capítulo 43

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Assim como o céu, seu interior ruía aos poucos, desmanchando em lágrimas que saiam involuntariamente de seus olhos já vermelhos. Ele havia guardado tanta coisa, mas aquele dia fora seu limite. O nó em sua garganta, que pesou durante tanto tempo em sua garganta, queimando e o sufocando em momentos inoportunos, havia chegado a seu limite. Ver seus amigos naquela situação, não poder ajudar prontamente eles, ter que lidar com aquela farsa... ver sua amada olhar em seus olhos e mostrar um desprezo que jamais havia visto em seus olhos, muito menos sendo ele o que engatilhou tal olhar.

Draco estava em seu limite; seja físico ou psicológico. Não aguentava mais aquilo.

A chuva não parava de cair desde o momento em que os amigos ainda estavam no local, caindo sem cessar, cada vez com mais ferocidade. Os pingos grossos batiam com força no solo, fazendo pequenos buracos onde havia apenas grama e terra, mostrando que não sairia dali tão cedo. Há tempos o céu mostrava indícios da tempestade que estava por vir, aquele temporal estava aguardando o momento mais oportuno para cair, acumulando dia após dia a água que caia com tanto afinco. Os trovões rugiam com força, os raios estalavam forte entre as nuvens quase negras, as iluminando de dentro para fora.

Das grandes portas de vidro que levavam para o grande jardim da Mansão Malfoy, Draco observava aquilo com a mente a milhão, perdido em seus medos, incertezas, paranoias e lembranças dolorosas. Ele imaginava se o toque bruto dos pingos grossos da chuva em sua pele seriam o suficiente para cessar parte de sua dor, pois só assim ele conseguiria se livrar daquilo: vencer a dor em seu peito com dor física; mas nunca fora capaz de se mutilar, apesar de querer fazer coisas assim com frequência desde que sentiu a maldição cruciatus sendo lançada em si por cometer alguns erros. Ele merecia dor, mas não queria que a que estava sentindo, ela lhe dilacerava da pior maneira que conhecia.

No momento em que a porta fora aberta, um vento gélido com resquícios das gotas arrastadas pelo mesmo tocaram sua pele, fazendo com que um arrepio subisse por sua espinha. Sua visão já estava embaçada devido as lágrimas que enchiam seus olhos, mas com a quantidade de água que caia do lado de fora não enxergava um palmo a sua frente. Olhando para trás, via as machas de sangue ainda enfeitando o chão; sangue aquele que pertencia a Hermione e a ele. Fora o mais perto que chegou dela em meses.

Tomando o ar necessário para se locomover, saiu em direção ao jardim esmagado pela chuva feroz, sentindo a fúria da natureza sobre sim através das gotas pesadas que lhe atingiam sem dó. Não bastou mais de um minuto para que estivesse completamente encharcado pela água tão gélida quanto poderia imaginar. Sentir aquela água lhe lavando, tirando de si o sangue já seco de sua ferida ainda sensível – mesmo ele não se importando com a dor que ela lhe trazia -, era algo que o confortava de alguma maneira. O barulho quase ensurdecedor o abstinha de todo resto, deixando a impressão que só havia ele no universo; ele e seus pensamentos.

Mais um trovão rugiu no céu e de imediato lembrou-se dos gritos de piedade e dor de Hermione, no momento em que estava sendo torturada – na sua frente.

Eu não fiz nada para impedir.

Sua mão acertou seu peito com força, seu punho fechou aos poucos, arranhando sua pele com força, mesmo com tecido a cobrindo; uma ardência se iniciou no local, mas, para ele, aquilo não era o suficiente. Seus dentes rangiam ao se lembrar da cena, sua mandíbula estava travada, não conseguia achar ar para respirar.

Os olhos impetuoso de sua tia ao ver o objeto que deveria estar em seu cofre fez seu corpo entrar em estado de alerta, sabia que nada daquilo poderia acabar bem. Um simples movimento com a varinha, e a garota em sua frente estava no chão se contorcendo de dor enquanto seus amigos eram levados para um porão recluso. A maneira que negava as afirmações raivosas da bruxa o comoviam de certa maneira, mas ainda se perguntava o motivo de não admitir – talvez por estar falando a verdade, é claro, mas ainda assim seria melhor admitir a culpa do que passar pelo que estava passando -. A dor que ela expressava era quase sentida pelo garoto que olhava a cena com desespero, sem poder mover um músculo em pró da vítima, sua, até então, namorada.

Através de minhas escolhas - DRAMIONEWhere stories live. Discover now