assunto sensível.

Olhei para o corredor do supermercado.

― Pegamos tudo?

― Vamos pegar mais alguns sucos, ela não toma refrigerante e duvido que a tia Pâmela a deixe tomar.

Fiz uma careta.

― Minha mãe também não gosta que eu tome, mas não é tão controladora assim.

Nós dois entendemos o que a Beth vive, Wright – a voz de Aubry soou longe, não precisei olha-lo para saber que ele estava preso em memórias ― Vivemos a sombra do que precisamos ser, e para nós três isso significa o oposto do que queremos ser.

― Os filhos perfeitos – sentenciei.

― Os filhos perfeitos – concordou ― e isso pesa mais na Beth, você sabe que a irmã mais velha se rebelou e saiu de casa, então a mãe dela faz de tudo para que a Beth viva na linha, e...

― Isso a sufoca – conclui o pensamento, sentindo meu nariz arder.

Elizabeth era uma menina maravilhosa, o peso em seus ombros era terrível e eu ainda contribuíra uma parte com ele a um ano.

Parei de andar sentindo minhas pernas tremerem, Harry me olhou sem entender.

― E eu ainda a fiz passar por coisas que ela não merecia... – minha voz não passou de um sussurro, o choro veio como um soco no estomago.

Um soco duro.

Bem dado.

E um que eu merecia.

― Charlie... – Aubry testou o terreno que estava entrando, afinal havia me visto chorar uma vez, isso pelo que eu me lembrava.

Já sabia que meu rosto estava vermelho, meus olhos embaçaram com a formação de lágrimas, e então elas caíram grossas por minhas bochechas.

Cobri o rosto com as mãos, mas meu corpo tremia tanto que permiti que Harry me abraçasse.

― Eu não sei o que fazer – ele admitiu.

― Não faça nada, apenas espere – instrui com a voz falhada, e ficamos ali por alguns minutos.

Ele me abraçando e eu permitindo que Harry Aubry me visse um pouco quebrada.

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― Achei que vocês iam comprar o supermercado inteiro pela demora! – Amanda chiou quando nos viu cruzar o batente da porta de casa.

― Nem demoramos tanto – dei língua para ela enquanto carregava as sacolas com um pouco de dificuldade.

As deixei na mesa da cozinha e então puxei uma das cadeiras e sentei.

Apenas AmigosWhere stories live. Discover now