Garrafa de náufrago

Defesa da democracia ou autopreservação?

          Seria com prazer que observaria a rigidez das sanções aplicadas ao deputado federal que criticou o STF. Digo "seria" caso essa mesma rigidez fosse percebida em situações realmente  dignas de medidas duras e punitivas. Falar o que se pensa é permitido dependendo de contra quem se fala. Infelizmente,  no Brasil, a diferença entre crítica e ataque reside no poder exercido pelo alvo. Ficar indignado com decisões de instituições como o STF ou o Congresso Nacional faz de mim um criminoso? Embora teoricamente seus agentes representem a democracia, eles não são a democracia!
          Deputado, policial, musculoso, arrogante, agressivo são informações que só ajudam a compor a figura de alguém costumeiramente associado ao abuso de poder e emprego da força. Tais atributos formariam apenas um estereótipo se não considerássemos suas falas como as de emagrecimento do AI-5, por exemplo. Condenar sua prisão não deve ser confundido com abonar sua conduta é posicionamento em outras situações. Até porque a ditadura, apresentada pelo deputado como alternativa que supriria a ausência das instituições democráticas, é mais nefasta que o arremedo de democracia que conhecemos.
          Criticar a democracia não é o mesmo que apoiar a ditadura. Entenda-se também que a crítica deste texto não se direciona ao sistema democrático em si, mas sim a esta democracia corrompida, que serve de pretexto para os desmandos dos que deveriam protegê -la. Como exterminar um câncer sem matar o doente? Tentativas recentes do baixo-clero do judiciário, como as " dez medidas contra a corrupção" foram vergonhosamente destruídas, na calada da noite, por deputados com o aval da alta cúpula do judiciário. O episódio da prisão em questão poderia parecer uma cooperação mútua entre os poderes. Digo " poderia" não fosse o fisiologismo político na relação entre o legislativo e o judiciário que se evidencia quando seus agentes se sentem ameaçados.