•Só pode estar louco.•

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MAVI

Respirei fundo encarando o papel na minha mão.

— Lê logo! — Lennon me apressou.

Eu não sei porque abri a boca pra contar que voltei escrever minhas poesias.

— Tá calma. Não sei se tá tão boa pra você, mas eu gostei e se você não gostar pau no seu cu. — Disse na defensiva fazendo ele gargalhar.

Suspirei nervosa por uma última vez.

— De confusão tenho o coração inteiro. Beiro a loucura nos diálogos que faço comigo mesmo antes de dormir. São tantos! Brinco de ser tudo o que eu quiser, mesmo que, na realidade, eu não seja lá muita coisa. São tantas esquinas. — Relaxei mais os ombros quando vi a atenção dele em mim. — Meu mundo interno está interditado. Conflitos enferrujaram os melhores brinquedos do parque. Paz interior? Já ouvi falar. Muito bem por sinal. Meus dobrados são pedaços de coração, medo e saudade. — Respirei fundo. — Do que eu fui, do que eu nunca vou ser, do que todos queriam que eu fosse e eu não fui. Dividir o que eu sinto? Loucura. Ninguém entenderia. Sou página em branco ou todas as páginas do mundo, de meio termo não fiz aula.

— Caralhi...

Ele tentou dizer, mas eu segui lendo o papel.

— Alguém em seu caos em harmonia com o meu? Seria luxo demais alguém entender os redemoinhos tempestuosos que fazem barulho nesse furacão? É ensurdecedor. É repetitivo. É revolto. E durante o dia eu sou brisa calma, sorriso paisagem. Também estou bem, aceito um café. Na noite cresço, repenso o que vivo, no que mereço, inverto as prioridades e os destinos, me transformo em euforia e, sendo toda valentia, viro coragem. Como se adiantasse ser corajoso na madrugada. Saber o que se quer é uma pergunta muito grande para respostas tão pequenas. Amor, paz, o mundo, um pedido de desculpas. Essas coisas. Nada demais. Assim, seguindo a ventania, vou indo, pois logo prévio acordar e, na maior intimidade do mundo, dar bom dia para todas as minhas confusões.

Enxuguei uma lágrima no canto dos olhos. A psicóloga disse que todas as vezes que eu me sentir mal, pra mim despejar isso em algo, seja em vídeos, composições... Preferi colocar toda a minha emoção de confusão em uma poesia.

Preferi ainda não encarar o Lennon, não tinha ideia do que ele falaria sobre e tenho um pouco de medo.

— Vitória. — Ele disse com a voz um pouco baixa.

Ergui o olhar pra ele e de um jeito meio surpreendente ele me abraçou.

Mesmo surpresa e sem entender nada que tava acontecendo, devolvi sentindo meu coração aquecer.

— Tória, eu não tenho ideia do que passa aí, mas você dessa vez tá sendo transparente e eu acho que consigo compreender um pouco. — Ele falou abafado por causa do abraço, mas logo se afastou. — Tô do teu lado!

Sorri de lado desviando um pouco o olhar, ainda estava meio surpresa com tudo isso.

— Você me chamou de Tória. — Comentei baixinho e vi ele rir fraco.

— Vou voltar de chamar de Maria Vitória. — Ele brincou e eu dei um tapa no seu braço.

Demos uma sorriso um para o outro e nós encaramos por alguns segundos.

— Tu sabe que é importante pra mim, né? — Lennon perguntou me encarando e eu senti o ar falhar rápido, mas voltar como se nada tivesse acontecido.

— Olha só, quem diria. — Brinquei fazendo ele revirar o olho. — Brincadeira! Eu sou grata por esse espaço que você tá me dando, é muito importante pra mim.

— No começo foi difícil dar o braço a torcer, mas eu tô pagando pra ver essa mudança sua. E do fundo do meu coração, acho que até tô aprendendo um pouco contigo. — Lennon disse com um riso no canto dos lábios.

— Ih. — Expressei e ele riu negando.

— Pô, tô me desconstruindo também. Se você pode ter sentimentos, acho que eu também consigo controlar os meus.

Por um tempo eu me perguntei se aquilo era um elogio ou um insulto.

— Olha Lennon, não tenho ideia se isso foi pra me deixar triste ou feliz. Mas tá na hora de você meter o pé!

Lennon gargalhou dando um beijo na minha testa.

— Sejamos sinceros, você era pior que pedra.

— Seu cu.

LENNON

Depois da situação na casa do Vitor, não pensei que ia me divertir tanto com a Vitória. Parecia que absolutamente nada tinha mudado, mas ao mesmo tempo tudo diferente.

Algumas horinhas que eu passei com a Mavi me deram vontade de viver. Sei lá, eu fiquei animadão.

Tava tão animado que decidi colar na casa dos meus pais pra ver como tudo tava.

...

— Qual foi moleque? — Perguntei rindo da piada que o Lucas fez.

— Filho, vai lá no quarto com a sua irmã, tô precisando bater um papo com seu irmão. — Minha mãe disse seria pro Lucas.

— Eu não posso ficar não? — Ele perguntou frustrado e minha mãe negou.

— Vai lá! — Ela reforçou fazendo ele levantar do sofá com a maior cara de emburrado.

Suspirei por saber que lá vinha chumbo.

— Vai me falar o que tá pegando? — Ela perguntou me fazendo encarar ela confuso.

— Como assim? — Perguntei e ela revirou o olho.

— Você nunca vem aqui. — Ela disse me ofendendo.

— Ou!? Calma lá né, eu tenho muito show, colo aqui sempre que posso. — Tentei me defender e ela riu.

— Eu sei filho, mas é semana e você nunca vem em dia de semana. A não ser quando você quer meu colo.

Eu fraco.

— Só quis vir ver vocês. Eu tava com saudade, pô. — Abracei a véia de lado.

— Hum. E a Dani? — Ela perguntou me fazendo rir de nervoso.

— Então... A gente terminou. — Disse direto e ela se afastou bruscamente.

— Como é que é? — Ela quase gritou.

— Ah qual foi né, mãe? Faz parte. — Dei de ombros e ela me encarou em silêncio por um tempo.

Odeio quando ela fica quieta.

— Lennon, meu filho!? Você terminou um namoro e disse que faz parte? — Ela perguntou surpresa.

Gargalhei pelo desdém dela. Onde já se viu?

— Ué, o que tem de mais nisso? — Perguntei e ela mordeu o canto da boca.

— A gente tem que concordar que você não é muito bom com términos né, Lennon. — Ela disse amargurada.

— Esse é meu antigo eu. Agora eu tô renovado. Mas claro que não tem como conhecer outra pessoa agora, mas terminar faz parte, ainda mais de boa como a gente terminou. — Disse sincero.

— Melhor do que quando terminou com a mocréia da Maria Vitória. — Ela disse revirando o olho.

— Mãe não fala assim dela. — Defendi e me arrependi no momento seguinte.

— Como é Lennon? Você defendendo a Maria Vitória? — Ela perguntou ainda mais surpresa.

— Eu voltei falar com ela. Trabalhamos juntos agora e, somos amigos. — Admiti.

Eu não consigo mentir pra minha mãe.

— Só pode estar louco.

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Vão me desculpando o textão da poesia da Mavi que, no caso, é do Fred Elboni. Eu não teria a mente fantástica dele pra conseguir escrever aquela obra.

nada é pra sempre | L7NNONOnde as histórias ganham vida. Descobre agora