•Não vai.•

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LENNON

Fim de aniversário é sempre uma merda. Você fica pensativo com uma sensação um pouco incomodativa. É realmente uma merda.

Aproveitei que não precisava mais fazer sala pro pessoal na sala e subi um pouco pra laje. Era o melhor lugar pra pensar!

...

— Ei, tá se escondendo?

  Ouvi a voz da Mavi e não me surpreendi, ela sempre me acha!

  Continuei com os olhos na imensidão até ela ficar no meu lado.

— Eu tô indo embora, vim me despedir. — Ela sentou do meu lado.

  Ri fraco com meu próprio pensamento.

— O que? — Ela perguntou.

— Você disse que veio se despedir, mas sentou aí. — Disse ainda sem encarar ela.

— Tá, eu não vim me despedir. — Ela admitiu me fazendo assentir.

  Eu não estava errado na minha conclusão.

— Veio dizer que me amava pra depois ir embora de novo? — Perguntei ironicamente e encarei ela.

  Mavi abriu a boca pra falar alguma coisa, mas não conseguiu.

— Fiquei chateado que não trouxe seu namorado. — Ergui a sobrancelha ainda com ironia.

  Era isso que me protegia dela! A minha ironia. Isso faz ela não ver o quão abalado eu realmente tô.

— Eu não tô namorando Lennon! — Ela disse olhando pro horizonte.

  Ri fraco.

— Ah, esqueci. Você não namora né? Só fica. — Ironizei de novo.

— Pára! — Ela disse rude me fazendo fazer uma careta. — Para com ironia.

  Dei risada entendendo.

— O que você quer? Até agora a única conclusão de que eu tirei de tudo isso é, você não sabe o que quer. Não sabe o que sente... Eu nem sei quem você mesmo depois de todos esses anos. — Falei tudo com calmaria enquanto via os olhos dela mudar as expressões a cada fala.

  E eu juro que isso não é nem um por cento do que eu realmente queria dizer!

— Você tem razão. — Ela disse suspirando. — Eu deixei tudo uma bagunça. Realmente foi idiotice minha ter dito que te amava enquanto pedia pra me afastar. — Ela concordou. — Te dou toda razão pra estar me evitando e sendo irônico comigo, eu pedi isso de alguma forma. — Ela deu de ombros. — Eu reconheço que ajo com a expectativa de que as outras pessoas entendam o que eu estou pensando. E pago muito caro com isso.

  Assenti.

— Além disso, você pede sinceridade pros outros, bate no peito com o maior orgulho de dizer o quanto é sincera. Mas sabe Vitória? — Perguntei me ajeitando direito no chão da laje pra encarar ela. — Na minha opinião você não é sincera só porquê diz verdades na cara das pessoas, não é simplesmente dizer sempre o contrário sem se importar com o que os outros pensam. Na minha opinião ser sincero é bem além disso. — Fui sincero e sem ironias dessa vez. — Como alguém que se julga sincera não sabe olhar nos olhos da outra pessoa e dizer o que sente? Mostrar fraqueza, nem que uma vez só. Você pode ser coerente, mas está longe da transparência.

  Ela assentiu.

— Certo. Eu concordo com você, eu sou toda cagada... Mas eu tenho minhas coisas boas também! — Ela falou com sinceridade. — Eu tô aprendendo a lidar comigo ainda. Mas eu só queria muito que você conseguissem entender, só um pouco. — Ela pegou na minha mão sutilmente.

— Como eu vou te entender se você me mostra só o que quer que eu saiba? Eu te conheço há cinco anos, mas eu nunca ouvi uma história sua de pequena além dos seus avós paternos. Você nunca nem fraquejou. Eu conheço cada parte do seu corpo Maria Vitória, cada detalhe, mas eu nunca te vi nua de verdade. Eu não tenho ideia do que se passa aí dentro. — Coloquei tudo pra fora da forma mais sincera que eu pude.

  Vitória deixou os olhos marejarem e eu esperava que ela limpasse antes mesmo da lágrima escorrer, como ela sempre fez.

— Desculpa. — Ela murmurou e se encolheu um pouco.

  Analisei um pouco e vi ela deixar as lágrimas descerem. Precisei de um tempo pra perceber que ela realmente tava chorando. E parecia frágil.

  Senti meu coração doer então deixei de lado o meu orgulho e abracei ela. E isso parece que foi uma válvula pra ela deixar as lágrimas virem com tudo. Apenas abracei ela com força esperando que passasse e quando passou, minutos depois ela se afastou de mim com os olhos um pouco pequenos de choro.

— Todos os dias eu luto comigo mesma, tento sempre mostrar a melhor parte de mim. Mas é difícil pra quem sempre precisou ter pulso firme com tudo. Eu reconheço que sou rígida até demais e faz parte da minha evolução, mas eu não posso te envolver nisso Lennon. Meu tratamento é de altos e baixos, tem dias que eu acordo decidida, mas outros eu estou sem querer viver nem nada. — Ela fungou. — Quando eu fui embora de novo eu quis dizer que te amava antes de ir pra fazer diferente. Eu não queria olhar na tua cara e falar palavras duras e cruéis como da última vez. Eu fui transparente. Tudo bem que fui interpretada d doutro jeito, mas tudo isso que eu estou fazendo por você é cuidando. — Ela abaixou a cabeça.

— Porquê não fez como da última vez e foi realmente embora. Porquê continua aqui? — Perguntei sútil sem querer parecer grosseiro.

  Mavi ergueu o rosto pra me encarar. E eu não vou mentir que imaginei ela respondendo que por culpa, a gente tem vivido a base disso. Ela se aproximou por culpa, cuidou de mim por culpa... Não me surpreenderia se agora também fosse por culpa.

— Eu senti a sua falta. Não tem graça dormir sem você e acordar sem seu bom dia. Nem mesmo nas coisas mais simples como as estrelas. — Ela disse. Acabei pegando a referência por eu ter falado há alguns anos que ela era a minha estrela mais brilhante. — Lembra? — Ela riu e eu assenti. — Eu nunca fui tão bem tratada na minha vida... Tão bem amada e eu nunca soube o que era isso. — Ela deixou uma lágrima cair de novo. — Com o meu pai eu sempre me senti protegida, mas eu sempre achei que o amor dele por mim fosse só um fardo que a mulher dele trouxe junto com o casamento. — Ela deu de ombros. — A Márcia já não é novidade me amar né? Meus amigos... — Ela mordeu o canto interno da boca. — Eu sinto que incômodo as vezes com esse meu jeito. Tenho certeza que se pudessem eles mudariam tudo em mim e deixaria só meu espírito cachaceira que é a única parte em mim legal. — Ela riu me fazendo rir junto.

  Mavi tocou meu rosto me deixando nervoso de novo.

— Mas você não mudaria nada em mim. Você me ama pelo que eu sou e não se importou de pesar anos comigo sendo totalmente rude e egoista, sem dizer nem um simples eu te amo. Você se contentou com todos os meus defeitos. Eu nunca duvidei do que você sentia por mim... — Ela fechou os olhos.

  Nisso ela tem toda razão. Ela foi a mulher que eu mais amei na minha vida, mesmo sendo uma pessoa extremamente difícil de conviver.

  Aproximei nossos rostos e ela negou se afastando um pouco.

— Por favor, eu não quero te machucar mais. — Ela disse com o choro na garganta.

  Neguei senado a boca dela.

— Não vai. — Afirmei selando agora firmemente a boca dela.

  Mavi até tentou sair do beijo, mas negou e me beijou de volta.

4/5

nada é pra sempre | L7NNONOnde as histórias ganham vida. Descobre agora