•O passado não pode te machucar mais.•

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MAVI

Agora me fala sobre o Lennon, faz um bom tempo que você não me conta sobre. — A doutora perguntou.

  Ri fraco e ela pareceu entender.

— A gente terminou o que nem tinha. — Disse com humor, mesmo sentindo meu peito doer.

— Como se sente? — Ela perguntou ética como sempre.

— Tô seguindo a minha vida. Já procurei alguns cursos pra distrair a mente e até...

— Mavi, eu quero a verdade! O que você esta sentindo.

Ela foi direta como sempre. Acabei respirando fundo pra começar o meu drama. Odeio drama!

— Dor, muita dor. Eu não diria isso pra ele, mas eu choro sempre. Eu não gosto de chorar, me sinto fraca. Principalmente por homem. — Dei de ombros. — Mas eu não consigo parar de pensar em como seria se eu tivesse feito o contrário.

— E o que você fez?

— Fugi. — Dei uma risada nasal. — Na verdade, não é exatamente fugir, mas eu arreguei de novo em ter um relacionamento com o Lennon. — Bufei segurando o choro na garganta. — E eu tentei explicar pra ele que era uma forma de amor pra mim, deixar ele livre pra encontrar uma pessoa que consiga dar o que ele quer.

— Sim. Entendi, pode me dizer o porquê todo esse medo de relacionamento? — Ela perguntou pegando no meu ponto fraco.

— Calma! — Pedi respirando fundo. — Pronto! — Controlei minha vontade de chorar. — Eu sou exatamente igual a Márcia. Obviamente a nossa diferença esta no caráter, mas em tudo eu sou exatamente igual ela.

  Não aguentei e deixei as lágrimas descerem.

— Ela sempre foi uma péssima mulher, péssima mãe e principalmente uma péssima esposa. — Senti meu peito diminuir um pouco. — Como o meu pai trabalhava fora eu ficava a maior parte do tempo sozinha com ela. E desde que eu nasci, sabe o que ela me ensinou? — Perguntei retoricamente. — Me ensinou que o amor não existe, que é só uma bobagem que contam pra iludir e assim as pessoas viverem com menos dores. Que o amor é só uma peça do ego da necessidade que a gente sente por ser amada. — Limpei as lágrimas. — Imagina uma criança de quatro ou cinco anos ouvindo isso? — Ri fraco. — Meu pai sempre me deu amor, mas eu não tinha ideia do que era aquilo. Acreditava que ele estava me mimando pra suprir a falta dele dentro de casa.

  A doutora tirou o óculos pra me encarar melhor.

— Eu acreditei em tudo que ela falava. Era como se eu precisasse ser a Márcia. — Dei uma risada irônica. — A temida Márcia! E ela amava ser temida. Ela dizia que preferia assim. — Me ajeitei mais na cadeira. Eu estava inquieta. — Mas aí quando eu tinha uns quatorze anos meu pai voltou a trabalhar exclusivamente no Brasil. Ele passava mais tempo em casa, mas não era frequente. — Dei de ombros. — Até que eu vi a Márcia transando com o nosso motorista. Ela viu que eu tinha visto e começou fazer ameaças sem sentido e dizer que ele não acreditaria, mas caralho, eu tinha quatorze anos de idade o que eu ia fazer? Contar pro meu pai e ver ele mal? Ou então correr o risco dele me passar me odiar?

  Colocando pra fora me dá mais uma visão de como a Márcia é realmente um monstro sem alma.

— Enfim, levei a minha vida até os dezessete anos, quando vi meu pai preferir passar as noites em bares bebendo do que em casa com a Márcia. Já estava insuportável viver com ela, sempre brigando e deixando a gente perturbado. — Suspirei. — Ele chegava cambaleando em casa e eu sempre cuidei dele. Aí com esse refúgio dele, se tornou um vício. Com dezessete anos eu vi minha mãe trair meu pai com homem aleatórios e meu pai acabar com a vida dele por ser casado com um monstro, simplesmente!

  Começaram um turbilhão de flashbacks de mim chorando no chuveiro enquanto ouvia eles brigando. Apesar de ser assim todos os dias eu nunca me acostumei.

— A referência que eu tinha do amor era essa. Pra mim o amor era a pior tortura que já pode existir. Sem contar que, tem a melhor amiga do meu pai. A tia Sandra, ela sempre me dava refúgio e quando eu precisava eu ligava pra ela. E apesar de ser uma das mulheres mais boas do mundo... Nem ela conseguiu ser amada. — Funguei sentindo meu nariz começar entupir. — Abandonada pelo namorado quando engravidou da Carol. E ela sempre me contava o quanto ele jurava amor por ela. — Neguei. — Como se pode acreditar em amor com todas essas referências?

  Doutora pediu que eu prosseguisse.

— E isso acabou me trazendo um bloqueio pra demonstrar tanto sentimento. Sempre tive medo de acontecer algo de muito ruim comigo. — Confessei. — Mas enfim, eu cresci e percebi que na verdade eu só tinha realmente dado azar e caído na família errada. Existiam pessoas que se gostavam de verdade fora da nossa bolha, mas como se tira quase vinte anos de referências horrorosas da cabeça? Não tem como e eu também nunca consegui desabafar isso com alguém.

  Eu nunca tinha parado pra pensar em toda essa história doída. E eu odeio me vitimizar, mas isso dói tanto.

— Não quero ter que reviver tudo isso. — Neguei com a cabeça deixando as lágrimas virem com fúria.

— Ok. Precisei de muito aqui pra não chorar junto, mas vamos lá. — Ela disse se ajeitando na poltrona. — Sua vida tem base em espelhos e isso é normal, mas você se culpa por tudo isso, sendo que é o contrário. Você não tem culpa de nada Mavi. Você não é como sua mãe, nem como seu pai ou a tia Sandra. Você é Maria Vitória Galvani que tem uma historia pra ser escrita. E somente você pode fazer isso acontecer. O passado não pode te machucar mais.

$.$.

Tá porra 900 palavras so da Mavi desabafando LKKKKKK. Gente conseguiram entender mais ou menos a base de tudo???

2/5

nada é pra sempre | L7NNONOnde as histórias ganham vida. Descobre agora