Final - parte 1

241 31 57
                                    

A lua se escondia em meio as nuvens densas e escuras, formando uma madrugada ainda mais sombria e fúnebre que todas as anteriores a essa. Não era apenas o céu que tornava aquela sensação mais intensa, mas todo o conjunto. Os esparramados nos chão gélido entre destroços da estrutura da construção antiga que era Hogwarts, o solo umedecido por fluidos corporais de tantos que estavam ali presente lutando com tanto afinco. Suor, sangue e lágrimas de pessoas boas que não mereciam estar passando por tal situação. Uns mortos e outros tão perto disso.

O cheiro da morte pairava no ar como uma brisa fria de inverno, acariciando a superfície da pele suavemente, deixando a sensação da lâmina afiada da foice roçando ali, fazendo seu coração quase parar. Talvez aquilo fosse o aviso que a safra de vidas do local já havia sido colhida, ou, pelo menos, boa parte dela. Ele sabia que ainda faltavam algumas em meio aos que sobreviveram a primeira remeça, logo a segunda começaria com tanto fervor quanto a anterior. O ceifeiro deveria estar feliz pela colheita que havia sido designado para aqueles dois dias.

O estalo dos galhos secos se partindo ao serem pisados era desesperados, deixando mais real o cenário pavoroso. Um gosto amargo crescia em sua boca conforme se aproximava de Hogwarts, sua fachada em ruínas, destruída por horas de batalha incessante; o local vazio preenchido apenas pelo ar denso que permanecera ali após a luta, impregnado pelo o que ela deixara para trás: morte e destruição. A mente do garoto estava um grande vazio, as lágrimas ainda manchavam seu rosto alvo, mantendo a vermelhidão em contraste com todo o resto, contudo, não era apenas aquele vermelho que o manchava, mas o sangue de Snape também se fazia presente, marcando suas vestes e suas mãos. Diferente da marca de lágrimas em seu rosto, o sangue não sumiria, nem mesmo após a coloração rubra desaparecer depois de lavada, pois as marcas estavam em sua alma.

Um longo e pesado suspiro saiu de seus lábios, transformando-se em fumaça branca ao tocar o ar gélido da madrugada, e aos poucos desapareceu misturando-se com as trevas que o rodeava.

“Vocês lutaram valorosamente.” – disse a voz aguda do bruxo das trevas, arrepiando cada pelo de seu corpo. – “Lorde Voldemort sabe reconhecer bravura, mas se continuarem assim, resistindo a mim desta maneira, todos cairão mortos, um a um. Não gostaria que isso acontecesse, não, afinal, cada gota de sangue mágico derramado é uma perda terrível, um grande desperdício. Ordenei que minhas forças se retirassem para dar-lhes tempo. Lorde Voldemort é misericordioso. Uma hora, esse é o tempo que lhes dou. Cuidem de seus feridos. Deem um final digno para seus mortos. Uma hora.”

O corpo de Draco estremeceu por completo ao final do anuncio. A voz do bruxo parecia ainda mais sombria quando não o via falando, pronunciando cada palavra pela boca de aparência ofídica. Seus olhos vacilaram ao vasculhar o ambiente a seu redor compreendendo o motivo do vazio na parte externa do castelo: possivelmente entraram no momento em que os comensais recuaram sem prévio aviso, talvez chegando à conclusão que estavam com medo.

Sua mente ainda atordoada buscava traçar algum tipo de plano. Não poderia entrar no local estando visível, ainda mais levando em conta que todos os comensais haviam recuado e eles sabiam que ele era um dos homens de Voldemort – bom, quase um -, aquilo seria um pedido de morte certa. No estado em que estava não conseguiria fazer muita coisa, principalmente conjurar um feitiço desilusório por um tempo considerável, o estado de exaustão mental que estava não permitiria. Precisava descansar, era necessário recuperar forças para conseguir fazer qualquer coisa. Seu corpo desmoronou aos pés de uma grande árvore quase sem vida ao chegar a esta conclusão, recostou-se solo macio pelo gramado, a terra fofa e no tronco escuro. Seus olhos se fecharam e seu pensamento viajou longe, encontrando com Harry, imaginando quais eram as memórias que Snape havia colocado naquelas lágrimas que o dera.

O ambiente escuro escondia a face desgostosa de Granger, com a cabeça a mil enquanto tentava se manter concentrada unicamente em Severus, que estava com a cabeça sobre seu colo enquanto terminava de ministrar alguns feitiços de cura, atuando juntamente com a essência de Ditamno e sempre verificando seu pulso, tendo a certeza de sua vida.

Através de minhas escolhas - DRAMIONEWhere stories live. Discover now